Cheiros de fermentação, tubos estendidos e chão molhado, tanto na adega como na cervejaria, provam que o cervejeiro Matthew Monteiro e o enólogo David Ferreira-Jorge não têm tido mãos a medir em mais uma época de vindimas na Quinta dos Santos, em Estômbar. Casta-rainha, a negra mole é como sempre a última a colher, respeitando aquele que o enólogo considera ser o ponto ideal de maturação. “Tentamos vindimar na altura certa para o mosto ter as caraterísticas que procuramos”, explica David, também gestor de produção e adepto de métodos tradicionais.
Versátil não apenas no tipo de vinhos com que pode ser feita, mas também nas harmonizações com comida, a casta destaca-se num tinto de 2022 “fácil de beber, frutado e leve”, com “pouca acidez e pouca estrutura”. O ideal para acompanhar a dieta regional à base de peixe e marisco. Alinhado com o perfil surge também o Escolhido 2022 (malvasia fina, verdelho, arinto e sercial), com “boa salinidade e frescura”, a confirmar a proximidade do mar. A equipa procura ano apósano fazer “vinhos delicados, meticulosos, com boa acidez e pouco alcoólicos”, diz ainda David.
Mário Andrade, reconhecido enólogo das regiões Tejo e Alentejo, dá consultoria à parte vínica, enquanto David Ferreira-Jorge se encarrega de todas as fases do processo, acompanhando a performance das dez variedades divididas por 4,2 hectares de vinhas em solos argilo-calcários. Fazer uma visita guiada à adega, seguida de prova das marcas Escolhido e Tesouro, é a forma mais completa de conhecer a Quinta dos Santos, que na verdade se estreou no mercado local com cervejas artesanais, após o casal luso-sul-africano Ann e Eugene ter comprado o terreno.
Donos de um lucrativo negócio de aço inoxidável, passavam já férias numa casa na vizinhança, com os filhos Kyle e Greg, e num momento inicial não souberam que destino dar à propriedade. A cervejaria permitiu dar, então, um pontapé de saída, estando a cargo do cervejeiro Matthew Monteiro. “Só usamos ingredientes de alta qualidade, água, lúpulo, levedura e malte de cevada, no processo de moagem, brassagem, filtração e ebulição do mosto, fermentação e maturação”. Produzem 50 mil litros por ano, de seis estilos: Lager, Pilsner, Pale Ale, IPA, Amber Ale e Stout.
Enquanto as duas primeiras são mais suaves e próximas do sabor das cervejas comuns, a IPA e a Pale Ale são “mais amargas e aromáticas”, ao passo que as restantes são “mais torradas e encorpadas”. Periodicamente, também produzem cervejas sazonais, com as quais podem fazer experiências. Os coloridos rótulos estão à venda em restaurantes, hotéis e supermercados da região, e bem assim no restaurante A Esquina, que tira as cervejas de uma torneira à pressão, acompanhando-as de pratos portugueses, num pátio com estética andaluz e uma bela oliveira.
No extremo oposto encontra-se um terraço com vista para as vinhas, onde sabe ainda melhor picar a tábua de presunto, salpicão, paio do lombo, azeitonas, compota e queijo de mistura de Alzejur, seguida de um robalo com molho de espumante e batata confitada e de um lombo da vazia com demi glace e batata frita. Fica ao critério dos clientes o momento certo para provar também o gin premium da Quinta dos Santos, com água tónica ou como elemento de um dos dez cocktails originais, como o que junta gin, vinho Escolhido Rosé, flor de sabugueiro e limão.
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