Crítica de restaurante: Terraço by Rui Paula, Lisboa

É uma das mais belas evocações que se pode fazer da Lisboa de outrora e um dos grandes promontórios gastronómicos da capital. O Terraço do Tivoli está nas mãos do biónico e estrelado chef Rui Paula, e está bem.

Chego ao último andar do Tivoli para jantar no Terraço by Rui Paula e constato que não me lembro da primeira vez que fiz uma refeição ali nem de há quanto tempo conheço o chef Rui Paula. O carré de borrego assado e o peixe assado no forno, memórias vivas de há quase três décadas, faziam sentir que o tempo podia parar, o que veio mesmo a acontecer. O velho Cepa Torta, em Alijó e o cabrito assado eram há 18 anos motivo mais que suficiente para fazer a viagem. A estrela veio a pousar na bonita Casa de Chá da Boa Nova, em Leça mas podia ter ficado no DOC, em cima do Douro, ou no DOP, no coração da Invicta.

Inesquecível a inauguração do DOP, em 2007, com Rui Paula a correr todos os riscos ao servir muitas dezenas de pessoas à carta; ninguém faz isso. Mas não entende o cozinheiro com sorriso de menino quem não percebe que ele só está bem na linha da frente, na zona de transição para nenhures. Assumir o Terraço implicava sempre criar a onda e viajar nela. O homem do Douro deixou-se impregnar de luz, Tejo e pedra e criou caminhos de sabor e texturas que, embora baseados no seu extenso arsenal de pratos, exploram linhas novas. Nos referenciais seguros, damos com a entrada de garoupa, maracujá e vinagreta asiática (17 euros) que me fez procurar com o olhar o chef, que cirandava pelas mesas como adora fazer. Combinação feliz e ligeira. A vieira, couve-flor e molho de ostra (19 euros) são valsa marítima em que o chef gosta de nos embalar, o ceviche de robalo com batata doce (17 euros) a frescura e o toque de fusão da etapa inicial.

Nos pratos principais, fui à procura do que mais se assemelhasse ao peixe assado dos tempos antigos e o pargo, língua de vitela e molho de lagostim (29 euros). Há que dizer que esse-outro era um assado simples e direto, este é um vigoroso triproteína que exige concentração no momento da exploração. Há que dar-lhe tempo e magnanimidade, mas nada a dizer quanto a harmonia e pontes de sabor neste prato colossal. A senda carnívora procurando vestígios da sela de borrego teve a sua resposta no carré de cordeiro com puré de queijo de cabra (30 euros). Este limpou totalmente o registo fantasia da solução antiga, configurando delícia que se quer repetir. O abade de priscos em boa companhia (15 euros) é a doce terminação que se impõe, está do gosto de toda a gente e não dececiona. Haveria talvez que o assumir tal como ele é, sendo que só o poderia pedir quem é robusto e de boa fibra, mas isso é regra universal.

Ao regressar para baixo, nem uma centelha das diversas dúvidas que surgiram no trajeto ascensional e a certeza de ter feito a minha melhor refeição no Terraço do Tivoli. Obrigado, chef Rui Paula.

 

Classificação
O espaço: 5
O serviço: 4
A comida: 5


A refeição ideal

Signature Menu (90 euros)

Ceviche de robalo com batata doce
Carpaccio de polvo e romã
Ovo a baixa temperatura, espargos verdes, presunto e morcela
Pargo, língua de vitela e molho de lagostim
Lombinho de novilho, isca de foie, puré de batata fumado e cou glaceada
Sopa de ginja com gelado de iogurte e lima

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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