Rodolfo Tristão: “As pessoas não podem ser afastadas do vinho por termos técnicos”

Rodolfo Tristão (Fotografia: Igor Martins/GI)
Rodolfo Tristão está há 20 anos no mundo dos vinhos, contados desde a altura em que trocou o sonho de futebolista pela Escola de Hotelaria e decidiu tornar-se escanção. Chegou a ir trabalhar para Londres, foi presidente da Associação dos Escanções de Portugal, acumulou prémios e distinções e até setembro passado foi diretor de vinhos do Grupo Avillez. Deixou a restauração para dedicar mais tempo à família e a outros projetos profissionais, como o ensino e a consultadoria. Recentemente lançou o seu segundo livro e iniciou uma parceria com a Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVRTejo). Afinal, além de conceituado sommelier, é um filho da terra - natural do Cartaxo - e grande defensor do potencial dos vinhos da região.

Qual é o maior desafio de um sommelier/escanção?
Eu acho que é continuar sempre com o trabalho, com humildade. Tentar entender os clientes, os consumidores, e fazer com que o vinho seja algo de bom para eles. Não os afastar do vinho. Acima de tudo, um escanção tem de ter essa capacidade de cativar as pessoas para este mundo, porque quanto mais gente tivermos deste lado melhor.

Dá aulas de Enogastronomia na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril. Como se faz uma boa harmonização?
Depende muito de pessoa para pessoa e do momento. Num dia se calhar corre tudo bem com o vinho A e com a comida X e funciona. O copo também é importante, mas o segredo é provar muito, experimentar para perceber quais são os vinhos mais adequados e sair da zona de conforto. É o que eu tento fazer sempre. Até posso não ter a certeza se uma ou outra combinação vai funcionar a 100%, mas vou arriscar. Temos de arriscar.

É importante o consumidor sair dessa zona de conforto e provar vinhos diferentes?
Claro. Existem eventos, de produtores, de revistas e comissões vitivinícolas, que podem funcionar muito bem para as pessoas conhecerem outras regiões. É muito importante provar, fazer jantares ou almoços com os amigos e com a família e falar do vinho e das castas, como antigamente se fazia. Continua a ser um ato social português discutir o vinho e a comida à mesa.

Rodolfo Tristão (Fotografia: Igor Martins/GI)

O livro “Saber Beber Vinho”, que publicou recentemente, é uma tentativa de incitar essa conversa à mesa?
É. Mas acima de tudo, este livro pretende fazer com que o vinho seja mais fácil. As pessoas não podem ser afastadas do vinho por termos técnicos muito difíceis. Têm de ser cativadas de uma forma mais suave. Por exemplo: “este é um vinho bom para se beber numa esplanada num dia de calor, ou este se calhar precisa de comida”. É tentar visualizar o momento em que o vamos consumir. Desmistificar a ideia de que o vinho é só para alguns. Não é. É para todos. Toda a gente pode lá chegar, é uma questão de experiência de prova. E o livro vem muito nesse sentido. Porque saber beber vinho é isso mesmo. É experimentar, provar. Ninguém deve fazer “fretes” para beber o vinho que o outro está a beber só porque dizem que é bom.

É ribatejano e trabalha de perto com os vinhos do Tejo. Quais são as características que os definem?
São vinhos muito frescos, sejam tintos ou brancos. Têm estrutura e corpo. Os brancos podem ser mais diferenciadores, principalmente pela casta Fernão Pires, que é a bandeira da região. São vinhos que têm identidade mas que ainda são conotados com um valor negativo do passado. É preciso quebrar essa ligação. Começar a provar os vinhos do Tejo como eles são agora e não como eram. Além dos brancos, temos tintos com aromas bastante intensos mas que depois , no sabor, são sempre mais elegantes, muito suaves, e essa é a mais-valia da região, que precisa de ser redescoberta.

Pode sugerir três vinhos do Tejo que sirvam, para quem não conhece, descobrir a região?
O A.C.A Fernão Pires 2018, da Adega Cooperativa de Almeirim, um branco com intensidade e corpo da casta ícone da região. O Tyto Alba 2016, da Companhia das Lezírias. É um vinho tinto para todos os dias. E o Quinta da Lagoalva, Grande Escolha Alfrocheiro, de 2016, um tinto encorpado para impressionar os amigos.

O novo livro
“Saber beber vinho: Um guia simples para não especialistas» é o mais recente livro de Rodolfo Tristão, uma espécie de guia prático para quem se quer iniciar no mundo dos vinhos. Existem capítulos dedicados a explicar como escolher, comprar e armazenar vinhos, ou até como combiná-los com comida. Editora: Prime Books. Páginas: 192.
PVP: 13,9 euros.




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