Pedro Frutuoso: “Foi no Dão que adquiri o legado da persistência”

Pedro Frutuoso regressou ao Dão para criar o projeto Terra Chama. (Fotografia. DR)
Regressou ao Dão para fazer vinho, ao fim de mais de 25 anos na área financeira. Criou o projeto Terra Chama inspirado nos valores transmitidos pelos avós.

O que o fez regressar ao Dão?
Tenho as minhas raízes no Dão, passei a minha infância e juventude aqui. Estudei em Lisboa e depois a minha carreira profissional, ligada aos fundos de investimentos e mercados financeiros, levou-me a viajar pelo mundo. Mas nunca esqueci o Dão, porque foi onde adquiri os valores do trabalho, da persistência, da família e da amizade, que me foram transmitidos por duas figuras centrais na minha vida, o meu avô materno e o meu avô paterno. Quis voltar e reviver as minhas raízes, mas não de uma forma nostálgica.

De que forma, então?
Tinha a vontade de revisitar esses valores deixar um legado aos meus filhos, criando um elo de ligação entre aquela que é a próxima geração, e a geração anterior a mim. Com os meus avós, aprendi que o que a terra nos dá é aquilo que nós damos à terra. E que é preciso muita dedicação, muito esforço e empenho para que a vinha nos dê o que nós queremos.

De que forma é que os seus avôs o inspiraram na gestão?
Um deles tinha uma veia empreendedora muito grande, sempre abraçou grandes projetos, foi um empresário ligado ao vinho e não só. E o outro, numa vertente mais de ‘bon vivant’, foi alguém também ligado ao vinho e à agricultura, que estava sempre rodeado de amigos, reunidos à volta de uma garrafa de vinho. E são essas recordações que eu tinha de infância, da amizade, da família, de estar rodeado de pessoas, que esbarram com a vida na metrópole, porque inevitavelmente estamos mais individualistas e não nos conseguimos relacionar tanto com as pessoas. Este projeto está a fazer-me voltar a esses valores.

Como foi esta passagem do mundo financeiro para o da produção de vinhos?
Depois de sair do Dão afastei-me, mas estive sempre a observar o mundo do vinho, o que é que se estava a passar aqui em Portugal, quem eram os produtores, o que é que estavam a produzir, como é que produziam. Sempre com uma grande curiosidade de experimentar. Agora estou a fazer formação no Wine and Spirit Education Trust, para consolidar de uma forma mais técnica esses conhecimentos que fui adquirindo de forma autodidata.

Trabalha com os enólogos Miguel e João Oliveira da Vines & Wines. Que perfil procuram nos vinhos?
Procuro que sejam vinhos longevos, frescos e com profundidade. Tinham de ser vinhos clássicos do Dão, mas sendo eu um produtor de nova geração, vão ter obrigatoriamente um perfil moderno. Os meus vinhos, acima de tudo, têm de ser a expressão do meu terroir. Acredito que o vinho começa na vinha, no dia a seguir a que se faz a vindima do ano anterior. Por isso é que demorei 10 anos a encontrá-la.

Dois vinhos lançados e um a caminho
O projeto Terra Chama arrancou em 2018 e os primeiros vinhos, o Terra Chama branco e o Terra Chama tinto, foram lançados em 2020. Este mês, será lançado um rosé touriga nacional. Terra Chama Wines, Mangualde, Tel.: 918629652. Web: instagram.com/terra_chama_wines




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