Os novos sabores de inverno das cervejas artesanais em Lisboa

Os novos sabores de inverno das cervejas artesanais em Lisboa
Musa. (Foto: Diana Quintela/GI)
Queijadas de Sintra, vinho do Porto, frutos secos, chocolate e especiarias são algumas das inspirações para os novos sabores de inverno das casas de cervejas artesanal em Lisboa, como a Musa, a Oitava Colina, a 21 Gallas e a Delirium.

Musa: cerveja e vinho de mãos dadas

A uva castelão de Tiago Tabaço e o vinho do Porto da Cockburn’s dão sabor às novidades da Musa, que celebra meia década de vida com público fidelizado e parceiros unidos. Para provar em Marvila ou na Bica.

Quando o assunto em cima da mesa é, literalmente, cerveja artesanal, a união faz a força. “A força colaborativa é uma das grandes imagens de marca nesta área”, explica Tiago Traquete, um dos cervejeiros da Musa, que nasceu há meia década em Marvila, o bairro número um da capital neste tipo de produção. E se no passado, a empresa fundada pelos amigos Nuno Melo e Bruno Carrilho já se aliou à Dois Corvos e à Letra, mas também a criadores de whisky e ao pão artesanal da Gleba, a novidade festiva mais fresquinha é a Jingle Dubbel, feita em parceria com o produtor vínico Tiago Tabaço.

Duas das novidades da Musa. (Fotos: Diana Quintela/GI)

Trata-se de uma grape dubbel e é um híbrido, resultante da junção do mosto das uvas castelão de Cabaço, em Estremoz, com o mosto da cerveja da Musa, este tipicamente belga, associado às cervejas de mosteiro. Na Jingle Dubbel, o malte sente-se aqui de forma intensa, com notas de pão, caramelo, frutos secos e cravinho. A recetividade foi tal que o stock em garrafa esgotou, mas esta novidade prova-se também à torneira no tap room de Marvila, que partilha o espaço com a fábrica, e no bar que abriram depois na Bica.

A segunda novidade vem em dose dupla. A Original e a Remistura, duas belgian golden stronge ale, foram criadas a quatro mãos com a Cockburn’s, produtora de vinhos do Porto. A diferença é que a segunda estagia quatro meses em barricas, recebendo as notas adocicadas do Porto e outras características com a madeira, que balança bem com o amargor da cerveja-base, mas também chega ao paladar frutos vermelhos e baunilha.

A cervejeira de Lisboa tem sede e taproom em Marvila.

“Cada cerveja nova é uma página em branco”, explica o cervejeiro. Num ano, a Musa produz mais de duas dezenas de referências. “A inovação e a criatividade faz parte da génese da cerveja artesanal. O nosso público volta sempre e quer coisas novas. Já se habituou a isso e exige essa rotatividade”, remata. Assim, sendo, para janeiro já estão planeadas duas novas produções, uma também em parceria com a Cockburn’s e uma baltic porter, que costumam fazer anualmente.

 

 

8ª Colina: sabor de queijada, com vista para o castelo

Uma cerveja que replica os sabores da queijada de Sintra e uma edição especial que regressa nos meses frios: é em dose dupla que a Oitava Colina celebra o ano novo, com esplanada alargada no taproom da Graça, de frente para o Castelo de S. Jorge.

Uma queijada de Sintra em estado líquido. A nova criação da Oitava Colina, uma pastry stout, vem adocicar a época festiva e a mudança de ano, numa junção de forças em dose tripla, com a cervejeira HopSin, de Colares, e a Casa do Preto, morada obrigatória em Sintra quando se fala em queijadas. Chama-se Regalo, por razões óbvias, leva lactose, é encorpada e reúne os sabores da canela, do feijão tonka e do queijo, que ajuda a dar-lhe um final salgado na boca. “A ideia era criar algo com um produto típico de Sintra. Todos adoraram a ideia”, explica Pedro Romão, que fundou a Oitava Colina há seis anos com o irmão, Sérgio, deixando para trás a advocacia e a consultoria informática.

A nova Regalo replica os sabores de uma queijada de Sintra. (Fotos: Paulo Spranger/GI)

Desde então, já produziram 80 referências de cerveja, sempre com nomes criativos, como a Urraca, a Florinda e a Zé Arnaldo, três clássicas da casa, que soma dois taprooms. O mais recente, no Marquês de Pombal, junta pizas e cerveja, enquanto que o primeiro, na Graça, tem agora uma esplanada alargada e mantém a vista privilegiada para o Castelo de S. Jorge. O suficiente para ter feito de maio o melhor mês da marca. “É bom saber que temos clientes que passam aqui todos os dias. É algo que já faz parte da sua rotina”, afirma Pedro.

A 8.ª Colina tem taprooms na Graça e no Marquês de Pombal.

