Crítica de Fernando Melo: Vinhos sem véus nem máscaras

Vinhos Imperfeitos, do enólogo Carlos Raposo.
Carlos Raposo está no pleno da maturidade no duplo ofício de enólogo e criador de vinhos. Tanto que se estabeleceu por conta própria, batizando a ventura como Vinhos Imperfeitos. O projeto fundador, que vai contra a corrente sem afrontar ninguém, conhece agora os três primeiros títulos.

Há horas felizes e impulsos inexplicáveis. O momento em que o jovem Carlos Raposo decide ainda na menoridade que quer ser enólogo e encontra acolhimento e apoio imediato na sua família inaugura um esteio que depressa passa a norma, para nunca mais conhecer interrupção nem retrocesso. Saiu do país na madrugada da juventude em direção a Bordéus, onde se licenciou em enologia. Permaneceu naquela Meca académica mais uns anos para completar o mestrado. Ao fim de sete anos de academia no Velho Mundo parte para o Novo Mundo, onde confirma conhecimentos e deixa crescer em si a dúvida e o pragma por que aprendeu a pautar-se; a ideia de que tudo tem explicação e finalidade, renunciando ao dogma.

A força com que abraçou o projeto multifacetado da Niepoort junto do sempre inspirado e imprevisível criador de vinhos que é Dirk Niepoort produziu uma onda de choque que ainda hoje se sente em todas as frentes vínicas da casa. Douro, Bairrada, Verdes, Dão e Porto, abordados com segurança absoluta mostraram o acerto do seu génio. Aprendeu que a perfeição está na diferença e nas singularidades e na hora feliz de se abalançar à criação do seu projeto individual, nasceu a Vinhos Imperfeitos. O próprio Dirk Niepoort rapidamente se tornou admirador dos novos vinhos, porque são perfeitos; ou seja, têm as imperfeições essenciais dos grandes vinhos. Partilhamos aqui as nossas impressões. Boas provas!

 

Imperfeito Dão branco 2018 (12,5%)
Vinhos Imperfeitos
Classificação Evasões: 19
Esgana cão, rabo de ovelha, encruzado, malvasia fina, douradinha, barcelo e branda entre outras, provenientes de vinhas centenárias diversas. Uma parte fermentou em cuba inox, outra em barricas usadas de Puligny Montrachet (Borgonha), harmonizadas conjuntamente em cuba de cimento com mais de 50 anos. Resultado muito original, longo e estável na boca, grupo de amargos atraente, salino ao longo de toda a prova. Frescura impressionante pela evolução lenta no palato, sempre em equilíbrio.
Preço: 286 euros

 

“…” verde branco 2018 (11,5%)
Vinhos Imperfeitos
Classificação Evasões: 18
Arinto, loureiro e avesso, uvas provenientes da região de Baião, vinificadas em cuba inox. Tonalidades terra surpreendentes e ao mesmo tempo profundamente salino. Sugere na prova semelhanças notáveis com alguns terroirs de Chablis, na Borgonha, numa grande expressividade. Francamente gastronómico, é também um vinho enigmático, puxando à descoberta. Um hino à Região dos Vinhos Verdes.
Preço: 113 euros

 

D&V Code branco 2018 (12%)
Vinhos Imperfeitos
Classificação Evasões: 18
Avesso, alvarinho, esgana cão, rabo de ovelha, encruzado, malvasia fina, douradinha, barcelo, branda, entre outras. Uvas provenientes de Canas de Senhorim (Dão) e do Vale do Sousa (Verdes). É um vinho de tese muito original, em que o todo é maior que a simples soma das partes e representa uma abordagem em que Carlos Raposo sempre acreditou muito. Muito fresco e mineral, vai beneficiar de um par de anos em garrafa.
Preço: 148 euros




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend