João Tavares de Pina cresceu à volta de garrafas e de conversas sobre vinho. “Sempre se fez vinho aqui. O meu pai, avô, bisavô… Na altura, vendia-se a granel”, lembra o engenheiro agrícola que, no início dos anos 1990, decidiu regressar a Penalva do Castelo para recuperar a quinta dos pais e dedicar-se à agricultura, depois de se ter formado na UTAD. Aprendeu com o pai, que foi enólogo na Sogrape, a respeitar “a pureza” nos vinhos. “Ele preocupava-se muito com isso, não permitia barricas novas, não queria maquilhagem no vinho, gostava que estes expressassem o terroir.”
Em 1997, pôs os seus primeiros vinhos no mercado, mas estes não estavam alinhados com o que os consumidores valorizavam na época. “Só se procuravam vinhos concentrados e com muita madeira. Mas eu sempre produzi como queria”, diz. E nem sempre correu bem. As produções de 2009 e 2011 tiveram de ser descartadas porque não as conseguia escoar.
Mas a partir daí, e com a nova tendência dos chamados vinhos naturais ou de pouca intervenção, o produtor voltou a sorrir. “No momento em que as dificuldades eram muito grandes, percebemos que estava a aparecer um tipo de consumidor com um novo espírito, que quer vinhos mais frescos, com menos álcool.” Foi nessa altura, em 2012, que criou a linha Rufia. “Apercebemo-nos que, com outra imagem, os vinhos podiam encontrar novos caminhos.”
E foi isso que fez, deu-lhes uma nova roupagem e tudo começou a melhorar, incluindo a exportação, que absorveu 95% da produção. O portfólio dos Rufia foi aumentando com novas referências, e a estes rótulos acrescentou o Lero Lero e o Tretas, no mesmo espírito. Dentro da linha mais clássica, continua a produzir os Terras de Tavares, com estágio em barrica.
Nos incêndios de setembro, João Tavares de Pina perdeu quase toda a vinha, incluindo as parcelas onde recuperava variedades do Dão quase extintas, como a Luzidio, Cidreiro, Terrantez ou Arinto Gordo. A solidariedade fez-se sentir de imediato. O trabalho dos Goliardos, empresa que comercializa vinhos de pequenos produtores europeus, foi de “uma grande generosidade”. Os vinhos podem ser adquiridos no seu site e estão também há venda em várias garrafeiras.
Atualmente, Pina está a trabalhar num terreno emprestado, com certificação biológica, de onde vão sair os próximos vinhos. “Não tenho vontade de fazer outra coisa a não ser viver no campo. Sentimo-nos privilegiados: não morremos, não há guerra à nossa volta, estamos num paraíso. O dia de amanhã vai ser melhor do que o de hoje.”
VER MAIS SUGESTÕES DE PRESENTES DE PEQUENOS PRODUTORES NACIONAIS:
Sidra com tradição e inovação da Quinta da Moscadinha
Um kit para juntar cacos
O conforto das lãs portuguesas da retrosaria Rosa Pomar
Um novo livro para celebrar os vinhos do Pico
Livro “Palavras Nómadas”: viagens pela nossa Terra
Pina Wines
Quinta da Boavista, Penalva do Castelo
Tel.: 919 858 340
Web: quintada-boavista.eu
Os Goliardos: osgoliardos.com
Preços: desde 10,50 euros