3 boas francesinhas para descobrir no centro

As propostas d' A Adega das Francesinhas, em Leiria. Fotografia: Rui Miguel Pedrosa/GI
Francesinhas feitas à maneira tradicional, mas também em novas versões, contendo desde bacalhau até morcela de arroz. Eis algumas propostas a provar em Aveiro, Coimbra e Leiria, na companhia da habitual cerveja, ou mesmo de vinhos.

Cervejaria Alicarius | Aveiro

Sucesso já leva bacalhau

Três vezes por semana, Tiago Silva madruga para estar às seis da manhã no restaurante e fazer sozinho o molho segredo das francesinhas que dão vida ao Alicarius. Até ao meio dia, num tacho de 160 litros, que teve de mandar vir de Espanha, junta os ingredientes com a precisão química para que nada mude na história de sucesso. O molho vai estar um dia e meio em repouso, só depois vai cobrir as 13 francesinhas que fazem o menu da cervejaria de Aveiro, que no próximo ano vai, também, abrir no centro de Lisboa.

O “desde 1999” é bem visível na parede principal do restaurante. Foi nessa altura que “Tomané” abriu o espaço, na zona da Beira Mar, entre casas, mas perto dos bares que dão vida à noite da cidade. Em 2015, sabendo que o proprietário queria mudar de vida, Tiago e os amigos Filipe Santos e Pedro Francisco decidiram, em 24 horas, negociar o trespasse e mudar de vida. Tiago, um engenheiro civil que gostava de cozinhar, ficou com o molho e sobremesas. Filipe, um engenheiro químico com experiência de gestão de bares e filhos de talhantes da Serra da Estrela, ficou com as carnes e as bebidas. São os sócios gerentes.

Pegaram no espaço de sucesso, remodelado este ano, que funcionava mais como “snack”, transformaram-no em restaurante e reforçaram a aposta nas francesinhas. Ao molho de Tomané fizeram alguns ajustes ao gosto dos novos donos. “O resultado é um molho suave, menos picante que os do Porto”, diz Tiago, que justifica o sucesso com os produtos “totalmente naturais”, desde os legumes comprados no mercado local para o molho, aos enchidos escolhidos a dedo entre várias empresas da região Centro, passando pelo bife da vazia, de Portugal ou da Argentina.

A francesinha Original (bife de vaca, salsicha fresca, linguiça, bacon, fiambre e queijo, com batata frita e ovo) é a que tem mais saída, mas há alternativas, desde a vegetariana à de hambúrguer ou de atum. Mas a mais radical vem aí: a de bacalhau, com lascas do lombo, numa homenagem à região capital do “fiel amigo”. João Paulo Costa

História do nome
O nome vem do latim “alicariu”, aquele que fabrica “alica”, uma bebida preparada com os grãos da espelta (espécie de trigo ou cevada), semelhante à cerveja.

Ovos moles
Ao lado do Alicarius está a loja de Maria da Apresentação da Cruz, uma das mais conhecidas produtoras de ovos moles. Se a ideia for comer e andar, para “moer” a refeição, o Alicarius fica no sítio certo, junto ao canal de S. Roque, onde até há um ginásio a céu aberto.

 

Atenas | Coimbra
O clique que deu certo

O Atenas, em Coimbra, serve vários pratos, mas o que mais brilha é a francesinha, assente em carnes grelhadas na hora, e quase sempre acompanhada por batata frita caseira. Além de pão de forma, queijo e ovo estrelado, a sanduíche é composta por bife de bovino, linguiça, salsicha fresca, fiambre e mortadela, descreve José Quintans, que a integrou na ementa há 17 anos, quando tomou conta do negócio, sem imaginar o fenómeno em que se tornaria.

A casa, fundada em 1962, já era conhecida pela cerveja à pressão, e José queria um complemento bom e diferenciado. Num “clique”, veio-lhe à mente a francesinha, de que ouvia falar, ainda que não costumasse ir ao Porto comê-la, muito menos procurar receitas. E a própria clientela foi ajudando a concretizar a ideia.

O molho surgiu “sem cópia e sem grandes pesquisas”, garante o responsável pelo Atenas. Uns clientes da zona de Matosinhos partilharam com ele uma base que tratou de aprimorar. Foram meses e mesmo anos de aperfeiçoamento, até chegar à francesinha atual, que sai a toda a hora e é versão única. “Não queremos que se torne numa comida plástica, porque tudo o que tem é feito com ingredientes de primeira linha”, conclui. Carina Fonseca

Fotografia: Maria João Gala/GI

Produtos nacionais
A francesinha do Atenas tem por base produtos nacionais e frescos, garante José Quintans. O pão de forma é “tradicional, à antiga”, e foi idealizado por ele e por um padeiro, há 17 anos.

 

Adega das Francesinhas | Leiria
Na mão das mulheres

Antes de partir para essa viagem de sabores explosivos que compõe a francesinha, é preciso respirar fundo, e saborear a entrada. Sim, porque na Adega das Francesinhas tudo começa com uma entrada: a bolinha de alheira envolta em queijo, amêndoa e avelã, com um ligeiro toque de compota de morango. Há muita sensibilidade quando passamos aquela porta de vidro da Rua Gago Coutinho, no centro histórico de Leiria. Talvez não seja alheio o facto de tudo ser feito por mulheres, desde o atendimento à cozinha, embora o mentor seja um rapaz, Filipe Sousa. E é nele que toda a história começa.

“A francesinha é o meu prato favorito. Quando fui viver para o Porto esperava entrar no paraíso das francesinhas, mas tal não aconteceu, achei sempre a francesinha podia ser melhorada caso lhe dessem a devida atenção”, conta Filipe. É um crítico da forma como o boom turístico no Porto e a consequente multiplicação de locais a servir francesinha “não serviu para aprofundar a história, nem para criar nada de novo”. À falta de uma “receita oficial” para o molho, e sabendo que “uma francesinha representa um desafio para muitos chefes, porque é difícil conseguir harmonizar os paladares de todos os ingredientes; ou temos um molho demasiado forte, ou carnes menos nobres”, Filipe Sousa quis deixar a sua pegada: criou uma francesinha no restaurante onde trabalhava, no Porto. Um ano depois, recebia de uma das confrarias locais a condecoração de melhor francesinha do país.

De modo que, quando regressou a Leiria, em 2017, não teve dúvidas do caminho que queria trilhar na restauração. Concentrou-se na francesinha tradicional, mas rapidamente criou variações. Na prioridade que já dava aos produtos locais, incluiu uma iguaria da região que faz as delícias de quem lá vai – a morcela de arroz, juntando-a na “francesinha à Adega”. Acrescenta à lista uma variedade que vai desde a francesinha de bacalhau à vegetariana. E guarda para o final da refeição a francesinha de chocolate, um bolo húmido intercalado com creme de natas e rematado com frutos vermelhos. Paula Sofia Luz

Vinho substitui cerveja
Um ror de anos a fazer francesinhas deixou várias certezas a Filipe Sousa. Uma delas é que muita gente prefere acompanhar o prato com vinho, em vez de cerveja. Quando abriu o espaço em Leiria, quis apostar também nesse campo. O teto é bom exemplo dessa importância, decorado com pipos de vinho.

A praça ali tão perto
A Adega das Francesinhas encontra-se entre a icónica Rua Direita (Barão de Viamonte) e a Praça Rodrigues Lobo. Vale a pena um passeio por toda a zona histórica, mas o conjunto de esplanadas que ladeiam a estátua do poeta Francisco Rodrigues Lobo é apetecível. De qualquer parte se avista o Castelo de Leiria.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 




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