Histórias de vinho: um chão que ainda dá grandes uvas

Utilizamos a expressão “foi chão que deu uvas” para indicar um qualquer acontecimento fortuito que no passado fez brilhar alguém ou algum lugar que depois entrou em declínio. Feitas exceções que confirmam a regra, as vinhas de Vidago são prodigiosas e estão de novo a produzir belos vinhos.

Pertencem ao distrito de Vila Real os maciços graníticos de transição que no Norte confinam a imensa ilha de xisto que é o vale vinhateiro do Douro. Marcado pela ambição e consequente obsessão pelo rendimento alcoólico dos vinhedos, foi mal aconselhado o Marquês de Pombal quando delimitou o território apenas pelo chão que produzia as uvas mais copiosas do país.

Polpas ricas em açúcar davam ouro líquido autêntico, com um rendimento que nenhum outro vinho permitia, para mais de fama mundial: o vinho do Porto. Acontece que Vidago, onde jazem vibrantes os maciços graníticos que tão bem caracterizam Trás-os-Montes, vem de vindago, que quer dizer campo de vinhas. Pois é!

Agora que temos autoestradas que rasgam aquela paisagem quase lunar, podemos imaginar o que seria ver as encostas vestidas de videiras viçosas e produtivas. Nunca teremos sequer ideia dos vinhos que delas saíam e que pena poucas ou nenhumas cepas velhas restarem… Cá em cima, à superfície, há felizmente visionários que desde crianças imaginavam o vestido vitícola com que haviam um dia de a cobrir. Investiram e abordaram de forma sistemática e moderna a construção da região transmontana, quase dual do Douro.

A Tinta Amarela tem um desempenho notável ali mesmo, em Vidago, assim como importadas como Syrah e Alicante Bouschet – esta já passa por portuguesa tal o historial que por cá tem – dão vinhos de grande frescura e longevidade.

Logo ali abaixo, já no Douro, poucos optam pela Tinta Amarela porque é difícil de conseguir no ponto de maturação ideal das uvas e porque no fundo só nalgumas zonas dá bons vinhos. E a Touriga Franca é sem dúvida a grande casta tinta duriense. Mas provar a Tinta Amarela que a Quinta de Arcossó, a norte de Vidago, é uma emoção tão grande que de imediato apetece uma lasca de presunto de Chaves, que é logo ali, com um bom pão transmontano. É uma espécie de apelo telúrico, o sentimento que se tem quando se está ali à mesa. Simplicidade desarmante, na sala de fora, onde há sempre mantença para quem passa, que merece ser mais conhecida e mais provada.




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