Quando era criança, Catarina Vieira equilibrava-se divertidamente na bicicleta pasteleira do seu avô paterno, Manuel Alves Vieira, enquanto ele pedalava em direção a Vale da Mata, na aldeia de Cortes, em Leiria. Toda a vida agricultor, na esteira dos seus antepassados, Manuel dizia ter cultivado, mesmo ali, o melhor vinho que conhecera – um projeto que a neta, Catarina Vieira, já agrónoma e enóloga, ajudou a recuperar com foco na sustentabilidade e qualidade dos vinhos, ao lado do marido e enólogo Pedro Ribeiro. O tributo está desenhado nos rótulos das garrafas.
Plantadas há 18 anos, os quatro hectares de castas tintas e brancas situam-se nos contrafortes da Serra de Aires e Candeeiros, na zona norte da região vinícola de Lisboa, entre a descida da capela da Senhora do Monte e a nascente do rio Lis. Os solos argilo-calcários dão mais acidez às uvas e o clima mediterrânico com forte influência atlântica origina temperaturas moderadas e noites frescas, propícias a uma maturação equilibrada da fruta, explica o responsável. Já a enologia, com a mínima intervenção, procura que o terroir se expresse naturalmente no vinho.
O resultado pode ser apreciado em três colheitas de 2023, lançadas recentemente no mercado. O Vale da Mata Reserva Tinto 2021 (Touriga Nacional e Tinta Roriz) é a grande novidade e tem “taninos firmes mas sedosos” e “final longo e persistente”, diz a marca. No Vale da Mata Tinto (Tinta Roriz e Touriga Nacional), por sua vez, há “notas florais e de fruta vermelha fresca” e um perfil fresco e gastronómico. O Vale da Mata Branco (Arinto, Vital e Viosinho) apresenta “acidez e mineralidade pronunciadas”. No final do ano foi lançado ainda um pet nat “leve e refrescante”.
O rótulo deste vinho rosé retrata os momentos entre Catarina e o avô com cores e formas mais vibrantes, ao estilo de uma banda-desenhada. A pasteleira, de resto, pode ser vista afixada na entrada do Serra – Espaço Cultural, a associação cultural sem fins lucrativos que desde há seis anos ocupa uma antiga fábrica de curtumes, na Reixida. Através de residências artísticas, mais de 30 artistas de música, artes plásticas e visuais, cerâmica, audiovisuais e um luthier têm teto para desenvolver os seus projetos. Curiosidade: foi aqui que nasceu o grupo musical Silence 4.
Longitude : -8.2245