Viseu: terra de lagos, spa, termas e praias fluviais

Na cidade de Viseu e arredores, entre um bar climatizado a 10 graus negativos e um mergulho ao final do dia num lago com a água a 28 graus, há todo um leque de opções para refrescar uma evasão em tempo de verão.

VELEJAR NA BARRAGEM DA AGUIEIRA

Dois mil hectares de área inundada, 50 quilómetros de extensão navegável, zero corrente. Não é preciso muito, bastam os números, para vender a AGUIEIRA como destino para turismo náutico. Saber que aqui se pode fazer ski aquático, wakeboard, andar de caiaque, de mota de água ou fazer passeios de barco dificilmente causará espanto a alguém.

O que pode surpreender, contudo, é a descoberta de que aqui, a mais de 50 quilómetros em linha reta do Atlântico, também se pode velejar. Mais: na BARRAGEM DA AGUIEIRA pode-se aprender. «Com oito horas de lições, um iniciado aprende o básico da vela», afiança Ricardo Andrade, instrutor da academia desportiva Okup, que assegura as atividades aquáticas do resort MONTE BELO AGUIEIRA. À disposição, há quatro veleiros da classe Optimist (para crianças), um barco-escola Raquero e três catamarãs para quem já se souber desembaraçar. O leque de possibilidades inclui também o windsurf, e aí, garante Ricardo, um par de horas poderá bastar para aprender o básico, graças aos ventos ligeiros.

A marina da Aguieira surpreende quem não a conhece: nela cabem nada menos do que quatrocentas embarcações.

Também a marina da Aguieira surpreende quem não a conhecer: nela cabem nada menos do que quatrocentas embarcações. Embora não haja praia fluvial, há uma piscina flutuante e pode-se mergulhar dos cais, já que há profundidade suficiente, há escadas ao longo dos passadiços e a água, no verão, pode manter-se em redor dos 28 graus até o Sol desaparecer.

Por essa hora, o melhor cenário tem-se encosta acima, no restaurante panorâmico do resort. Sobre a mesa, coexistem cozinha de autor, pratos regionais e, ao almoço, grelhados e buffet, com vista a agradar a gregos e troianos. E, no bar junto à piscina, pizas, hambúrgueres e francesinhas. Afinal, trata-se de um resort de cinco estrelas, com 152 habitações (divididas entre apartamentos e moradias com piscina) e capacidade para mais de quinhentos hóspedes.

Aliás, é graças a todo este embrulho – qualidade da água, infraestrutura, flexibilidade da cozinha – que o Montebelo Aguieira se tornou um dos grandes centros de estágio para equipas de canoagem de todo o mundo. «Nas últimas Olimpíadas, foram ganhas 25 medalhas por atletas que treinaram aqui», conta a diretora do resort, Ana Luísa Pereira. Bom para campeões olímpicos, perfeito para quem procura férias no interior com muita água em redor.

PRAIAS FLUVIAIS

A existência do rio Dão, com margens estreitas em muitos dos casos, foi favorável ao aparecimento de praias fluviais, ainda que, recomendáveis, não haja muitas. SANGEMIL, referido no capítulo das termas, é uma das exceções, bem como PÓVOA DÃO, na freguesia de Silgueiros, que, além da aldeia medieval recuperada e de atrações como cruzeiros, alminhas, lagaretas (que vão surgindo pelo caminho), tem uma zona fluvial agradável com pequenas cascatas.

Para sermos realmente surpreendidos é preciso ir mais longe, perto de Santa Cruz da Trapa, onde fica a praia fluvial do Poço Azul.

Para sermos realmente surpreendidos é preciso ir mais longe, perto de Santa Cruz da Trapa (na direção de São Pedro do Sul, mas ainda nos limites do distrito), onde fica a praia fluvial do POÇO AZUL. O entorno natural (da flora aos blocos de granito, com espécies protegidas), a limpidez das águas (a piscina natural forma-se a partir de uma queda de água que vem da ribeira da Landeira, afluente do Vouga) ou curiosidades como as figuras As banhistas gravadas nas pedras pelo artista Custódio Almeida fazem valer cada minuto.

