Brancos imperdíveis para beber ou guardar

Vem aí o calor, a lazeira e o inefável prazer de uma refeição ao ar livre. Queremos e merecemos, assim como merecemos também os melhores vinhos para uma celebração especial, para quando apetece e até para guardar. Aqui tem seis brancos de truz que não pode mesmo perder. Um conjunto de garrafas para beber agora ou guardar por muitos anos, para uma ocasião especial.

O cenário vínico nacional mudou radicalmente em 30 anos apenas. Antes de 1990, retínhamos marcas e não colheitas específicas, as regiões tinham um papel secundário, não havia relação pessoal com produtores nem enólogos e os enófilos preferiam os tintos aos brancos. Agora, graças a uma imprensa especializada consciente e aos meios de comunicação para lá do papel com que passou a interagir com os seus públicos, tudo está mais ao alcance de todos. E como que por efeito coletivo, mudou-se do registo de vinhos maciços e monolíticos para o da elegância, equilíbrio e sobretudo gastronómicos e amigos da boa mesa.

De repente, entre os vinhos enviados pelos produtores acumulámos a evidência de que o tempo dos vinhos brancos de excelência está mesmo aí, exemplos não faltam. Selecionámos seis e além do elevado desempenho em prova utilizámos um outro critério: a longevidade. Uma garrafa de vinho é como um organismo vivo, álcool, polifenóis (taninos) e acidez mantêm viva a girândola de cambiantes por que vai passando.

Podemos hoje dizer de um grande vinho branco o que outrora dizíamos apenas de um grande tinto, que melhora com a idade. A enologia e a viticultura nacionais estão de parabéns, pela tribuna notável de grandes brancos atualmente no mercado. António Maçanita pegou em vinhas velhas de granitos da serra d’Ossa, no Alentejo, estudou, como é seu apanágio, as variedades que aí encontrou e saiu-se entre outros com um branco absolutamente brilhante, produzido a partir da casta alicante-branco, que sempre foi tida por casta menor, com pouco interesse para vinho. Fez um branco brilhante e vibrante.

A dupla Diogo Campilho e Pedro Pinhão acaba de extrair o primeiro branco da marca Dona Isabel Juliana na Quinta da Lagoalva, em Alpiarça, com equilíbrio e elegância a toda a prova. Na margem esquerda do Douro, na Quinta de Ventozelo, o grande chef Vítor Matos (Antiqvvm, Porto, uma estrela Michelin) e o enólogo José Manuel Sousa Soares produzirem uma obra de arte a meias, graças ao entendimento e amizade grande que existe entre ambos.

David Baverstock está à frente da enologia do Esporão há mais de 30 anos e deu há pouco tempo a conhecer o nível superlativo que imprimiu sempre à gama Garrafeira Private Selection de brancos, começamos agora a ver que a sua intenção sempre foi de produzir vinhos de guarda. Selecionámos o mais recente, lançado há pouco tempo.

Dos granitos velhos do Dão e do génio do enólogo Carlos Silva, apresentamos um grande branco da casta encruzado, evocativo dos grandes exemplos de há 40 anos ou mais, produzidos no Centro de Estudos de Nelas. E da mão do inquieto e surpreendente Dirk Niepoort temos a mais recente edição do seu topo de gama branco, Coche. Incrivelmente uno na boca, é esmagadora a personalidade deste vinho, e marca claramente uma tendência que a prazo todos seguirão. Mas fundamental mesmo é provar os vinhos que propomos, e guardar, para dentro de 10 ou 20 anos nos sentarmos a aferir o trabalho feito. Boas provas!

VINHOS

18,5 – Chão dos Eremitas Alicante Branco Alentejo branco 2018 (12,5%)
Fitapreta

A designação original desta casta era outrora boal-de-alicante ou boal-cachudo. Solos graníticos na serra d’Ossa. Impressiona tudo o que este vinho mostra. Começa pelas sugestões minerais no nariz, prolonga-se nas impressões cítricas de laranja amarga e cravinho na boca, e termina longo na boca, em sugestões salinas. Belíssimo com uma sopa de tomate à alentejana com todos.
Preço: 25 euros

18,5 – Quinta da Lagoalva Dona Isabel Juliana Tejo branco 2018 (12%)
Quinta da Lagoalva

Alvarinho, viosinho e fernão-pires. Cor dourada esverdeada, aromas evocativos de flores do campo, figos frescos e lima. Madeira presente mas muito bem integrada. A boca é vibrante na entrada, para logo a seguir se mostrar copiosa em tonalidades de dióspiro, chá e casca de melão. Termina longo e muito fino, com toques salinos. Maravilhoso com robalo ao vapor com algas.

Preço: 35,30 euros

18 – Natura by Vítor Matos Douro branco 2016 (13,5%)
Quinta de Ventozelo

Fermentação e estágio em barrica, 2 novas, 3 usadas. Na cor não denuncia os anos de estágio, tem apenas alguns laivos de amarelo mais carregado, e no nariz está ainda nos tons citrinos, matizados com notas de jasmim e líchias. Boca de entrada elegante, excelente integração da madeira, acidez e estrutura em balanço perfeito, é vinho para guardar por dez ou vinte anos sem perder o equilíbrio fino que apresenta. Salmonete com molho dos seus fígados, como só o chef Vítor Matos faz, é uma das harmonizações felizes possíveis. Preço: 38 euros

18,5 – Esporão Private Selection Garrafeira Alentejo branco 2018 (14%)
Esporão

Seis meses fermentação com batonnage em barricas de carvalho francês de 550 litros. Depois seis meses de estágio em garrafa. Notas aromáticas de pastelaria e ameixa confitada, num fundo de grande complexidade. A boca sugere nêsperas, melaço e toranja, tudo muito bem integrado. Final muito longo. Muito bom com o bem alentejano ensopado de borrego.
Preço: 20 euros

18 – Chão da Quinta Encruzado Oaked Reserva Dão branco 2017 (13%)
Chão de São Francisco

100% encruzado, a casta branca rainha do Dão e uma das grandes castas de Portugal. Estágio parcial em barricas de carvalho-francês com batonnage. A madeira está perfeitamente integrada e ajuda no vinho a criar polifenóis mais complexos e redondos, ao mesmo tempo que o prepara para um longo período de estágio em garrafa, dando continuidade à grande tradição da região. Não há melhor ligação para o queijo serra da Estrela. Preço: 13 euros

19 – Coche Douro branco 2018 (11,4%)
Niepoort

Rabigato, viosinho e códega-de-larinho, vinhas acima dos 600 metros. Fermentou em barrica e fez malolática parcial. Estágio de 12 meses em barrica. Vinho a um tempo poderoso e elegante, enologia de vanguarda com um registo vibrante que, apesar do baixo grau alcoólico, se mostra encorpado e avassalador. À mesa percebe-se melhor a grandiosidade, por exemplo com pregado salteado com alcaparras e beurre-noir.
Preço: 58 euros




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