Os nomes da marca e da casta confundem-se quando o assunto é a Negra Mole. “É muito fácil, aqui no Algarve, um sommelier lhe sugerir um Cabrita se lhe pedir um vinho Negra Mole sem dizer a marca”, afirma Duarte Tito, responsável de enoturismo da Cabrita Wines. “O Sr. José Manuel Cabrita sempre disse que devíamos ter orgulho nela, por isso fomos dos primeiros a recuperar a casta, que estava praticamente extinta”. A razão de ser mal amada prendia-se com o facto de dar vinhos mais leves em corpo, aromas, sabor e até cor, e a maioria preferir tintos encorpados.
“Além disso, quem bebia este vinho eram as pessoas com baixos rendimentos, às vezes com sardinhas. Ora, seria impensável beber vinho tinto com peixe que era dado aos gatos, por isso os produtores [preocupados com a imagem] começaram a arrancá-la e a substitui-la por castas internacionais”. Mas o tempo viria a dar razão à fé de José Manuel Cabrita e também de outros produtores, como João Clara, nas potencialidades da negra mole, que é agora uma das castas mais procuradas. Na sala de provas da Cabrita Wines é fácil entender (e saborear) os atributos.
Ela expressa-se tanto no Cabrita Negra Mole Tinto, agradavelmente bebível, mais fresco, num dia de calor; mas também no Espumante Blanc de Noir de 2016, feito pelo método tradicional. “Tem uma bolha que quase derrete na boca, ao contrário de outros mais agressivos, e vai bem com as comidas mais ácidas e gordas, como ostras ou ceviche”, exemplifica Duarte. Além dos referidos, também o vinho laranja e o licoroso conseguem juntar as pessoas à mesa, tanto as que visitam a adega espontaneamente, como as que marcam a prova das 11.30, 16 e 17 horas.
O percurso pela propriedade inicia-se no exterior da Quinta da Vinha, no Sítio da Vala (o nome lembra o facto de antigamente existirem ali campos de arroz), onde o olhar perde de vista seis hectares de uvas brancas, que se somam a mais dez de uvas tintas entre Estômbar e Porches, todas nacionais. Dali, passa na adega construída em 2015 com azulejos Santa Catarina e pela
sala de barricas, a maior parte usadas para dar ao vinho tempo de fazer o seu trabalho. “É um investimento em tempo”, lembra o responsável de enoturismo, no qual a Cabrita Wines aposta.
Fruto das obras em curso, em breve os visitantes entrarão por uma alameda de vinhas e terão um jardim de figueiras, oliveiras e alfarrobeiras para contemplar a flora mediterrânica algarvia. É a presente e futura vida da propriedade fundada por José André – o comerciante de fruta que começou a fazer vinho para consumo interno e na aldeia -, e que permanece na mesma família há 50 anos, agora liderada pela segunda geração. O trabalho de enologia é assinado por Dinis Gonçalves, que conta com a consultoria de Joana Maçanita, cujo irmão contribuiu inicialmente.
Longitude : -8.2245