Mário Sérgio Nuno: o líder tranquilo dos vinhos da Bairrada

Mário Sérgio Nuno: o líder tranquilo da Bairrada
A Quinta das Bágeiras é um dos produtores Baga Friends. (Fotografia: Maria João Gala/Gl)
A Quinta das Bágeiras está a festejar os 30 anos de produção de vinho, num percurso único que mistura na perfeição vanguarda com tradição. Brancos, tintos, espumantes, aguardentes, em todos atingiu a excelência, pelo que é a própria região da Bairrada que está em festa.

Caminhamos devagar para dentro da adega da Quinta das Bágeiras, em Sangalhos. O espaço de destilação é motivo para um comentário rápido acerca do tanque de areia fina, obrigatória desde sempre junto aos alambiques no combate aos incêndios. A água de nada serve, explica o vinhateiro que nos acompanha.

Este e muitos outros pequenos detalhes dizem quase tudo sobre o bairradino dos quatro costados que é Mário Sérgio Nuno. Tendo como único imperativo o trabalho, transporta consigo um imenso legado bem vivo, composto de tudo – e foi muito – o que aprendeu. Homem de família e amigo do seu amigo, Mário Sérgio Nuno nasceu na Fogueira, Sangalhos, a 8 de março de 1966. Os pais são ambos filhos únicos, o que fez com que ele e a irmã Teresa acabassem por crescer muito dentro da família e à família chamar mundo. São ambos descendentes de bairradinos e a convivência com os avós foi muito próxima.

O pai Abel e o avô Fausto estão vivos e de boa saúde, e são também marcas de vinhos das Bágeiras. E ainda conheceu dois bisavós e uma bisavó, conta. A longevidade está no ADN da família. Começou em 1988, quando tinha apenas 22 anos, e fez o primeiro vinho em 1989. Os pais viveram sempre com os avós paternos, pelo que o clã se definiu naturalmente em torno do vinho. Não podia por isso deixar de festejar os 30 anos de Quinta das Bágeiras rodeado de família e amigos, que considera também família.

A Quinta das Bágeiras celebra 30 anos. (Fotografias: Maria João Gala/GI)

Mário Sérgio Nuno com o filho, Mário.

Casado com Germana Amaral, de Avelãs de Caminho, tem o filho Frederico já a trabalhar consigo, ao mesmo tempo que termina os estudos de enologia na UTAD, em Vila Real. A filha Francisca entrou agora em enfermagem. Tudo a crescer e animado.

Mário Sérgio estudou no liceu em Aveiro e num terreno de Amoreira da Gândara foi onde se estreou como agricultor, tinha apenas 15 anos. Cultivou batatas. Bem mais tarde, em 2004, viria a receber a distinção de agricultor do ano das mãos de Armando Sevinate Pinto, então ministro da agricultura e em 2014 tornou-se comendador da ordem do mérito agrícola. Mas uma e outra não são para Mário Sérgio do que a confirmação dessa primeira iluminação enquanto agricultor.

 

Percurso feito de pessoas

Rui Moura Alves foi muito importante, já era amigo do pai e para Mário Sérgio era e será sempre o Senhor Rui. Tornaram-se mais próximos quando o especialista veio pedir para fazer umas experiências na destilaria da casa. A Soanálise nasce em 1988, com três nomes sonantes, Rui Moura Alves, Póvoa e Gonçalves Faria, e foi aí que uma nova Bairrada começou a tomar forma, tinha apenas 23 anos, e passou a acompanhar os grandes e mais velhos, sobretudo pela mão integradora de Rui Moura Alves, que o levava consigo para os almoços das quintas-feiras.

Quase todos os produtores começaram nessa altura, correspondendo plenamente ao perfil de vigneron, que por cá estava ainda verde. Para o jovem Mário Sérgio, foi a iluminação e o início de um caminho que não mais parou de calcorrear. Ainda hoje mantém a relação, com a mesma força e dedicação de outrora. Casa de Saima, Quinta de Baixo, Sidónio de Sousa e muitos outros, foi como apanhar um movimento no seu início. Hoje, já com o filho Frederico ao seu lado, mantém a relação com o Senhor Rui e foi com ele que aprendeu a ter sempre a porta aberta para todos. No almoço dos 30 anos, lá estava o grande Moura Alves a celebrar ao seu lado.

Um dos espumantes da quinta.

Um negócio de família com três gerações.

 

Transição tranquila

Perdeu por morte o incansável e icónico Bernardo Cruz de Almeida, figura única e insubstituível. Desafiou Ana Dail para a difícil tarefa que é andar pela feiras, provas e mundo e ao mesmo tempo gerir a comunicação externa da Quinta das Bágeiras. Conheceu-a e ao marido em Paris e nunca mais a perdeu de vista.

Deu-se tranquilamente uma transição que parecia impossível. Mário Sérgio Nuno tem vocação inata para gerir pessoas e nota-se que tem prazer nisso. Dirk Niepoort é outra figura importante para Mário Sérgio, desde os anos 90, e explica que foi com ele que aprendeu que as fronteiras não existem, a Bairrada podia e devia ser conhecida em todo o mundo. Os destilados são resultado natural da abordagem de sustentabilidade e de aproveitamento integral de tudo o que se produz. De resto como o vinagre. Produtos nobres e de importância histórica, todos feitos com a mesma força e intenção, saídos da mão e talento do líder tranquilo da Bairrada.




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