Crítica de Fernando Melo: oito sugestões de vinhos Maçanita

O crítico Fernando Melo. Fotografia: Rui Oliveira/GI
António Maçanita é criador de vinhos a um tempo conservador e inquieto. A obsessão pelo inteiramente novo que tem o condão de descobrir nos lugares por que muitos passaram sem dar por isso, aliada a um invulgar arsenal técnico, criou à sua volta um universo empresarial em que tudo, incluindo próprio, é patrimonial.

No Alentejo, em Graça do Divor, ergueu uma catedral por mãos próprias e chamou os melhores para o secundar no esforço enológico multivariado que corporiza a Fitapreta Vinhos. É palco de experiências, pesquisas e sobretudo muito arrojo. A liderança empresarial é atributo muito raro em profissionais de perfil técnico-científico como é o caso de António Maçanita. Aproveitou tudo o que pôde para ir mais fundo na história e tradição locais, método que de resto exportou para todas as regiões e projetos em que se envolveu.

A sua irmã Joana, também ela uma força da Natureza, fundou com ele a ventura duriense que já está a dar bons frutos, a que há que juntar as consultorias de grande gabarito que ambos detêm no Algarve. A Touriga Nacional do Douro teve em 2018 um dos melhores expoentes de sempre, pontuaram muito bem na nossa prova, e um deles atingiu mesmo o patamar de clássico. Os Açores, a que está umbilicalmente ligado, são paixão sua desde há muito, a adega da Azores Wine Company é hoje uma realidade em plenos currais do Pico, e era aos olhos de muitos uma fantasia irrealizável. Assim como atingir em tempo recorde vinhos notáveis, de nível internacional.

A seleção que apresentamos resulta de prova de dezenas de vinhos de chancela Maçanita, e a qualidade está ao alcance de quem a quiser comprovar. Boas provas!

 

O Alfrocheiro também queria estar nu Alentejo tinto 2018 (15,5%) | Fitapreta
Preço: 22 euros | Classificação Evasões: 19

100% Alfrocheiro, segundo António Maçanita progenitora de castas antigas como Castelão e Moreto, portanto mais antiga. De certa forma, é fundadora no panorama vitícola alentejano. Este vinho provém de uma vinha com meio século, vinificação sem madeira nem qualquer outra manipulação, a mostrar a essência autêntica da casta.

 

Maçanita Touriga Nacional Cima Corgo Douro tinto 2018 (14,5%) | Maçanita
Preço: 30 euros | Classificação Evasões: 18

Vinha a 550 metros de altitude. Balanço esplêndido entre concentração e extração, resultando num vinho que dá prazer a beber já e que vai durar ainda muito tempo em garrafa. Perfil cítrico e terroso, com notas de raspa de toranja e cogumelos frescos.

 

Chão dos Eremitas Moreto Alentejo tinto 2018 (15%) | Fitapreta
Preço: 35 euros | Classificação Evasões: 18,5

A Moreto é uma casta do antigo encepamento do Alentejo, irmã do Castelão e filha do cruzamento das castas Sarigo e Alfrocheiro Preto. Vinha com meio século, no sopé da Serra de Ossa. Mais um trabalho fundador de inventariação e conhecimento. Copioso na boca, grupo de amargos bem harmonizado e uma elegância surpreendente.

 

Tinto de Castelão (vinho de mesa) tinto 2018 (13%) | Fitapreta
Preço: 20 euros | Classificação Evasões: 17

100% Castelão. Trabalho notável de recuperação da que é uma das mais estruturantes castas nacionais. Cor carmim aberto, aromas de fruta madura de arbusto e esteva, apresenta os toques balsâmicos típicos da casta Castelão, num estilo que está a regressar às preferências dos consumidores nacionais.

 

Arinto dos Açores Indígenas Pico branco 2018 (12,5%) | Azores Wine Company
Preço: 28 euros | Classificação Evasões: 18,5

Fermentação espontânea com leveduras indígenas da ilha do Pico, vinhas inesquecíveis, de currais junto ao mar, casta Arinto dos Açores, que há que não confundir com a Arinto continental. Muito boa acidez e muito sabor, num vinho capaz de toda a empreitada gastronómica.

 

Maçanita Touriga Nacional Letra A Douro tinto 2018 (15%) | Maçanita
Preço: 30 euros | Classificação Evasões: 19

Impressiona desde logo a pureza dos aromas florais de violetas e frutados de ameixa cozida e raspa de citrinos que o vinho mostra. A prova de boca é gloriosa, quase etérea, tal a harmonia que revela. Perfil mineral e salino, encepamentos de vinha velha mais próxima do rio, grande concentração.

 

Terrantez do Pico Açores branco 2019 (12,5%) | Azores Wine Company
Preço: 50 euros | Classificação Evasões: 19,5

Produção ínfima, casta recuperada graças aos esforços conjuntos dos três bravos empreendedores e amigos que já mudaram a face dos vinhos dos Açores para sempre. Porte majestoso, perfil clássico, é delícia garantida para décadas. A melhor edição de sempre.

 

A Trincadeira não é tão preta Alentejo tinto 2019 (14,5%) | Fitapreta
Preço: 25 euros | Classificação Evasões: 18

A casta Trincadeira Preta é a Tinta Amarela que encontramos mais a norte, como espinha dorsal de parte do Douro, e é tão caprichosa lá como aqui no Alentejo. Exige marcação rigorosa de vindima e quando tudo está no zénite dá vinhos equilibrados, frescos e longevos, como é o caso deste.




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