Nasceu em frente à Praça de Touros do Campo Pequenos e em criança quis ser toureiro, mas a maré trouxe outras paixões para a vida de Miguel Reino, chef do Aqui Há Peixe que desde sempre teve no mar a sua bússola, seja a cozinhar, seja a velejar. Com apenas 16 anos, começou a trabalhar no restaurante de um tio e nunca mais parou, somando um percurso de quatro décadas sempre ligado aos produtos do mar.
A longa experiência não é, contudo, confundida com conformismo, continuando apaixonado pelo produto que a nossa costa oferece. Um privilégio que também “é uma responsabilidade”, explica o chef de 62 anos. “Todos os peixes são diferentes na grelha, até dentro da mesma espécie. A temperatura, o tempo de viragem, tudo. Isto não é chapa cinco. O desafio é esse. E eu sou uma pessoa de desafios, não sou acomodado”, adianta.
O currículo assim o mostra. Abriu o seu próprio restaurante no Brasil, com apenas 23 anos, o Adamastor, em Búzios. De volta a Portugal, trabalha com o irmão Gigi na Quinta do Lago e no Flor da Vázea, em Sintra, abrindo depois o Picanha em Lisboa, nas Janelas Verdes. A casa que hoje comanda, o Aqui Há Peixe, chegou nos anos 1990, a primeira década na Praia do Pego, no Carvalhal, depois teve uma curta passagem pela algarvia Praia da Falésia e, nos últimos 15 anos, fixou-se no Chiado, num edifício da Lisboa Pombalina.
Ao todo, são 27 anos de Aqui Há Peixe, alimentados pelo respeito por um produto fresco, fruto de uma relação próxima com fornecedores de confiança, e que se manifesta em visitas frequentes a mercados. Aqui ou lá fora. “Em qualquer viagem que faço, a qualquer cidade ou país, vou sempre aos mercados. Gosto de ver no que se está a trabalhar, nas carnes, nos peixes, nos mariscos, nos legumes. Desde pequenino que é assim”, conta Miguel.
Especialidades como a picanha de tamboril com arroz de cenoura e grelos a vapor (28 euros) ou o spaghetti de carabineiros (102 euros, para dois) são pratos que sempre fizeram parte do ADN e da carta do Aqui Há Peixe, mas há muito mais para provar na casa do Chiado. Casos das lulinhas salteadas com alhinho e coentros (15 euros); das amêijoas à Bulhão Pato (21,50 euros); do arroz negro de choco com maionese de açafrão (22 euros); ou da massa do mar com vieiras e gambas (24 euros), que leva um molho de tomate que apura por várias horas.
O bacalhau assado com batata a murro, a cataplana da casa e o peixe do dia na grelha – no caso da nossa visita foi pampo, “um peixe que pouca gente usa” – com legumes verdes a vapor e batata assada são outros reforços de uma carta onde não existe carne, e onde cabem ainda pratos do dia “segundo a inspiração do chef”.
Já as despedidas, ficam a cargo de Mafalda Reino, mulher de Miguel e braço-direito a gerir esta casa. É ela a autora das sobremesas, algumas das quais são uma homenagem às receitas doces da avó materna. Neste campo, escolhe-se entre encharcada de ovos, bolo de chocolate, mousse de maracujá, toucinho do céu, figos em calda com folhas de hortelã e alguns gelados. De referir ainda a carta de vinhos, que junta cerca de 50 referências nacionais, entre as quais o vinho Aqui Há Peixe, feito para esta casa em exclusivo e parceria com a Casa Santos Lima.
O resultado de toda esta equação é um publico fidelizado, já desde os tempos dos areais no Carvalhal. “As pessoas voltam com água na boca”, explica Miguel Reino, sobre os clássicos da carta que nunca saíram desde o início. Ao fim destes anos todos, remata: “O prazer de cozinhar e de receber é a minha paixão, o meu estímulo, o meu incentivo”.
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