Casa Relvas, um enoturismo familiar em Évora

Na Herdade da Pimenta, em Évora, toma-se o pulso à paixão da família Relvas pela terra alentejana. E pelos vinhos que brotam deste chão, de preferência com companhia de faca e garfo. Enoturismo em versão descomprometida.

À primeira vista, é uma adega como tantas outras. Um local de trabalho, acima de tudo, assumindo o luxo que é trabalhar com uma vista destas, de vinha, campo, Alentejo. Na Herdade da Pimenta, não há fogo de vista, porque isso não faz o estilo da casa. O que importa está no interior. Mesmo na receção do serviço de enoturismo, que serve dupla função como loja, espaço amplo, elegante, luminoso, com uma mesa alta de provas, bancos de cortiça e um expositor com a longa gama de vinhos produzidos na casa, predomina uma certa informalidade. «O nosso estilo não é comercial numa forma agressiva», assente Maria José Lopes, diretora de marketing da Casa Relvas. Faz sentido.

Ao início de tudo, está a terra. No sentido literal, com quatro caixas de vidro, cada qual com sua amostra de solo, das quatro vinhas da casa, a demonstrar o quanto o chão muda num punhado de quilómetros, e com ele o caráter das uvas que dele brotam. Explicação ótima para princípio de conversa. Mas há também o sentido figurado, o da paixão de Alexandre Relvas e da sua família pelo Alentejo, e a vontade de ter o seu quinhão de terra, que começou pela exploração de sobreiros, mas que por «contágio» de amigos e vizinhos se voltou para os vinhos.

Há um certo ar de acaso nesta história, que a torna mais «orgânica». Mais apetecível, se preferirmos. «A primeira colheita foi produzida por hobby», atira Joana Queiróz, a responsável pelo serviço de enoturismo. Por hobby, imagine-se. «E percebeu-se que havia potencial.» Já passaram 14 anos desde que chegaram ao mercado as primeiras 26 mil garrafas do tinto Herdade de São Miguel Colheita Selecionada, nascido dos primeiros 10 hectares plantados – por hobby! – em 2001. Hoje são 100 hectares de vinha entre Évora e Redondo, e outros 89 (que hão de ser 149) na Vidigueira, mais 100 em regime de exploração, a produzir seis milhões de garrafas por ano. Sim, havia potencial.

O leque de marcas é longo, tanto cabem as referências de grande volume como os vinhos de quinta. Entre estes, contam-se curiosidades como a gama Art.Terra, de «inspiração ancestral», que inclui um biológico, um branco de curtimenta (de extração prolongada e tom laranja), e a referência Amphora, com fermentação em talhas de barro e aromas que lembram o cheiro da terra alentejana. Sem esquecer o Pé de Mãe, o vinho especial da casa, cuja primeira edição foi recentemente lançada, nascido de uma decisão de razão e coração: «Veio do melhor talhão de vinha, de trincadeira, estava tão bom que os enólogos acharam que merecia o seu próprio vinho.» Confirma-se, merecia.

Em querendo-se, a visita, além de incluir prova, adega, vinhas e a cave de barricas, onde se pode experimentar os lotes em estágio, inclui também um almoço regional, invariavelmente envolverá borrego assado, de criação própria – a produção de lã de ovelha merino é outra das valências da casa –, feito sempre que possível pela cozinheira da família Relvas. Ou não fosse este, na sua essência, um negócio de família.

Na Taberna Típica Quarta-Feira não há carta e o dono é que decide o que se serve. (Fotografia de Fernando Marques)


À MESA

Boas mesas não faltam nas redondezas, e na Casa Relvas basta perguntar, que há sempre preciosas recomendações. Entre elas, a Taberna Típica Quarta-Feira, restaurante de sala pequena e contacto próximo com o anfitrião, que decide – ele sabe melhor do que ninguém – o que há de melhor para comer em cada dia. Menu, não há. Mas há carta de vinhos – curta, porém criteriosa. E com uma boa secção da Casa Relvas.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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