Fiasco, um bar para regressados no Bonfim

(Fotografias de Igor Martins)
No Fiasco dominam o vermelho e uma cultura de bairro, enquanto se procuram resgatar noctívagos cansados da Baixa. Dos cocktails de autor à música, nesta esquina da Invicta tenta-se fintar o óbvio.

O Fiasco abriu portas em março de 2024 e começa por impressionar pela vista panorâmica para o bulício de bairro urbano no pequeno oásis do Bonfim, com uma esquina arredondada de onde se vê a vida a passar no cruzamento entre a Avenida de Rodrigues de Freitas e a Rua do Duque da Terceira. O interior é um mar de vermelho e bordeaux. Ao centro, um ziguezague de sofás corridos domina a zona de convívio. Uma das faces do espaço está por conta da loja de discos 8mm Records, 22 anos nestas andanças, cujo balcão também serve de púlpito aos DJ convidados, de quinta a sábado. Na cave, a galeria de arte Branda, para artistas emergentes. Ao almoço e um pouco mais além, em vez do Fiasco, aqui labora o restaurante Urraca.

Era este Bonfim o “bairro de eleição” para o nascimento do Fiasco, diz Pedro Segurado, o criador da casa (um projeto de quatro pessoas), quase duas décadas na noite e restauração do Porto: Plano B, Indústria, Gare, Boa-Bao, Torto, Marmorista. E calhou de ter sorte: “Às vezes, quando chegas a um sítio, há uma intuição, uma perceção”. Assim aconteceu com esta esquina, anteriormente uma mercearia, à qual acorre agora uma saudável mistura de outros fregueses. “Há uma parte considerável de pessoas do bairro, mas também temos bastantes clientes habituais que são de fora desta zona. Tenho recebido pessoas que não saíam [à noite] há bastante tempo. Estamos órfãos de sítios com aquilo que o Fiasco propõe: locais confortáveis e com qualidade na música, no serviço. Muita gente, dos 35 aos 45, 50 anos, que gosta de coisas não óbvias, com música um pouco diferente, não tinha sítios aonde ir. Algum do público que temos estava desavindo com a noite e cansado da Baixa.”

A carta é apresentada como se da capa de um LP (de vinil vermelho, pois então) se tratasse. Os protagonistas são os dez cocktails de autor, dois deles não alcoólicos. “Também não são óbvios”, sublinha Pedro, que deixa a criatividade destes preparados nas mãos de uma equipa que, em parte, já o acompanhava no Torto. Há propostas, todas com nomes prenhes de alusões musicais, como Asian Dub Sound System (vodka Nemiroff, ginja Vila das Rainhas, sake, flor de cerejeira e lima kaffir) e Lusco Fusco Groove (brandy Ysabel Regina, Campari, blend de vinhos fortificados, ameixa e café). Tudo a preços “justos”: “Neste momento, a maior dos sítios está pensada para quem nos visita e não para quem aqui habita. É cada vez mais importante pensar em espaços com propostas, cartas e, acima de tudo, preços para as pessoas de cá. Peço o valor que acho correto para as coisas que estou a vender. E quero gente que venha cá hoje, amanhã, depois”.

Fiasco
Avenida de Rodrigues de Freitas 133, Porto
Web: instagram.com/-fiascoporto
Das 12h às 24h, de terça a sábado
Preço: cocktails desde 8 euros



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