Família e união nas novidades de enoturismo do Douro Vinhateiro

Quinta do Pôpa, no Douro.
Da estreia da Lavradores de Feitoria no enoturismo às novidades da Quinta do Pôpa e à nova loja da Vieira de Sousa, são várias as razões para rumar à mais antiga região demarcada. Em comum, dão palco às uvas durienses em família e união, ao longo de gerações e décadas.

As letras brancas e gordas com o nome da quinta, contra uma fachada em xisto, destacam-se ao longo, no meio dos curvilíneos socalcos do Douro Vinhateiro, a mais antiga região demarcada do mundo, com 266 anos. No concelho de Tabuaço, à beira-rio, a QUINTA DO PÔPA celebra agora uma década e meia de vida, quando José Ferreira (Zeca do Pôpa) decidiu dar seguimento ao sonho do pai, Francisco, em comprar uma quinta duriense e produzir vinhos em família. A ajudá-lo no terreno com 40 hectares (metade de vinha) estão os filhos Vanessa e Stéphane.

À entrada da receção, num pátio e jardim com vista panorâmica, há espaço para canteiros verticais com aromáticas, mas os vários relógios pendurados numa parede roubam as atenções. “Estão todos parados, de propósito. Aqui, é a natureza que manda”, explica Vanessa. Nos últimos quinze anos, produziram-se dezena e meia de referências vínicas, deixando brilhar os Douro DOC e as castas autóctones, num “respeito pela uva”, apoiado pelo enólogo Carlos Raposo, muito ligado ao Douro no seu percurso. O resultado são vinhos “elegantes, precisos, com frescura e durabilidade”, conta Raposo sobre a quinta que chega a colocar no mercado 100, 120 mil garrafas ao ano.

A Quinta do Pôpa celebra uma década e meia de vida. (Fotografias: DR)

Vanessa e Stéphane dão continuidade a um sonho que já soma quatro gerações familiares.

Algumas etapas marcantes foram a produção do primeiro tinto doce do Douro, em 2011, a estreia no azeite biológico, mais recentemente, e a celebração dos 90 anos das Vinhas Velhas da quinta, que já originaram oito colheitas, entre 2007 e o presente. Atual é ainda a aposta ambiental, com adega gerida a energia solar, compostagem e vinhas com pouca intervenção, por exemplo. Entre os próximos projetos está a aposta num amendoal, árvores de fruto, hortas e no turismo de habitação.

Este ano, a reabertura do enoturismo traz visitas para conhecer de perto a adega, lagares e garrafeira, além de provas variadas, que podem ser acompanhadas por tábuas de petiscos, mas também piqueniques e almoços vínicos, sem perder os olhos ao rio que serpenteia as encostas em redor. A loja online, no site oficial, ajuda a encurtar as distâncias, enquanto não chega a altura de ir até lá provar as colheitas da casa.

No concelho de Tabuaço, o enoturismo da Quinta do Pôpa reabriu com novidades.

Os Douro DOC e as castas autóctones são os pilares das referências vínicas da casa.

A união faz a força

A menos de dois quilómetros dali, em Sabrosa, outra quinta espelha a força da união no mundo vínico. Foi há 22 anos que um grupo de pequenos produtores se uniu para dar o devido palco às uvas durienses, dando origem à LAVRADORES DE FEITORIA, eleito Melhor Produtor do Ano pela Revista de Vinhos em 2004. O resultado cultiva-se hoje em 600 hectares de vinha, em 20 quintas espalhadas pelas três sub-regiões do Douro – Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. “Os vinhos sem histórias não são nada”, frisa Olga Martins, CEO da empresa, onde está desde o seu início. “Estes lavradores acreditaram na união, todos sentiam na altura que a valorização das uvas Douro DOC era baixa”, acrescenta a responsável.

A nova sala de provas com vista para algumas das vinhas da casa.

A Lavradores de Feitoria estreia-se agora no enoturismo, um desejo antigo.

O ano de 2022 marca “a realização de um sonho” e um capítulo importante para a marca, que acaba de se estrear no enoturismo, com a construção da nova adega e loja de vinhos, na Quinta do Medronheiro, também a sua sede. Além do percurso pelas várias fases de vinificação, a sala de provas tem vista desafogada para as vinhas à sua frente, e por onde também se passeia em visitas guiadas, entre se conta a história da casa e a complexidade da região. “Há muitos Douros dentro do Douro, o que é desafiante para nós. Temos várias quintas, altitudes e terroirs, é quase como fazer música, juntando vários instrumentos”, explica Paulo Ruão, enólogo. E acrescenta que o mercado nunca esteve tão aberto às produções durienses: “A procura dos vinhos Douro, em especial os brancos, tem crescido imenso”.

Somando uma produção anual de um milhão de litros por ano, a quinta conta com vinhos como Lavradores de Feitoria, Três Bagos, Meruge e Quinta da Costa das Aguaneiras, juntando-se agora uma novidade, o lançamento do Vinha do Sobreiro tinto. Tem as notas florais e frutadas de uma Touriga Franca situada a 400 metros de altitude e é criado a partir de uma única parcela de vinha numa quinta no vale do Pinhão. “É um trabalho de minúcia e requinte”, adianta a CEO da produtora vínica, que já exporta para mais de 30 mercados lá fora.

O projeto nasceu há mais de duas décadas e soma 20 pequenos produtores e 600 hectares de vinhas.

A recém-inaugurada adega e loja ficam situadas em Sabrosa.

Tradição familiar de cinco gerações

Há cinco gerações que esta família está ligada à produção de vinho do Porto, mas só em 2008 Maria de Lurdes e Luísa Borges, mãe e filha, decidiram engarrafar as suas criações com marca própria. Luísa, a enóloga da VIEIRA DE SOUSA, terminou a faculdade e mudou-se para o Douro. Hoje, com a ajuda da irmã Maria no marketing, dão seguimento ao legado iniciado pelo tetravô, José Silvério Vieira de Sousa. “Voltámos às raízes da família”, conta Maria. Os vinhos fortificados (15 referências, sendo que 70% das garrafas são exportadas mundo fora) continuam a ser o principal pilar dos 60 hectares de vinha em solo de xisto situados à volta do Pinhão, mas as irmãs arriscaram e são a primeira geração a apostar também nos vinhos do Douro DOC (que já tem seis referências).

Agora, iniciam uma nova etapa e chegam ao enoturismo, com a abertura de uma loja e espaço de provas na Régua, na Quinta da Fiverda, uma antiga adega recuperada com espaço exterior onde se tem vista para a foz do rio Corgo. É na Vieira de Sousa Wine Port Shop que se provam e compram os vinhos das irmãs, que foram distinguidas com o prémio Produtor de Vinhos Fortificados do Ano 2021, pela Revista de Vinhos.

As irmãs Luísa e Marisa estão hoje à frente dos vinhos da Vieira de Sousa. (Fotografias: O Revelador)

Ligado aos vinhos fortificados e também aos Douro DOC, a Vieira de Sousa tem nova loja na Régua.

“É uma conquista de equipa e de família, o resultado de todo um trabalho desenvolvido em busca do equilíbrio perfeito entre o passado e o presente”, explica Luísa. Já dois anos antes, esta tinha recebido o título de Enólogo Revelação do Ano. No futuro, o objetivo é continuar a “homenagear os nossos antepassados e ajudar a elevar os vinhos do Douro, nomeadamente os fortificados”. Para breve há outras novidades, como a abertura de um alojamento local numa das quintas da família, em antigas moradas de caseiros, junto às vinhas e ao Douro.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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