Aos 60 anos, o lisboeta Snob Bar mantém a boémia de sempre (e o famoso bife)

Albino Oliveira passou o testemunho ao empresário Miguel Garcia - autor da muito elogiada revitalização do Café de São Bento -, e o Snob Bar reabriu como novo, do alto dos seus 60 anos. Boémio e semi-secreto, conjuga agora os pratos de sempre com cocktails clássicos.

Com 70 e muitos anos a pesarem-lhe nos ombros – demais, provavelmente, para fazer face ao esforço de manter um bar e restaurante em funcionamento -, Albino Oliveira precisou apenas de “duas conversas” para chegar a um acordo sobre a venda do Snob Bar a Miguel Garcia. “Tal como no Café de São Bento [adquirido em 2022], aqui não se tratava apenas de vender, havia que dar continuidade ao trabalho da pessoa que se dedicou cinco décadas a este espaço”, diz o empresário do Grupo São Bento que detém, além deste, os restaurantes Bougain e Corleone.

A ponte entre ambos foi feita por um ex-jornalista frequentador habitual do Snob, que Miguel já visitara há muitos anos, sabendo tratar-se de um espaço “único e irrepetível”. Inaugurado a 16 de novembro de 1964 pelo desenhador do jornal O Século, Paulo Guilherme D’Eça Leal, o bar foi comprado por Adriano Oliveira três anos depois, e passou para as mãos do irmão dele, o Sr. Adelino, como respeitosamente é tratado. O país estava ainda sob a ditadura, mas os artistas, políticos, intelectuais e jornalistas que o frequentavam tornaram-no um reduto de liberdade.

(Fotografia de Guilherme Ornelas)

(Fotografia de Guilherme Ornelas)

Após os turnos nas redações de jornais que se concentravam, sobretudo, no Bairro Alto, muitos jornalistas “sentavam-se, e ainda se sentam, na mesa 10, à entrada, de onde conseguiam ver quem entrava e quem saía”, revela Miguel Garcia. Com o tempo, o Snob Bar tornou-se uma espécie de “agência de notícias” informal, de onde chegaram a sair “decisões a nível nacional”, afiança, tópicos de debate e novidades que moldaram a política e cultura dos últimos 60 anos. Vários ministros e presidentes da República sentaram-se nos seus sofás de couro verde-seco.

Sabendo que manter a iconografia do Snob ao invés de fundar algo novo estaria mais “exposto à crítica”, o dono do Grupo São Bento mais não fez do que recuperar o interior do restaurante na medida do necessário: renovou os estofos dos sofás, os tampos das mesas e os pés de madeira originais, a alcatifa e a iluminação. Mantiveram-se os candeeiros de latão e foi colocado um espelho para conferir maior profundidade à segunda sala. Nas paredes, são de admirar os recortes de imprensa nacional com frases elogiosas, devidamente emoldurados.

(Fotografia de Guilherme Ornelas)

(Fotografia de Guilherme Ornelas)

No menu, perduram também os clássicos que tornaram o restaurante uma referência: o bife à Snob (do lombo ou da vazia, com molho à base de natas, batatas fritas ao momento e um ovo estrelado “a cavalo”), o bacalhau à Brás, os croquetes de novilho com mostarda e a mousse de manga que leva “um ingrediente secreto”. Quem preferir uma alternativa mais leve encontra os não menos famosos pregos (incluindo um da vazia com gambas salteadas) e uma omolete com gambas. “De resto, mantivemos os preços praticados antes da renovação”, acrescenta Miguel.

Ampliada foi a oferta de bar, com o intuito de levar os clientes numa viagem pelos speakeasies da década de 1920 e pela história da coquetelaria em geral. A aposta de Manuel Frazão, chef de bar, foi nos uísques de mais de 60 variedades, de todo o mundo, para beber com ou sem gelo; e nos clássicos a partir de rum, gin, conhaque, tequila e outros destilados, como o Dry Martini e o Cosmopolitan. Formas sofisticadas de hidratar a garganta durante as conversas tidas a meia-luz, naquele que se tornou, e continuará a ser, um dos mais emblemáticos bares.

(Fotografia de Guilherme Ornelas)

 

Snob Bar
Rua de O Século, 178
Tel.: 926459164
Web: www.snob.pt
Das 19h às 02h (cozinha encerra às 01h e funciona como bar a partir das 23h). Não encerra.
Preço médio: 30 euros



Ler mais







Send this to friend