António Luís Cerdeira tinha dois anos quando, em 1974, o pai e o avô plantaram a primeira vinha de alvarinho e deram início a um legado que hoje conduz, ao lado da irmã e da mãe. Oito anos depois nascia o Soalheiro, a primeira marca de alvarinho de Melgaço. A infância e a juventude foram passadas entre as vinhas e a adega, e na memória guarda alegres recordações das vindimas com a família e amigos. Daí que não seja de admirar o redondo “não”, quando questionado sobre se alguma vez pensou em seguir outro caminho. Depois do curso de Enologia, na UTAD, concluído em 1994, seguiu-se um estágio na Borgonha e o regresso a Melgaço.
Sempre quis dar continuidade ao projeto de família, “mas numa perspetiva de tentar aumentar o nosso conhecimento sobre o vinho e sobre tudo o que está ligado à viticultura e à enologia. Temos este conceito da inovação muito entranhado”, realça. A inovação é um dos pilares do Soalheiro, mas não é o único. A ele juntam-se a tradição e a consistência, que têm mantido a casa firme ao longo das últimas décadas.
“Queremos construir vinhos que sejam clássicos no futuro. A inovação dá-nos novas perspetivas de como usar o alvarinho, é o que nos aponta novos caminhos do que será o futuro dos vinhos, se serão vinhos naturais, uvas biológicas, vinhos sem filtração. Todos esses campos estão em permanente evolução no Soalheiro”, diz, e quando essas inovações alcançam um certo nível de consistência transformam-se numa tradição da casa. “Foi o que aconteceu com a linha de vinhos naturais”, assume Luís. Em 2015, o Soalheiro lançou o primeiro vinho natural, o Soalheiro Terramatter, e hoje conta com três referências, incluindo um espumante.
Há sempre novas ideias a fervilhar e não há tempo para conformismos. “A nossa forma de estar no vinho é pouco acomodada. Estamos sempre à procura de nos colocarmos desconfortáveis”, para poderem crescer e criar valor, “ou até novas tendências”, que vão desde os vinhos a medidas como a certificação da vinha em agricultura biológica, a utilização de garrafas mais leves, embalagens com menos cartão, uma cobertura vegetal na adega para diminuir o consumo energético, ou a plantação de vinha de alvarinho a mais de mil metros , na Branda da Aveleira.
Esta vontade de inovar anda sempre de mão dada com a tradição, que no Soalheiro é sinónimo de alvarinho e território. Da tradição, nasce o Primeiras Vinhas, um vinho 100% alvarinho feito com as uvas das vinhas plantadas há mais de 40 anos pelos fundadores da marca. Luís e a sua equipa dedicam-se a explorar a elasticidade da casta alvarinho e a diversidade do território. “Ela permite fazer muitas visões de vinho, que outras castas brancas não permitem, daí a nossa paixão pelo alvarinho. Além de ser a casta autóctone, também há a vontade de a levar a criar vinhos diferentes, com recurso muitas vezes a técnicas ancestrais, como a utilização de argilas, terracotas, ovos de cimento, barricas de castanho…”, explica Luís. Um potencial que ano após ano o inspira a encontrar novas versões do Soalheiro.
Novo vinho
Ag.Hora é a próxima novidade do Soalheiro, um vinho 100% alvarinho, de inspiração georgiana, que nasceu na incubadora de ideias da adega.