Crítica de Fernando Melo: Barca Velha 2011

O crítico Fernando Melo. Fotografia: Rui Oliveira/GI
Começou com o 1952 o vinho idealizado pelo grande Fernando Nicolau de Almeida ao serviço da Casa Ferreirinha como espécie de “terroir blend”, tal como acontece com os Portos Vintage, em que o resultado final é um mosaico do melhor que cada local tem para dar.

O grupo Barca Velha é tanto ou mais exclusivo do que o Porto Vintage, já que neste último cada década de história viu acontecer três a quatro declarações ditas clássicas, enquanto ao longo de quase setenta anos de carreira houve apenas 20 lançamentos da marca suprema do vinho português. Liderança que em rigor divide com a marca Mateus Rosé, a primeira orientada para o mercado global e que origina a fundação da Sogrape, em 1942.

A garrafa que tem a forma de cantil e o palácio de Mateus, em Vila Real, no rótulo nasce no tempo difícil de míngua que marca o termo da II Guerra Mundial, e demonstra a visão do fundador Fernando Van Zeller Guedes que juntamente com o enólogo Fernando Nicolau de Almeida criou uma senda imparável de excelência na empresa. A marca Barca Velha é inspirada no local do Douro Superior – para lá do que se conhecia como Alto Douro – com o mesmo nome, junto ao Vale Meão, onde de facto nasceu.

Há que dizer que um dia de viagem não bastava para chegar a essas paragens e que só a tenacidade conjunta do empresário e do enólogo fizeram consolidar. Fernando Lobo Guedes, filho do fundador foi o grande timoneiro da empresa, levando para diante com grande energia e empenho o projeto Sogrape. Morreu em 2018, quando já era secundado pela terceira geração da família. Hoje é Fernando Guedes, neto do fundador que lidera o grupo empresarial e foi ele que recebeu os convidados para a mais bela e discreta cerimónia de lançamento de um Barca Velha, na Quinta da Leda.

Luís Sottomayor assina o Barca Velha 2011 e ao mesmo tempo apresenta o mais disruptivo de sempre em toda a nobre e longa série. Como fez? Apoiado no grande ano no Douro que foi 2011, construiu um vinho incrivelmente poderoso e ao mesmo tempo elegante, como só o Douro consegue produzir e como só um grande enólogo consegue fazer.

A prova deste vinho único mostra além de juventude a toda a prova – apesar dos seus quase nove anos de idade – um equilíbrio desarmante. Estrutura muito bem urdida, assente em taninos muito finos, autêntico trabalho de ourives, vestida por uma acidez corretíssima. A base, afinal, do que reconhecemos como frescura de um vinho e que aqui foi elevada ao máximo expoente. Pode beber-se já, com muito prazer, mas felizes mesmo serão os que o provarem daqui a quarenta anos.




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