Porto: Há muita vida fora da bolha do centro turístico

porto cronica dora mota A1 Lisboa-Porto
É fora da bolha turística que continua a correr, ainda nutrido, o sangue quente desta cidade que tem o coração na boca e uma saudável ironia, ao mesmo tempo cáustica e condoída.

O centro histórico do Porto é tomado pelo todo do Porto demasiadas vezes. Tantas vezes que se tornou praticamente a síntese oficial da cidade que se vende como uma marca ao estrangeiro: é a Baixa e a zona ribeirinha, com o drone do postal animado a sobrevoar depois o rio até à Foz e ao mar. E contudo, de fora fica tanto – diria até, com a turistificação da Baixa, tão galopante que tem causado atordoamento, que fica de fora quase tudo.

Felizmente para todos nós que gostamos do Porto como de uma pessoa da família com um feitio rabugento, mas um humor e uma beleza de alma que nos faz amá-la sem condições e com elástica ternura, é possível olhá-lo além dessa prateleira de supermercado turístico. É nessa bolha de contornos artificiais de parque de diversões sofisticado que cabe tudo quanto nos entristece e arrepia. E é fora dela que continua a correr, ainda nutrido, o sangue quente desta cidade que tem o coração na boca, uma sofrida vocação para amparar golpes e más sortes, e uma saudável ironia, ao mesmo tempo cáustica e condoída.

Há dias um nativo da Ribeira exprimia com muito vernáculo e aquela encaracolada e ampla pronúncia tripeira a sua revolta por lhe cobrarem, num café da zona, o cimbalino a um preço proibitivo. «Oube lá, mas o meu sotaque está-te a cair pró alemon?», perguntou ao empregado. Ignorou ameaças de polícia e saiu pela porta grande: «E depois mandei-o p’ró c**, pra ele ter a certeza que eu sou do Puorto». E uma pessoa fica sem saber se há de rir muito ou chorar, mas nunca mais se esquece deste tripeiro e de outros da sua fibra.

Fora do Porto-marca que se vende no supermercado turístico, ainda há café a cinquenta cêntimos, e muitos lugares onde os portuenses vivem a sua vida como se nada fosse. Da Boavista a Campanhã, pelo Bonjardim e São Bento, no Carvalhido e em Paranhos. Nossa Senhora da Vandoma os guarde.

 

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