Não há dúvidas; é Douro, embora estejamos na subregião de Baião, já no limite austral da Região dos Vinhos Verdes que faz fronteira com o Vale do Douro. Esta particularidade, somada aos solos graníticos (que obrigam as raízes das vinhas a procurar água e minerais nas profundezas) e não xistosos, com terraços de cultivo a baixa altutide e sujeitos a um clima quase mediterrânico, com influência continental e marítima, determinou, desde a primeira hora, a singularidade dos vinhos da Covela.
Não dá, porém, para começar a falar dos vinhos sem pelo menos uma achega na história. Que é longa, remontando ao século XVI, mas pode ser resumida. Em tempos recentes, o seu primeiro proprietário mais sonante foi o cineasta Manoel de Oliveira, duriense, que se empenhou em deixar a sua marca não só através da ampliação da casa principal e da adega na década de 1950 como da construção de aquedutos, muros, casas de pedra e eiras de granito para secar o milho.
Seguiu-se, nos anos 1980, o empresário Nuno Araújo, a quem se deve o grande investimento nas vinhas e, com a ajuda do enólogo Rui Cunha, a criação da marca Covela e a implementação de um projeto pioneiro no país de produção biodinâmica (100 por cento biológica) de vinhos, reconhecido a partir de 2007. Corria tudo tão bem que decidiu arriscar na construção de três casas modernas, assinadas pelo arquiteto José Paulo dos Santos, para enoturismo. A confiança levou-o a dar como garantia bancária a própria quinta. Só não preveu a crise.
O azar de uns é sempre a sorte de outros. Em 2011, depois de dois anos votada ao abandono (e em que se perdeu cerca de 40 por cento das vinhas), a Covela foi comprada pela Lima & Smith, resultante da parceria entre o empresário brasileiro Marcelo Lima e o ex-jornalista britânico Tony Smith. Foi, não escondem, um excelente negócio, ao ponto de Tony, que já havia trabalhado por um longo período em Portugal no meio editorial, não hesitar em se lhe dedicar a tempo inteiro — desde então, a sociedade comprou a Quinta da Boavista, fez um contrato de 30 anos para a exploração da Quinta das Tecedeiras, ambas no Douro, e adquiriu uma uma participação na Maison Champy, na Borgonha.
E, agora sim, os vinhos. Os atuais proprietários retomaram o método de produção biodinâmico e recontrataram boa parte da equipa, encabeçada pelo enólogo, mas tomaram uma decisão que espantou muito boa gente no meio: nada de vinhos tintos na Covela (para isso têm a Boavista e a Tecedeiras, onde vão produzir igualmente Porto). Só brancos e rosés.
Cientes de que os tintos produzidos anteriormente não era maus, mas de consumo difícil, eles assumiram as caraterísticas do terroir para aprimorar os brancos e rosés — que serão sempre vinhos austeros, minerais, com boa acidez e poucos frutos vermelhos; em outras palavras, vinhos de autor, com uma elegância que pede comida, daí a aposta na restauração.
De olho no enorme potencial de envelhecimento dos brancos em garrafa, a covela fez da casta do Avesso “o seu cavalo de batalha”, até porque querem contrariar de uma vez por todas quem insistem em associar o vinho verde a doçura e gás. Numa vinha que ainda não atingiu a sua maturidade comercial, o desafio, para além do Avesso, casta autóctone de Baião, é investir em castas nacionais como o Arinto, menos conhecidas a nível internacional, a par de outras que se adaptaram bem aos terrenos graníticos como são o Chardonnay, o Viognier e o Gewürztraminer.
E porque estas castas se exprimem de forma diferente lote a lote, a vindima é feita manualmente e por parcelas. O resultado, mesmo nos rosés (mais abertos e pálidos como no Sul da França), são sempre vinhos um pouco mais caros, mas que compensam pela sua finesse e potencial de progressão — aviso de navegação: os mais pacientes só terão a ganhar em guardá-los e esperar.
S. Tomé de Covelas, Baião
Tel.: 254886298
Web: covela.pt