Publicidade Continue a leitura a seguir

Descubra este pequeno paraíso a menos de uma hora de Lisboa

Praia de Santa Cruz, Santa Cruz
Praia da Física, Santa Cruz
Praia da Formosa Cruz, Santa Cruz
Praia de Santa Helena, Santa Cruz
Noah, Praia da Física Avenida do Atlântico, Praia da Física, A-dos-Cunhados Tel.: 261932355 Web: www.noahsurfhouseportugal.com Das 09h00 às 02h00. Não encerra. Preço Médio: 15 euros
Areias do Seixo, Mexilhoeira Praceta do Atlântico, Mexilhoeira, Povoa de Penafirme, A-dos-Cunhados Tel.: 261936340 Web: www.areiasdoseixo.com Quarto duplo a partir de 265 euros por noite (inclui pequeno-almoço)
Bar Bronzear, Praia de Santa Helena Praia de Santa Helena Tel.: 968777355 Web: www.bronzear.pt Das 10h00 às 01h00; sexta e sábado às 03h00. Não encerra. Preço médio: 15 euros
Restaurante Boca Santa, Santa Cruz Esplanada Antero de Quental, 7 Tel.: 919324499 Web: www.restaurantebocasanta.com Das 11h00 às 00h00; sexta e sábado às 01h00. Não encerra. Preço médio: 20 euros

Publicidade Continue a leitura a seguir

Em 1876, Ramalho Ortigão, autor do livro As praias de Portugal – Guia do banhista e do viajante, ainda hoje uma referência na literatura de viagens, remeteu Santa Cruz para um capítulo intitulado «As praias obscuras». Desse rol faziam também parte as praias de Assenta, também na região Oeste, São Martinho do Porto, São Pedro de Moel, Costa Nova, Apúlia e Vila Praia de Âncora. Muito se passou desde então.

Santa Cruz teve altos e baixos, em 2012 foi considerada a 16ª melhor praia do mundo pela Condé Nast Traveller, com a revista a atribuir-lhe «todo o encanto da costa portuguesa», mas se há algo que não muda é precisamente a falta de consenso em relação às suas caraterísticas.

Basta o nome vir à baila e logo surgem as referências ao seu microclima, uma estância balnear temperamental que tantas vezes se deixa cobrir por um denso manto de nevoeiro, mesmo quando o Sol brilha no resto do país. Também há quem critique um certo descuido arquitetónico, sendo visíveis alguns edifícios abandonados tão belos quanto decadentes. Serão algum dia transformados em hotéis de charme? Haverá procura suficiente?

A população garante que é precisamente este clima, esta densidade, aliada a uma natureza selvagem repleta de arribas, que lhe empresta uma melancolia e força silenciosa sem paralelo em Portugal. É preciso esperar, saber olhar, ter paciência. O tempo e paciência que Ramalho Ortigão não terá tido.

Se bem que na altura não houvesse lugares como o Noah, uma menina dos olhos desta pequena localidade do concelho de Torres Vedras. Inaugurado em 2015, é uma espécie de sala de estar debruçada sobre a areia, um espaço cosmopolita sem ser elitista, capaz de receber quem vai comer uma lagosta, uma tosta, beber uma caipirinha, fazer surf (têm uma escola) ou apenas alugar uma barraquinha.

É verdade, aqui ainda há barracas de praia. Também organizam concertos, arraiais, exposições, ciclos de cinema e workshops. «Santa Cruz já precisava de um sítio assim», ouve-se amiúde. Fica na praia da Física.

Sim, porque falar em Santa Cruz não é falar apenas numa praia, mas em várias. A praia do Guincho (famosa pelo seu penedo com uma abertura onde possível passar quando a maré está baixa), a Formosa, Santa Helena, Pisão, Navio ou do Mirante, apenas para citar algumas. Ou ainda a praia da Mexilhoeira, mais selvagem e afastada.

É lá que fica o Areias do Seixo, um hotel de charme que em 2010 voltou a colocar Santa Cruz no mapa. Exagero, naturalmente. Santa Cruz nunca saiu do mapa. Na altura causou um certo espanto a abertura de um hotel de charme com estas caraterísticas. Os preços não eram acessíveis – uma noite custa mais de 200 euros, já um menu de degustação no restaurante pode ficar pelos 75 – e muitos chegaram a duvidar de que pudesse sobreviver.

Quem vai gastar tanto dinheiro num sítio onde nunca se sabe se estará sol? A verdade é que meia dúzia de anos depois o hotel continua a ser uma referência a nível internacional. Tudo graças a uma localização privilegiada, entre as dunas e os pinheiros, uma arquitetura e decoração cuidadas e uma filosofia com grandes preocupações ecológicas. Têm uma horta orgânica e um relógio ecológico que permite monitorizar os consumos de gás, água e energia. Aqui e ali, faz lembrar o Noah. Não por acaso, a gestão é comum.

Mas Santa Cruz não vive apenas destes dois espaços. É indesmentível que vieram ajudar a dar-lhe um novo fôlego. Há, contudo, uma série de outros locais que merecem visita, bares onde perder umas horas é ganhar o dia. Como o Bronzear, na praia de Santa Helena; o restaurante Boca Santa na incontornável Esplanada Antero de Quental, uma varanda com vista para o Atlântico; ou o Manel Bar, na porta ao lado, o primeiro pub da terra, inaugurado em 1979. É preciso tocar campainha, mas ninguém fica porta.

Santa Cruz vai-se revelando e descobrindo aos poucos, mais tarde ou mais cedo o Sol lá acaba por aparecer – são manifestamente exagerados os relatos sobre o seu péssimo clima – e, sem que nos apercebamos, estamos conquistados. Sobretudo quando o dia começa no mercado. Veem-se turistas a comprar peixe na banca da dona Odete, pão caseiro na Lena ou um saco de legumes da horta Gracinda, mas sobretudo nativos. Há vida, mesmo que muitas pessoas se queixem da falta de alma durante o resto do ano.

Para terminar, um segredo: o pão com chouriço da Associação Cultural, Desportiva e Recreativa do Casal Cochim, a poucos quilómetros de distância já no meio de uma paisagem tipicamente saloia, por entre os campos, mas sempre com o mar no horizonte. Só sai ao domingo e tem fama de ser o melhor do mundo.


Artigo publicado originalmente em 19 de julho de 2016. Atualizado a 14 de junho de 2018.