Porto: Há bons motivos para conhecer o Carvalhido

Não é uma freguesia mas podia ser. O Carvalhido é hoje uma vasta área citadina e, embora se localize longe do centro da cidade, destaca-se por ter um comércio tradicional de boa saúde e por ali morar gente. A pressão turística ainda não se faz sentir neste bairro cheio de histórias.

Em meados do século XIX, o Carvalhido era um arrabalde da cidade. A paisagem era desenhada por quintas senhoriais e campos agrícolas. O nome deste lugar terá origem no facto de ser abundante em carvalheiras. Por ali, estacionaram as tropas de D. Pedro durante o cerco do Porto e por esse motivo o principal largo da localidade passou, anos mais tarde, a designar-se Praça do Exército Libertador.

Aqui, há mercearias, farmácias, todo o tipo de lojas, vias de comunicação e bom serviço de transportes públicos. «Hoje, o Carvalhido é um centro comercial ao ar livre. Existem lojas de todo o tipo de produtos porque continua a haver compradores. Somos uma zona residencial onde circulam muitas pessoas», explica António Sousa que, com Fernando Silva, mantém a mercearia A Nova Moka a funcionar da mesma forma de quando abriu, em 1946.

Foi por essa década que o lugar, que pertence à freguesia de Cedofeita, se transformou quase por completo. A população já vinha a aumentar, sobretudo após a abertura de novos arruamentos, nomeadamente da famosa estrada para Vila do Conde que depois seguia para a Galiza absorvendo parte do Caminho de Santiago.

«Apesar disso, não sentimos confusão como existe na Baixa e aqui convive bem o novo e o antigo, mantêm-se muitos estabelecimentos e há gente com novas ideias a chegar», refere António Sousa ao balcão da mercearia com bancas de legumes e prateleiras com azeites, vinhos, alheiras e presuntos. O café moído na hora é, no entanto, o forte da casa. Os moinhos são ainda os originais, assim como as latas de armazenamento. «Café e cevada é o que sai mais». De café têm dois lotes. «O puro custa 22 euros o quilo, o outro mais brando a dez euros». A mistura (café, cevada e chicória) varia entre os três e os seis euros o quilo.

Mercearia Nova Moka. (Fotografia: Rui Oliveira/GI)

Outra das imagens de marca do comércio do Carvalhido são as pastelarias. Muitas e quase porta sim porta não: a Nova Real, a Confeitaria Magalhães, a Rainha do Carvalhido ou a Doce Alto. «A concorrência é grande mas todos vendemos bem. A casa mãe da Doce Alto é na Rua de Costa Cabral, mas tínhamos de estar representados no Carvalhido», afirma Márcio Oliveira, um dos gerentes da casa. A pastelaria em todas elas é variada. As vitrinas estão cheias de bolos, pastéis e bolachas. A zona deixa muitos comerciantes «satisfeitos», como diz Rui Borges, que há quase dois anos abriu a garrafeira O Rei, na Rua da Natária, com centenas de referências de vinhos e de bebidas brancas.

Por estas ruas há também muitas lojas a descobrir, como a Ervanária Seara de Luz a Florarte, esta na Rua 9 de julho, ou a ‘Loja do João’ Ideias Mimosas, onde se vende todo o tipo de vestuário e acessórios. Até para os recém papás e mamãs o Carvalhido tem resposta através do D’Barriga, estabelecimento comercial onde há tudo para o bebé e até aulas que ensinam nutrição na gravidez, no pós-parto, na amamentação e a criarem super avós.

Voltando à Rua do Carvalhido, está outra das surpresas para quem passeia por aqui: a Kurikas, que fabrica artefactos de borracha. Desde 1977 que produz todo o tipo de artigos como extensões de torneiras, pontas de canadianas, desentupidores de foles e todo o género de anilhas. As indústrias automóvel e de produtos ortopédicos são as principais clientes. «Aqui é tudo feito com maquinaria artesanal», faz questão de afirmar o responsável pela pequena fábrica, Idraulindo de Almeida, e que «após alguns anos de crise e de poucas encomendas» vai contratar mais operários.

O cruzeiro do século XVIII

Ao fundo da Praça do Exército Libertador e já na confluência das ruas de Oliveira Monteiro e de 9 de Julho encontra-se um dos pontos de interesse deste lugar. O Cruzeiro do Senhor do Padrão, construído em 1738. O monumento saúda os viajantes que seguiam pelo caminho para norte, nomeadamente para Santiago de Compostela. Como legenda tem escrito: «Louvado seja os tempos de valores virtude lisura ozias. MDCCXXXVIII».

O cruzeiro chegou a estar rodeado e protegido por uma estrutura quadrangular, no século XIX. A cerca tinha faces azulejadas e um portão de acesso ao recinto. Estas transformações verificaram-se, já numa fase de renovação urbana de todo este local, nomeadamente quando foram rasgados os eixos viários que confluem do centro do Porto para a Praça do Exército Libertador e daqui para norte. Foi a partir daqui que se intensificou a edificação urbana ao ponto do cruzeiro colocado na Rua 9 de Julho ser deslocado, em 1980, para o local atual.

Sobre uma base retangular, a estrutura ergue-se em altura e é composta por quatro peças, a última com a representação de Cristo na Cruz. A devoção é permanente e na base do cruzeiro é habitual encontrarem-se flores e círios. Todos os anos, realizam-se festejos, no terceiro fim de semana de julho. Festa local, onde todos são bem vindos ao antigo arrabalde que hoje é um autêntico centro urbano.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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