António Pista: “O nosso concorrente não é o vizinho do lado; está lá fora”

António Pista (Fotografia: DR)
António Pista, criador dos vinhos Tapada da Fonte, nascido em Alter do Chão, a terra onde tem história. Deseja que a aposta passe cada vez mais pela biodiversidade e pela qualidade acima da quantidade.

Esta é uma história de determinação em que todos os caminhos foram dar a Alter Pedroso, esse alto de Alter do Chão que tinha tudo para dar uvas. E deu. E um vinho excelente, despretensioso, fixado num desiderato: os vinhos de Portugal só vencerão a luta da sobrevivência se se impuserem lá fora pela qualidade.

É António Pista o criador dos néctares Tapada da Fonte. Ele que, diz, nunca sonhou fazer vinho. Economista com a infância e a juventude vivida em Alter do Chão, iniciou-se nos vinhos há 15 anos como gestor comercial num projeto de internacionalização. Passaria pela exportação desde Portugal e importação a partir de Angola, sairia quando o mercado angolano começou a mudar, decidiria meter-se numa pós-graduação em “wine business” e levaria com uma pandemia castradora já depois de ter desenhado um projeto fictício de produção de vinho. Agarrou nele e pensou: por que não pô-lo na terra? E que terra? “Só podia ser Alter do Chão”, porque é lá quem tem tudo, os pais, os sogros, o passado. “Liguei ao meu pai.”

É aqui que António Pista chega a Alter Pedroso e a um quinhão de terra com cinco hectares perfeitos: aos 400 metros de altitude, com um verão com amplitude térmica de 15 graus e solo argilo-calcário. Era 2020 e, obtida a autorização e analisado e preparado o terreno, 2021 foi o ano da plantação. Em 2022, Alter foi chão que deu uvas.

E é aqui que o confrontamos com a pergunta que enche a boca do mundo da viticultura: apostar as fichas todas numa produção, ainda por cima pequena, quando há queixas de que as uvas não têm escoamento? Qualidade é a resposta que dá. Se há uvas a sobrar é porque há excesso, não de produção da vinha portuguesa, mas de importação de vinho espanhol barato. “O problema está identificado.” A solução? O futuro pede qualidade, as gerações mais novas evidenciam uma tendência de menor consumo, “um copo de vinho faz bem, uma garrafa inteira de seguida não”. Portanto, o vinho terá de ser um produto com mais qualidade, produzido em menor quantidade e, por isso, algo mais caro. Para tal, “os produtores têm de estar unidos e não se olharem como concorrentes. Os vinhos portugueses representam 2% do mercado mundial: o nosso concorrente não é o vizinho do lado; está lá fora”.

Como se ganha a batalha da qualidade? António Pista tem uma ideia muito pessoal sobre o assunto. Com a ajuda do consultor de viticultura Pedro Tereso, ligado à agricultura regenerativa, criou uma vinha em equilíbrio com o que a rodeia, em vez de ter uma paisagem sem ervas, com tratores a limpar todas as semanas. “Se a erva nasce no terreno é por algum motivo, embora se possa escolher uma ou outra semente que ajude a controlar as espécies invasivas. Sabemos que, se semearmos mostarda, teremos mais azoto, que é do que a vinha precisa. E, depois, temos as ovelhas” do pai dele, reformado de uma vida nos enchidos. Não só controlam o crescimento das ervas como fertilizam o solo. E ainda que trinquem alguns pedaços de vinha, “o benefício que trazem é muito superior ao estrago”. Ficam na vinha de outubro a março. Completam-nas os abrigos para morcegos e pássaros, a sementeira para promover a dita biodiversidade e o recurso a pesticidas apenas em caso extremo de risco para a vinha, como sucedeu este ano com uma praga de cigarrinha verde (cicadela). “Não sou fundamentalista.”

O primeiro vinho branco chegou ao mercado em março de 2023. Chama-se Tapada da Fonte, nome que lhe advém da fonte que adorna o terreno, e é um blend de Alvarinho, Arinto e Verdelho. No mesmo mês juntou-se-lhe o rosé da Pista Wines (Touriga Nacional e Syrah). Seguiria o tinto (Touriga Nacional, Syrah e Petit Verdot). Já 2024 traria os monocastas: um Arinto e um Touriga Nacional. Todos com vinificação em Estremoz, a cargo de Joachim Roque, enólogo com Ana Paulino dos vinhos Pista e vinificador de projetos sem adega, como este, que não a tem por falta de espaço.

A campanha deste ano saldou-se em 12 mil garrafas. O objetivo é chegar às 38 mil no sétimo ano, contabilizadas prevendo uma produção de oito toneladas por hectare, “o que não é muito”. Trata-se, lá está, de privilegiar a qualidade à quantidade, com a mínima intervenção possível para que o vinho evidencie o terroir: um chão de notas cítricas nos brancos e de um forte tom rubi no jovem tinto que provámos.

 

Pista Wines

Os vinhos Tapada da Fonte, de António Pista, podem ser encontrados em algumas garrafeiras das regiões de Lisboa, Algarve e Alto Alentejo, ou online. Blends a 11,50 euros e monocastas a 18,50 euros. Web: instagram.com/pistawines.




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