A longa vida de um pastel de massa finíssima, em Tentúgal

Pastéis de Tentúgal, da Pastelaria Afonso, acabados de sair do forno. (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)
A arte secular da produção dos pastéis de Tentúgal e a história das mulheres que o criaram fica a conhecer-se numa visita à pastelaria Afonso. Aqui, vê-se como as pasteleiras esticam com perícia a massa. Depois, ruma-se ao convento onde tudo começou.

A pastelaria Afonso é a casa mais antiga de pastéis de Tentúgal sempre na mesma família”, diz Olga Cavaleiro, filha de Natália, a mais antiga pasteleira da região. A marca foi criada há 60 anos e há 46 que está no sítio atual. Para divulgar este bem gastronómico da região, Olga decidiu, em 2007, abrir a porta da unidade de produção onde todos os dias é confeccionada a famosa massa.

“Em vez das pessoas passarem aqui dez minutos a tomar um café e a comer um pastel, achei que era interessante conhecerem a história do pastel e toda a cultura associada, por isso começámos a fazer estas visitas. Os primeiros tempos foram loucos, as pessoas adoraram”, conta Olga, que cresceu entre pastéis. Estes moldaram-lhe o gosto e o interesse pela gastronomia. Hoje, é investigadora e professora na área e elabora projetos de turismo gastronómico um pouco por todo o país.

Olga Cavaleiro (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

A sua mãe, Natália Cavaleiro, com 80 anos, aprendeu a fazer os pastéis aos 12, “com a senhora Conceição, familiar de uma pessoa que saiu do Convento Nossa Senhora do Carmo”, onde há vários séculos se confecionava o pastel e que, depois daquele encerrado, em finais do século XIX, manteve viva a tradição.

Para complementar a visita à unidade de produção, mesmo por trás da cafetaria, Olga Cavaleiro guia os interessados por uma visita por Tentúgal, principalmente para dar a conhecer o convento onde nasceram os pastéis e as histórias das freiras que o desenvolveram. “Queremos sobretudo dar a conhecer o conteúdo humano que o pastel sempre teve”, refere. l

Tentúgal à lupa

Esticar a massa
Antes de entrarem na sala de produção, os visitantes colocam uma touca e proteção para os sapatos. Depois, é ver as talentosas pasteleiras a esticar o “bolo”, massa feita apenas de farinha e água, pouco a pouco, até este ficar com 30 metros quadrados e 0,05 milímetros de espessura. Um trabalho de paciência, engenho e muita prática. Cada “bolo” dá origem a 120 folhas e todos os dias são esticados 14.

Esticar a massa (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

Rechear o pastel com doce de ovos
Já na cozinha, os visitantes são convidados a rechear o pastel com o creme de ovos e a enrolá-lo seguindo determinadas técnicas. “O doce de ovos já era conhecido em vários conventos”, explica Olga Cavaleiro. “No de Nossa Senhora do Carmo, onde se criou o pastel, as freiras tinham acesso a ovos, por via das rendas, e a açúcar, até porque este era importante para a produção de mezinhas.”

Enrolar o pastel (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

Convento de Nossa Senhora do Carmo
É no centro de Tentúgal que se encontra o convento onde nasceram os pastéis. Foi mandado construir em 1565 pelos homens influentes da região. “Havia muitas famílias ricas aqui, e muitas raparigas dessas famílias não conseguiam encontrar um casamento adequado à condição social.” O convento serviu para receber essas “mulheres desamparadas”, como eram chamadas. Acabou por encerrar no final do século XIX e abre agora para visitas orientadas. O dinheiro das visitas, 1 euro, é para ajudar no restauro e conservação do mesmo. “Com esse dinheiro, já conseguimos restaurar a torre sineira”, conta Olga Cavaleiro.

O convento onde nasceu o pastel (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

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