“À Mesa com Júlio Dinis” com pitéu de raia, arroz de sardinhas e iscas de bacalhau em Ovar

"À Mesa com Júlio Dinis". (Fotografia: DR)
Roteiro gastronómico inspirado no escritor, seus registos gastronómicos e sua época, apresenta entradas, pratos de carne e de peixe, sobremesas. Chef Luís Lavrador recriou 18 ementas disponíveis em oito restaurantes de 10 a 14 de novembro.

A segunda edição do roteiro gastronómico “À Mesa com Júlio Dinis” tem as receitas alinhadas, organizadas e devidamente testadas em workshops de preparação. São 18 ementas inspiradas no escritor, que chegou a viver na então vila de Ovar, que partem das suas vivências e apontamentos gastronómicos, descrições de pratos, sobretudo na obra “As Pupilas do Senhor Reitor”, e do seu tempo também. De 10 a 14 de novembro, em oito restaurantes ovarenses, com o toque e saber do chef Luís Lavrador, propõe-se uma viagem de papilas gustativas apuradas ao almoço e ao jantar.

São cinco dias a saborear a época dinisiana do autor de “A Morgadinha dos Canaviais”, “Uma Família Inglesa”, “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, entre outras obras. Resgatam-se receitas de pratos de meados até ao fim do século XIX que brilham à mesa. Broa frita com bacalhau cru, cebolada e azeitonas é uma das entradas do cardápio. Enguias fritas em molho de escabeche, caldeirada de peixe, acém de vitela no forno com arroz açafroado e papas de cabaça menina, chambão assado, galinha guisada com batatas e ervilhas, arroz de sardinhas, iscas de bacalhau douradas com migas, pitéu de raia, pernil crocante, são alguns dos pratos recriados com respeito pelas propriedades e capacidades dos ingredientes, pela agricultura doméstica, pelos sabores caseiros, pelo que sai do nosso mar, do mar vareiro. O tão afamado pão de ló de Ovar fecha a refeição ou maçãs assadas com merengue ou então patelas de broa de milho e papas de cabaça menina ou ainda tarte de maçã crocante. Ou de tudo um pouco.

O arroz de sardinhas é um dos pratos desta iniciativa. (Fotografias: DR)

O chef Luís Lavrador é o homem do leme deste percurso por sabores e memórias através de receitas genuínas cozinhadas com produtos da terra. Estudou os pratos, recriou-os em workshops e ações de formação para transmitir modelos de confeção aos que vão cozinhar. “A mesa de Júlio Dinis é saborosa, muito rica, copiosa e recôndita”, garante o chef. A segunda edição apresenta um menu de degustação mais alargado e abrangente focado na obra, mas também na época do escritor, na qual abundam pratos de peixe. “Não saindo do que é o registo da época, a ideia é fazer uma viagem e experienciar, vivenciar a mesa de Júlio Dinis hoje, sentando-se à mesa com o escritor e ir provando, saboreando, partilhando e convivendo – tudo aquilo que a mesa convoca”, refere.

Há uma história até aqui chegar. Luís Lavrador recorda o início de tudo e o caminho feito. Há uns anos, a Confraria Gastronómica de Ovar fez uma recolha dos registos gastronómicos na obra de Júlio Dinis. “Citações, ocorrências gastronómicas. Júlio Dinis falava de pratos de uma forma muito bonita, sem receitas, naturalmente.” E assim nascia o livro “À Mesa com Júlio Dinis.” No ano passado, Luís Lavrador, estudioso e interessado nestes assuntos, foi convidado para pôr mãos à obra. “Fazer a reconstituição de algumas receitas do livro ‘As Pupilas do Senhor Reitor’”. Surgia então a primeira edição do roteiro gastronómico “À Mesa com Júlio Dinis”. E, agora, a segunda de 10 a 14 de novembro.

Nas sobremesas do roteiro gastronómico, a tarte de maçã crocante é um dos destaques.

Experiências singulares sem desvirtuar sabores, alimentos, produtos, técnicas culinárias, modos de preparar e de servir. É o que se pretende. As ementas estão à mesa de oito restaurantes: Bar do Centro de Arte de Ovar, Ó Chico, O Gordo – Bife & Coisas, PATE’O Lounge & Restaurant, Praça dos Chopinhos, Toca – Restaurante & Tapas, Pote Restaurante em Válega e Restaurante Dom Henrique em Arada.

Uns apartes nada supérfluos. O pai de Júlio Dinis, médico-cirurgião, era de Ovar. O escritor passava temporadas na terra natal do pai depois de lhe diagnosticaram tuberculose. Precisava de deixar os ares mais densos e abafados do Porto para respirar a aragem fresca e marítima de Ovar. E a casa de família, onde permanecia durante essas estadas, é agora a Casa-Museu de Júlio Dinis, preservada com a típica configuração de meados do século XIX e repleta de memórias. Onde o escritor se inspirou para várias obras e onde escreveu o conto “O Canto da Sereia”.




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