Em qualquer um dos espaços, à torneira e à garrafa, prova-se ainda a Borges, uma imperial stout que está de volta à carta da Oitava, que a produz sempre nesta altura do ano. Tem 10,5% de álcool e sabor mais complexo, com notas torradas. “É boa para beber em ocasiões mais importantes”, conta o dono, que decidiu enveredar por este ramo depois de ler um artigo, em 2011, que ensinava a fazer cerveja em casa. Um instinto certeiro: atualmente, a Oitava tem uma capacidade produtiva mensal de 10 mil litros. A loja online que chegou depois veio permitir entregar as suas cervejas em qualquer ponto do país.

 

 

21 Gallas Brewpub: aroma de fruta e paixão carioca

Começou a produzir cerveja para os almoços de amigos, e nunca mais parou. Há dois anos e meio, o carioca autodidata Gustavo Gallas abriu o 21 Gallas Brewpub, na Graça, onde se provam criações com notas de goiaba, amora e tangerina.

Alguns workshops e a leitura já tinham ajudado a despertar o interesse, mas foram os almoços com amigos no seu “T2 pequenino” do Rio de Janeiro, que levaram Gustavo Gallas, autodidata assumido, a criar a sua própria cerveja em casa. Hoje, produz cerca de dois mil litros por mês, com novos lançamentos a cada quinzena no 21 Gallas Brewpub, o bar que abriu há dois anos e meio entre a Graça e os Anjos.

A 21 Gallas tem novas produções caseiras para os meses frios. (Fotos: Natacha Cardoso/GI)

Entre paredes decoradas com guitarras e bandeiras dos Sex Pistols e os clássicos do rock’n’roll a tocar, provam-se quatro novidades, ora em lata, ora ao copo. É o caso da London Fog, uma pale ale ao estilo inglês, em tons acobreados e com baixo teor alcoólico, que vai de encontro ao caramelo e ao toffee. Já a Tangeripa, uma double New England IPA, é feita com cascas de tangerina e leva lactose. “Este é mais adocicada, é quase um sumo. É daquelas que engana”, ri-se Gustavo. As outras duas novas cervejas são sour, a Blackberry Bela Sour, ideal para apreciadores de amoras, que dá nas vistas pela sua cor avermelhada, e a Guava! Bela Sour, que encorpora aromas de lenha fumada e os sabores da goiaba.

O 21 Gallas Brewpub nasceu há dois anos na Graça.

Ao todo, há mais de uma dezena de referências à torneira, oito em garrafa e quatro em lata. Entre estas estão as duas bestsellers, a Caparipa, uma IPA cítrica, e a Wit Cinco de Abril, que leva cascas de laranja, coentros e leveduras belgas. O segredo é nunca parar de criar. “A receita da cerveja está sempre em constante evolução, é como ser-se um chef na cozinha”, explica o dono, que trouxe novas dinâmicas ao bar desde a pandemia. A começar pelo Open Tap, um cartão que custa 10 euros e que permite beber o que se queira durante uma hora. Até agora, o recorde pertence a um russo, que conseguiu acabar 15 cervejas.

 

 

Delirium: um amplo bar com sabores festivos

É no Chiado que está o único bar ibérico da gigante belga Delirium, criada há 35 anos. Para os meses frios, as produções da casa trazem notas de caramelo, frutos secos, chocolate e especiarias.

As cervejas sazonais sempre fizeram parte da história da Delirium, como a veranil Cactus, com tequila e limão, ou a edição feita só por mãos femininas, para assinalar o Dia da Mulher. A época festiva não é exceção. No amplo bar do Chiado, a única morada ibérica desta marca belga nascida há 35 anos, provam-se por estes dias a natalícia Delirium Noel, uma belgian strong dark ale encorpada, que vai buscar aromas de fruta e caramelo, e que acompanha bem com carnes de caça, por exemplo.

O Delirium Café Lisboa é a única morada ibérica da marca belga de cervejas artesanais. (Fotos: Paulo Spranger/GI)

O caramelo também se sente na Delirium Nocturnum, outra das novidades para os meses mais frios, mais suave que a primeira e com toques de chocolate, especiarias e coentros. Com um sabor final que equilibra o doce e o amargo, combina com doçaria e sobremesas como um cheesecake e uma rabanada. Do casamento da Noel e da Nocturnum chega ainda a licorosa Black, que se vende em garrafa depois de estagiar um ano em barrica, ganhando o aroma da ameixa e dos frutos secos.

Duas das cervejas criadas para celebrar a época festiva.

Mas há muito mais para provar no Delirium Café Lisboa, que tem na sua variedade de referências – 35 à torneira e mais de 200 em garrafa – uma das suas mais-valias. No inverno, metade das cervejas à pressão são sabores de inverno, mais encorpados, entre produções da casa e outras artesanais, que chegam de uma dezena de países. Para provar entre paredes ou no sossegado terraço das traseiras, nem sempre fácil de encontrar no Chiado.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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