Antes de ser Social Club, a Bigorna já era barbearia. Na Foz do Douro e na Rua Alexandre Braga, encostado ao Mercado do Bolhão. É desse universo que vem Nuno Silva. Inspirado por gostos (pelos speakeasies, pelo bilhar) e circunstâncias (a generosa extensão do rés-do-chão do edifício da Baixa e a necessidade de rentabilizar área numa zona da cidade em que as rendas não são para brincadeiras), explorou as potencialidades de um espaço de ressonância industrial, aliando-se a uma brilhante autora de cocktails, Lia Igreja.
O Bigorna Social Club chegou em meados de novembro. “Não é um speakeasy puro”, ressalva Nuno, que conheceu e se apaixonou por “the real thing” em Nova Iorque. “Para isso, tinha de ser um sítio escondido, com uma porta secreta”. Os speakeasies entraram no imaginário popular com a Lei Seca americana dos anos 1920 e 30. Locais de consumos ilícitos, com os seus códigos. Uma aura de mistério forçosamente atenuada no Bigorna, já que da rua é possível vislumbrar as camadas de que é feito: balcão de café à entrada, cadeiras da barbearia na área central, a mesa de bilhar e o balcão do Social Club ao fundo. Ao fim da tarde, quando as lâminas e as tesouras param, “as luzes da barbearia apagam-se e isto fica bem escuro”.
Este não é um espaço para mergulhar na noite sem pé, antes para a iniciar. Com o ponto de frequência ideal entre as 20 e as 30 pessoas. Às sextas e sábados, entre as 19.30 e as 22.30 horas, há DJ em ação, sobretudo locais. Trazem “hip-hop, soul, uma eletrónica calma, algumas coisas mais experimentais”.
Embora seja cedo para estas contas, o No Smoking Inside está a revelar-se “o nosso número 1” no campeonato dos cocktails. E compreende-se: um combinado de amargor e aconchego onde cabe gin, destilado de tabaco, Campari, amaro, vermute e pau santo, este sob a forma de fumo que se entranha, triunfal, no líquido. É intenso, profundo no paladar e na memória. Os sete cocktails de Lia Igreja são maioritariamente inspirados em clássicos. Nomes: Pickle Salt Margarita, Spiced Pear Collins (este também com direito a versão sem álcool, com frutos vermelhos no lugar da pera), Cacao Manhattan, Old Fashioned de Los Nobles… Por aqui também se bebe vinhos naturais, cervejas artesanais e espirituosos mais familiares.
A partir de janeiro, é intenção disponibilizar acompanhamentos sólidos: “Conservas, azeitonas recheadas, com pão de massa mãe e umas tostas, coisas para picar”. Sempre numa lógica de descomplicar. Na mesma altura, e com cadência mensal, os sábados deverão acolher chefs a cozinhar em direto. E também chegarão os torneios de bilhar, trimestrais.
(Fotografia: DR)
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