Conheci Diana Silva há mais de dez anos, ainda existia o Manifesto de Luís Baena e Marlene Vieira em Santos. Era escanção no que foi o mais vanguardista restaurante de Portugal até hoje, expoente supremo da cozinha molecular e evolutiva entre nós. Estando em vésperas de partir para a Madeira para mais uma exploração restaurativa da ilha, a francamente jovem Diana ia cumprindo a ordem de serviço, ao mesmo tempo que me ia lançando reptos acerca das boas mesas da Madeira. Dos vinhos falava com paixão e conhecimento, harmonizando bem com as complexas criações do chef Baena.
Estava eu longe de imaginar – ela também, seguramente – que um dia se tornaria produtora de vinho madeirense, e com uma estreia de alto gabarito. Nasceu o vinho Ilha no seu coração há um par de anos, quando achou que podia fazer bons vinhos de mesa a partir da casta tinta negra, historicamente associada a vinhos da Madeira de estufa de relativamente baixa qualidade.
Depois do impulso telúrico de Diana para que cedo arregimentou o seu marido, surgiram as primeiras amostras, que tive o privilégio de provar em fase ainda primitiva, acabados de fazer. Num outro arremesso, o contacto com os vinhos já feitos e em oferta tripartida: o tinto direto, um rosé inédito e um branco inacreditável. A surpresa positiva só foi suplantada pela bondade do nome dos vinhos, para meu espanto disponível. Num país ribeirinho como Portugal, a ninguém tinha ainda ocorrido chamar Ilha a um vinho. Na diagramação – a ilha ao alto –, sugere-se a leitura com a garrafa deitada, mas está bem assim, até para daqui a mais dez anos Diana poder dizer com propriedade que o vinho dela foi aquele que rodou a ilha.
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