As cidades têm identidades próprias, características próprias, vivências próprias. A essas personalidades contribuem vários factores, incluindo a geografia, a orografia, a geologia… E a de Lisboa é marcada pela sua pedra dominante: o lioz. Uma pedra calcária rara que existe nesta região e que se formou arrefecendo junto à superfície, ao contrário das pedras graníticas, que se formaram na profundidade do solo.
É ela que dá luz a Lisboa. É a pedra do Mosteiro dos Jerónimos, é a pedra das calçadas, das esquinas dos prédios, dos interiores descascados de lojas e de cafés… É esta pedra que reflete o sol e a luz deste é refletido no Tejo. E Lisboa ganha alma, garanto-vos eu que sou ateu. Porque a alma de Lisboa não é palpável, mas é visível. E eu creio no que vejo, seja descendo o Chiado, seja subindo a Avenida. É esta pedra superficial, porque se formou à superfície, que talvez lhe dê um carácter frágil. É por isso que cada intervenção nesta cidade deve ser feita com pinças e ponderação. Mexer pode ser estragar. Lisboa não aguenta tudo e muito menos de qualquer maneira.
E estas coisas só são entendidas quando se respira a cidade, quando se vive a cidade, quando se ama profundamente a cidade. Porque a nossa polis é para ser amada. Ela nunca nos trai. São os que mandam, vivem e trabalham nela que a traem. E no caso de Lisboa é mais grave. Porquê? Porque Lisboa é frágil, como a pedra lioz. Porque Lisboa é mulher. O fado do Carlos do Carmo ensinou-nos isso.
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