Douro no copo e na paisagem na Quinta do Pessegueiro

Várias referências à prova na Quinta do Pessegueiro (Fotografia de Artur Machado/GI)
Na Quinta do Pessegueiro - que na verdade são duas quintas, uma adega e uma casa de turismo de luxo - fazem-se vinhos com castas tradicionais do Douro, algumas já raras. A adega, que funciona exclusivamente por gravidade, justifica uma visita, e os vinhos, uma prova, ou várias.

Numa encosta em Ervedosa do Douro, lugar da Afurada, uma adega ergue-se entre quintas e vinhas. Mas só se percebe a verdadeira dimensão desta quando lá se entra e se percorre os seus cinco andares, parte deles subterrâneos. Daqui saem os vinhos da Quinta do Pessegueiro, blends das cepas mais comuns do Douro, mas também monovarietais de castas que, pela sua baixa produção, são já raras da região, como a Tinto Cão. A enologia está a cargo de João Cabral Nicolau de Almeida.

Célia Varela, diretora-geral deste projeto fundado pelo francês Roger Zannier, que fez fortuna com uma empresa dedicada à moda infantil, guia os visitantes pela moderna adega e conta a história da marca, que se estreou no mercado em 2012. Esta não é a primeira incursão de Zannier no mundo dos vinhos, pois é também proprietário da Château Saint-Maur, na Provença, França.

Roger Zannier conheceu Portugal por causa dos têxteis e, em 1991, apaixonou-se pelo Douro e comprou a primeira quinta em Valença do Douro. “Aí, começou a produzir uvas para vender à Quinta do Noval”, conta Célia. Ganhou o gosto e quis ter marca própria, tendo assim comprado, em 2006, a Quinta da Teixeira. “Um ano depois, como desejávamos construir a adega e não era possível fazê-lo nessa, compramos este terreno [Afurada]”, conta. Em 2010, estavam já a produzir os primeiros vinhos.

Nada foi deixado ao acaso na adega, a primeira desenhada pelo ateliê portuense Oitoemponto. “Foi pensada para trabalhar por sistema de gravidade”, esclarece Célia Varela. A uva, transportada em caixa de 22 quilos, é rececionada e pesada, antes de entrar diretamente para a câmara frigorífica, onde fica 12 horas.

A gravidade evita a utilização de bombas nas remontagens e nas trasfegas. As remontagens são feitas com a ajuda de uma “cuba elevador”, que transporta o líquido da parte inferior da cuba para a parte de cima onde se juntam os sólidos, para voltar a entrar em contacto e passar mais tempo com estes.

É dentro da adega que se faz tudo, da pisa a pé nos tanques de granito – para os topos da marca – ao engarrafamento e rotulagem. Um dos momentos mais solenes é o envelhecimento dos vinhos, numa cave feita de arcos revestidos a dourado que, garante Célia, “não é para mostrar ostentação”, antes para prestar homenagem ao “néctar precioso” que ali está a descansar. “Este é o nosso cofre-forte”, brinca.

Passando da cave para o piso cimeiro, com enorme varanda para a vinha envolvente, a parcela da Afurada, está-se na sala de provas. Estas podem ser feitas em três versões: uma onde se provam apenas referências dos vinhos tranquilos da casa, outra que inclui dois portos, um branco e LBV, e uma terceira que acrescenta charcutaria e um monovarietal.

Além da produção de vinhos, Zannier apostou na hotelaria de luxo. A juntar às unidades em França, Espanha e nas Maurícias, abriu uma casa – na verdade, uma espécie de solar – numa encosta do Douro, com vista panorâmica para o rio, a poucos quilómetros da adega. Com seis quartos de decoração inspirada em países (um deles para seis crianças e mais um, em casa à parte, para eventual staff), terraço, churrasqueira, jardim, vinha e acesso ao rio, a habitação foi recuperada de uma edificação antiga pelo mesmo ateliê que desenhou a adega.

A casa tem disponíveis instrumentos musicais, como um piano e uma guitarra, biblioteca, jogos de tabuleiro e também equipamento para a prática de ioga, além de ginásio.

A pedido, os hóspedes têm direito a refeições inspiradas na cozinha tradicional portuguesa, acompanhadas com os vinhos da casa, que não viajam muito para chegar à mesa.




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