A praia fluvial da FOLGOSA, em Castro Daire, no norte do distrito, merece igualmente o desvio. Fica na margem direita do rio Paiva, um dos mais limpos da Europa, o caudal de águas cristalinas é domado por represas seminaturais e há condições para a prática de remo e de pesca. No verão, a Folgosa, que tem a particularidade de estar inserida numa Rota de Santiago, junta à festa um bar de apoio animado. JMS

STAND-UP PADDLE NO DÃO

Aqui, o Dão é um espelho de água. O sítio perfeito para o stand-up paddle: não há corrente, os dias ventosos não ocorrem com frequência e o cenário é propício à contemplação. Afinal, é mesmo essa uma das motivações desta modalidade de crescente popularidade. Deslizar, sem pressas, admirar a paisagem em redor, descobrir recantos que de terra dificilmente se encontraria. Graças à BARRAGEM DE FAGILDE, na fronteira entre os municípios de Viseu e Mangualde forma-se um lago de 7,5 hectares.

Vindo da aldeia que dá nome à barragem, pouco após o paredão, encontra-se um bar com esplanada à beira de água, um passadiço de madeira e uma plataforma que convida a mergulhos. Mas este não é o melhor ponto para entrar na água.

Para Rui Magalhães e Rita Soares, que conhecem a palmo a envolvente, as condições melhoram um par de quilómetros adiante, ao longo de uma estrada de terra batida à beira-rio. E eles sabem do que falam – afinal, a empresa que ambos criaram, a SUP IN RIVER, especializa-se em explorar (e dar a explorar) os rios e lagos do Centro do país, das margens verdejantes do Alva à imensidão da Lagoa Comprida, a 1600 metros de altitude.

É diante da aldeia de Vila Corça, na margem oposta, que Rui e Rita decidem pôr as pranchas à água. Antes disso, uma explicação sobre as técnicas básicas e as regras para manter o equilíbrio. Descontrair, baixar o centro de gravidade, não ir a medo. Rui acompanha o passeio, corrigindo a trajetória quando necessário, dando dicas, encorajando surfistas-remadores de primeira viagem.

«Quem vai com muito medo de cair, acaba por cair e isso é bom», descomplica.»

«Quem vai com muito medo de cair, acaba por cair e isso é bom», descomplica. «Passa-lhes o medo e torna-se mais fácil descontrair.» Pois é mesmo isso que acontece ao fim de um bocado a lutar contra a prancha: de tanto tremelicar em busca de estabilidade, um dos joelhos acaba por ceder e cai-se à água, mas o mergulho forçado até ajuda os músculos a descontrair e logo se encontra o ponto de equilíbrio. A partir daí, é tudo rio chão, começa-se a erguer o olhar e a pousá-lo na paisagem em redor.

O que uma hora antes parecia difícil revela-se, afinal, bem simples de conseguir. É essa, também, a beleza do stand-up paddle: não é preciso experiência prévia para tirar partido da atividade. Apenas vontade de tentar.

TERMAS DE SANGEMIL E DE ALCAFACHE

Em alguns casos, as termas existentes em Portugal adaptaram-se aos tempos, de modo a angariar uma clientela mais jovem que já não se revia nem nas suas instalações, nem na sua metodologia, nem na sua sazonalidade. Nas Termas de Sangemil e de Alcafache, essa transição está ainda por acontecer. Não deixam, contudo, de ser motivo de recomendação.

Começando pelas de ALCAFACHE, estão divididas por dois complexos em margens opostas do rio Dão – portanto, um no concelho de Viseu e o outro no de Mangualde. As termas, que integram um hotel, estão abertas de 1 de maio a 30 de novembro e apostaram nos últimos anos em terapêuticas mais modernas como a vinoterapia ou a algoterapia. Foram fundadas em 1965 e as suas águas são indicadas para o tratamento de reumatologia, doenças músculo-esqueléticas e doenças metabólico-endócrinas.

As termas existentes em Portugal adaptaram-se aos tempos, de modo a angariar uma clientela mais jovem.

SANGEMIL, no município de Tondela, encontra-se numa curva bucólica do rio Dão, ladeada de salgueiros-chorões e com uma praia fluvial. Os balneários termais datam de 1994 (renovados em 1999) e desenvolveram-se graças às águas das nascentes, captadas a uma temperatura de 49 graus centígrados e a uma profundidade de cerca de 100 metros. Funcionam de 1 de abril a 30 de novembro e estão indicadas quer para o tratamento de patologias quer para programas de bem-estar.

