Bife, marisco e petisco: a cervejaria Trindade, em Lisboa, renovou-se sem perder a essência

A Sala Maria Keill tem painéis artísticos em destaque. (Fotografia: DR)
A Trindade foi renovada estetica e gastronomicamente, mas o menu continua assente na trilogia bife, marisco e petisco. Um espaço que antes mesmo de produzir cerveja foi convento, sobreviveu a um terramoto e a dois incêndios.

É atribulada a história do Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos da Redenção dos Cativos, concluído no século XIII. No início do século XVIII foi destruído por um incêndio, tendo-se salvado a livraria. No entanto, o terramoto que sacudiu Lisboa em 1755 destruiu tudo. Seguiu-se a reconstrução, e em 1834 deixou de ser convento, aquando da extinção das ordens religiosas em Portugal.

Em 1835, o industrial de origem galega Manoel Garcia comprou-o para ali fundar a primeira fábrica de cerveja do país, abrindo logo depois a primeira cervejaria, que à época mantinha o claustro original. As duas primeiras salas foram decoradas, por volta de 1860, com painéis de azulejos Viúva Lamego com inspiração maçónica, representando os quatro elementos, as estações do ano, o comércio e a indústria.

Já a grande sala ao fundo, em tempos a igreja do convento, continua a exibir os painéis modernistas da artista plástica Maria Keil inspirados na natureza; e a sala dos arcos é hoje o que restou do claustro original. Para Ana Costa, arquiteta que assinou o projeto de renovação, intervir na Trindade, no sentido de a atualizar sem desvirtuar, foi um “exercício de humildade” e “de respeito pela sua história”.

Quem entrar no histórico restaurante verá, com efeito, as abóbadas outrora tapadas por tetos falsos e as cantarias, frescos e azulejos restaurados até ao ínfimo detalhe. O espaço divide-se agora entre o Átrio, o Refeitório (estilo cervejaria, com balcão de marisco), a Sala Maria Keill, o claustro e o pátio, e tem uma carta estruturada entre petiscaria e restaurante – assente na famosa trindade “bife, marisco e petisco”.

O chef Alexandre Silva (1* Michelin) revisitou o menu na mesma lógica subjacente à renovação estética, procurando atualizar apenas as receitas. O tão afamado bife do lombo ou da vazia à Trindade mantém-se, por isso, na carta, com molho apurado, e o brás de bacalhau confitado também, envolto em ovo, batata frita caseira, salsa e azeitonas. Já os amantes de marisco têm três mariscadas disponíveis no menu.

Por outro lado, há novidades que casam bem com o ambiente de cervejaria, como por exemplo cataplana de peixe e marisco, paleta de borrego e polvo assado no carvão com batatinha a murro. Enquanto as cervejas artesanais Trindade enchem o copo, disponíveis em três estilos diferentes, há que provar ainda as sobremesas feitas com cerveja, como o guloso pudim com citrinos e o gelado de cerveja.

Os pormenores artísticos, o contexto histórico, a equipa de muitas gerações e a cozinha portuguesa da Trindade fazem dela um “monumento gastronómico de Lisboa”, nas palavras de Francisco Carvalho Martins, administrador do Grupo Portugália Restauração, a que a cervejaria pertence desde 2007. Entrar nela, mais do que comer bem, é visitar um museu vivo com quase 200 anos de legado.

 

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