Alfredo Pimenta, criador do bolo Magalhães: “Foi um sucesso espetacular”

Alfredo Pimenta, criador do bolo Magalhães: “Foi um sucesso espetacular”
Alfredo Pimenta, da Pastelaria Liz. (Foto: Rui Manuel Fonseca/GI)
Nascido numa família de pasteleiros, não é de estranhar que aos dez anos já fizesse bicos de pato e bolas de Berlim. Natural de Vila Verde, o pasteleiro Alfredo Pimenta comanda uma das casas mais concorridas em Ponte da Barca, a Pastelaria Liz, que soma cinco décadas. É aqui que se faz o famoso bolo Magalhães, que Pimenta criou com base no mel e noz. Chegou a vender meia centena num dia.

Assinalam-se agora os 500 anos da morte de Fernão de Magalhães, cuja origem se atribui a Ponte da Barca. Como surgiu este bolo Magalhães, com massa folhada em forma de nau, que criou há uma década?

A ideia já tinha 20 anos, mas fui incentivado por um amigo, o poeta Manuel Parada, a criar um bolo em homenagem ao nosso navegador. Queria fazer algo que desse para levar para fora, que aguentasse oito dias sem perder qualidade. Este leva gema de ovo, açúcar, farinha, mel e nozes, porque aqui há muitas.

Como foi a reação na altura?

O Magalhães foi um sucesso espetacular, ainda hoje é. No dia em que o lancei, vieram televisões, eu nem consegui almoçar. Vinha espreitar à porta e eram filas de gente. Vendia 500, 400, 300 unidades num dia. Hoje é mais instável, posso vender dez ou 100 num dia.

Como é um dia normal na sua rotina de pasteleiro?

Começo na fábrica pelas quatro, cinco da manhã, depois almoço, faço uma sesta e volto para a pastelaria à tarde, até à noite. Todos os dias. Desde que chegou a pandemia, nunca fechei a porta e digo-o com orgulho. O prestígio não se compra, conquista-se. Penso: «vou fechar hoje para ir para casa?» Não nasci para isso.

Entrou na pastelaria com 10 anos, há mais de cinco décadas, na pastelaria Luena, em Vila Verde, onde nasceu. Ainda se lembra desses primeiros tempos?

Sim. O meu primeiro ordenado foram 300 escudos, um euro e meio hoje em dia. O meu neto diz: «Ó avô, não pode ser, isso custa um gelado» [risos]. Éramos sete empregados, e eu, como mais novo, era o soldado raso, varria chão, limpava tabuleiros e lavava a loiça. Só depois comecei a meter as mãos na massa. A primeira coisa que fiz foram bolas de Berlim e bicos de pato, enquanto a equipa fazia massa brioche.

Alfredo Pimenta lidera a Pastelaria Liz, em Ponte da Barca. (Foto: Rui Manuel Fonseca/GI)

Lidera a Pastelaria Liz há vários anos e com clientes fixos. Como é que olha para o percurso que tem construído?

Toda a minha vida foi pastelaria. Quando fazemos algo com gosto, é fácil. E depois, a pastelaria é como tudo. Como tirar a carta de condução e não ir para a estrada. Não tem hipótese. Um pasteleiro só ganha experiência a amassar, a provar, a melhorar. Sempre. Ainda hoje altero coisas e tento fazer sempre melhor.

Na Pastelaria Liz, também são famosas as queijadinhas de laranja.

Sim, já se fazem na Liz desde o início, há 40 e tal anos. E até já são conhecidas pelo mundo. O mais longe onde chegaram foi a Timor, levadas até lá por Xanana Gusmão depois de ter passado por esta pastelaria numa visita a Ponte da Barca. Eu prometi-lhe que um dia ia lá ensinar a receita.

Vem de uma família de pasteleiros, com irmãos e tios nesta área. Algum dos seus filhos vai seguir-lhe as pegadas?

Nenhum quis seguir a pastelaria mas vou querer passar o negócio a alguém. Quando o fizer, vou estar aqui durante mais um ano, ao corrente de tudo para ter a certeza que a qualidade se mantém. Senão, não vou ficar satisfeito.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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