Sem sair do distrito de Viseu, há ainda a registar, as termas de Caldas da Felgueira (Canas de Senhorim, Nelas), Carvalhal (Castro Daire) e Caldas de Aregos (Resende).

UM SPA E UMA PISCINA NO CENTRO DA CIDADE

Pode um hospital dar lugar a um hotel de charme e, mais importante, confortável? A POUSADA DE VISEU prova que sim, tendo até tirado partido das dimensões generosas do antigo Hospital de São Teotónio (que funcionou até 1997), no Coração de Jesus, para criar quartos e suites amplos – eles ficam na área antes reservada às enfermarias.

Muitos viseenses associam ainda este edifício à sua maternidade, daí o apego sentimental, mas a pousada histórica, que tem no seu belo claustro o maior cartão-de-visita (mas ninguém resiste à farmácia, mantida com móveis e objetos da época), nada tem agora de asséptico – curioso o facto de o arquiteto responsável pela obra de conversão em 2009, Gonçalo Byrne, ser precisamente conhecido pela sua traça depurada.

No entanto, o que nos faz aqui referir esta unidade é a sua ligação ao elemento da água. Na rede das Pousadas de Portugal, esta foi a primeira a ter spa, além de possuir, detalhe não tão comum assim no centro de Viseu, uma piscina exterior e outra interior (coroada por uma claraboia) capazes de fazer a diferença no verão.

De reduzidas dimensões, a zona dedicada ao bem-estar e descontração, como acontece em todo o grupo Pestana, passou a seguir uma fórmula única de Magic Spa, com tratamentos próprios de rosto e corpo e uma linha exclusiva de produtos (a Magic Potion) livres de parabenos, colorações e aromas artificiais. Outro detalhe importante é que todos os óleos usados pelos terapeutas são de primeira extração, evitando assim a saturação e a perda dos elementos essenciais.

PASSEAR NA CIDADE, À BEIRA-RIO

Os jardins são uma das imagens de marca de Viseu. Farão, com certeza, parte da tão-falada qualidade de vida, à luz de um estudo da DECO que, em 2012, a apontou como a melhor cidade portuguesa para se viver. Números por alto, conta-se mais de 100 hectares de zonas verdes. Incluindo um passeio ao longo das margens do RIO PAVIA, que nasce ali perto, em Mundão, e desagua 39 quilómetros depois, no Dão.

Na zona ribeirinha de Viseu, outrora um cenário pintado por lavadeiras, moinhos e barcas em trânsito, o rio foi transformado num longo espelho de água.

Na zona ribeirinha de Viseu, outrora um cenário pintado por lavadeiras, moinhos e barcas em trânsito, o rio foi transformado num longo espelho de água bordejado de salgueiros-chorões e relvados que convidam a «estacionar», à sombra ou ao sol, e a deixar que o rumor da água embale os pensamentos. O refrescante passeio estende-se por cerca de dois quilómetros, ida e volta, entre os moinhos da Balsa e a Casa da Ribeira (junto do recinto da Feira de São Mateus), que foi transformada num espaço evocativo da ligação entre a cidade e o rio. E no sítio perfeito para fotografias de postal da cidade refletida nas águas.

ABAIXO DE ZERO

Neste BAR DE GELO, a água está por todo o lado: nas paredes, no mobiliário, na decoração. O nome não é para enganar, tudo aqui é feito de gelo. Até os copos são de água em estado sólido. Do lado de lá do balcão, também ele de gelo, está Filipe, que acumula a função de barman com a de escultor de serviço. É também ele quem dá as explicações na câmara de aclimatização: o ar está entre os 8 e os 10 graus negativos, o máximo de permanência é de 30 minutos e convém pegar o copo com as duas mãos, para que ele não fuja.

O que traz servido no interior? Bebidas que não congelem, isto é, de teor alcoólico elevado, como vodka e licores (mas também há sumos, guardados numa geleira para que não arrefeçam.) O equipamento para enfrentar o frio está incluído no preço da entrada: anorak, luvas, botas para quem tiver ido de sandálias. Calças é que não há, pelo que quem for de calções ou saia estará por sua conta – mas não é nada que um par de cocktails não aqueça.


Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend