Joana Santiago: “O mais importante neste momento são os laços entre as pessoas”

Joana Santiago é o rosto da Quinta de Santiago, produtora de vinhos alvarinho, em Monção. (Fotografia: DR)
Joana Santiago trocou a carreira como advogada para se dedicar aos vinhos. Em casa, de quarentena, tem aproveitado para partilhar um pouco mais do seu dia-a-dia nas redes sociais, dando a conhecer melhor o rosto da Quinta de Santiago.

Em 2009, no seio de uma propriedade centenária, em Monção, nasce a Quinta de Santiago. O rosto deste projeto familiar é a jovem produtora Joana Santiago, que trocou a advocacia pelo desafio que lhe lançou a avó, Mariazinha, de deixar de vender as uvas da propriedade da família, para passar a produzir os seus próprios vinhos. A viver em Ovar, nas últimas semanas Joana esteve retida na cidade (fechada por um cerco sanitário durante 31 dias), com as duas filhas e o marido, aproveitou o tempo de sobra para pôr em prática alguns projetos adiados, que tem partilhado na sua página de Instagram.

Antes deste confinamento, como geria o tempo entre Ovar e a Quinta de Santiago?
Eu vivo em Ovar por uma questão de logística. É mais fácil na parte comercial, para visitar clientes, para me deslocar para Lisboa, para o Algarve, Porto, ou para onde for necessário. E normalmente, o que eu fazia era ir uma vez por semana, às vezes duas, a Monção, dependendo do que fosse preciso, relativamente a visitas de clientes ou outras tarefas.

Entretanto, foi imposto o cerco sanitário a Ovar e ficou retida na cidade…
Fomos apanhados de surpresa. Eu tinha ido para o Luxemburgo, apresentar os nossos vinhos num evento, e quando regressei, no início de março, não fui a Monção por uma questão de segurança. Entretanto fecharam Ovar. Os meus pais pertencem a um grupo de risco, então decidimos que o mais lógico seria eles ficarem lá e nós cá, até porque a viticultura continua. Todos os trabalhos têm que ser feitos, e o meu pai é que lidera esses trabalhos.

Tem feito um “Diário de Quarentena” na sua página de Instagram. Como começou?
Foi uma coisa natural. Este confinamento deu-nos a oportunidade de fazer coisas que antes não tínhamos tempo de fazer. E uma das coisas que eu tinha vontade era de começar a partilhar mais do nosso dia-a-dia. O projeto Quinta de Santiago acaba por se centrar muito nas pessoas, no que nós somos, na nossa história, nas nossas vivências. E da partilha que eu fui tendo com o consumidor, percebi que ele gosta muito de saber sobre vinho, mas identifica-se também com as pessoas que estão por trás do vinho.

E como têm sido as reações?
Eu recebo dezenas de mensagens por dia de pessoas que eu não conheço a dizer que adoram ver as birras da Leonor, a minha filha mais nova. Outras mães perguntam-me como é que eu faço os palmiers, e se posso mandar a receita, qual o vinho que eu estou a beber e o que comi a acompanhar. Até já mandei uma receita de pão para o Brasil, e depois a senhora mandou as fotografias. Foi muito giro. E acaba por se criar esse contacto que nesta fase de isolamento era preciso. A minha ideia era mostrar às pessoas que a Quinta de Santiago está mais próxima delas.

Que mais aproveitou para fazer?
Uma coisa que eu queria fazer há muito tempo era retomar o desporto, que desde que nasceu a minha segunda filha nunca mais fiz. Tive pessoas a dizer assim: “Tens treinado todos os dias! Como é que tu consegues? Como é que arranjas tempo?” Eu decidi que no meu dia, entre teletrabalho, escola, ser cuidadora, empregada de limpeza e cozinheira, 30 minutos tinham que ser dedicados a alguma coisa para mim. Preciso de libertar energia, até porque as notícias vão-se aglomerando, e às vezes são boas, outras vezes são más – o nosso volume de faturação em março foi de 5% em relação ao mês homólogo -, e temos de gerir tudo isso com boa disposição.

Como é que a Quinta de Santiago tem procurado contrariar essa quebra de vendas?
O que nós optamos por fazer foi divulgar muito online os nossos vinhos, fazer um contacto direto com o consumidor através de campanhas. Por exemplo, fizemos uma campanha para angariação de equipamento de proteção individual para profissionais de saúde, em que dávamos 10% do valor de compra do consumidor final para uma instituição que adquiria os materiais. E partilhamos os pequenos negócios dos nossos parceiros, onde podem encontrar os nossos vinhos, que é o mais importante agora, para manter a cadeia viva. Assim estimulamos também o comércio local. Neste momento já estamos na fase de querer fazer algo mais.

Qual é o próximo passo?
Agora o próximo passo é o lançamento de um vinho novo, em tempos de “guerra”, mas acho que faz todo o sentido. Até porque é um vinho que nasce da amizade – é uma parceria com outro produtor, o Nuno Mira do Ó, do Dão -, e os laços entre as pessoas é o mais importante neste momento. Nós tínhamos agendado o lançamento para o dia 1 de junho, e quando percebemos que isso não seria possível, decidimos delinear uma estratégia de lançamento online, que vai acontecer no princípio de maio. As pessoas vão poder comprar o vinho durante o confinamento, em primeira-mão, com um grande desconto em relação ao que depois vai estar no mercado, mas só vão receber esse vinho alguns meses depois.

Tem participado também em algumas iniciativas online de conversas sobre vinho…
Sim. A primeira foi em virtude de ter sido cancelada a ProWein, que é a maior feira europeia de vinhos, e por isso a plataforma Adegga criou a Portugal Wine Week. Depois participamos na Wine Hour At Home, no Instagram. E temos feito também diretos com pessoas que não são da indústria do vinho, como por exemplo a Miss Pavlova. Fizemos também com o Hugo Mendes, que apesar de ser produtor tem um grande background de outros setores. E mais uma vez, não era de vinho que nós estávamos a falar, mas sim de tudo o que gira à volta do vinho, como tudo começou, as dificuldades que temos, as alegrias, as nossas motivações, a nossa filosofia. Porque o vinho não é vinho só por si, é uma experiência.

Isso ajuda a democratizar o acesso ao vinho?
Ora nem mais. Essa foi sempre a nossa postura desde o início. Dentro do setor eu costumo de dizer que trouxe alguma leveza e uma nova dimensão do que é o vinho, que é partilhá-lo como uma coisa simples e descontraída e que está acessível a qualquer pessoa. Porque se me fizerem perguntas técnicas eu digo: “Não sei nada disso. Beber vinho dá-me prazer! Isso é o que me importa.” Para mim o vinho é sensitivo.

Que vinhos a têm acompanhado?
Ora, como não se desperdiça nada, com a quantidade de diretos, de provas e de formações que dou, abro as garrafas e depois tenho que as beber. Tem-me acompanhado o Pormenor, do Douro; o nosso espumante Quinta de Santiago, porque sabe sempre bem umas bolhinhas; e os espumantes todos da Quinta das Bágeiras. Depois tenho aproveitado para abrir algumas garrafas de vinhos internacionais que tenho trazido das minhas viagens.

 

NOVO VINHO
Está previsto para o início de maio o lançamento do novo vinho Sou, uma parceria da Quinta de Santiago com o produtor do Dão, Nuno Mira do Ó. “Faz sentido para nós, até porque o nome do vinho significa muitas coisas neste momento: Sou forte, Sou amigo, Sou solidário…”, explica Joana.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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