Casa da Ínsua: vinho, mesa e conforto barroco

Viseu e Mangualde estão por perto e é bom sabê-lo, mas a vila de Penalva do Castelo tem o seu quinhão de interesses para nos manter a uma distância segura pelo menos por um par de dias. A começar na belíssima Casa da Ínsua, o primeiro hotel português na cadeia espanhola Paradores de Turismo.

São apenas 25 os quilómetros que separam Viseu de Penalva do Castelo, na sub-região do Dão-Lafões. Uma distância na medida certa para quem quer deixar a cidade para trás sem a perder totalmente de vista – a quem pernoita em Penalva sempre é sugerido um passeio até Viseu, Mangualde ou até mesmo Aveiro.

Não que falte o que fazer na Casa da Ínsua. O edifício barroco de estilo solarengo, construído no século XVIII a mando de Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, foi convertido em hotel cinco estrelas pelo grupo Montebelo Hotels & Resorts (da Visabeira), tendo sido também o primeiro fora de Espanha – e único em Portugal – a integrar a rede dos Paradores de Turismo.

Com um total de 35 quartos, salões históricos, jardins à francesa e à inglesa, a Casa da Ínsua, que inclui ainda na propriedade um museu, vinhas, rebanho de ovelhas qordaleiras, uma queijaria (onde fazem queijo da Serra da Estrela DOP com rótulo próprio) e toda a parte agrícola em plena atividade (produz-se também azeite, vinho e compotas), é praticamente imbatível na hora de escolher uma base na terra.

O edifício barroco foi construído no século XVIII a mando de Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres

A entrada faz-se pelo portão principal, junto à igreja matriz de Penalva, e desde logo espanta quem chega pela primeira vez devido à sua exuberância ornamental – a começar pelo teto da sala de receção que parece ser de madeira mas, na verdade, é de gesso pintado. A atual casa surgiu no lugar de uma anterior, construída por João de Albuquerque e Castro, alcaide-mor de Sabugal, mantendo apenas a capela e o terraço originais. O seu mentor viveu aqui muito pouco. Nomeado governador e capitão-general de Cuibá e Mato Grosso pelo Marquês de Pombal, Luís de Albuquerque pode ter ido contrariado para o Brasil, só que nos vinte anos em que por lá permaneceu revelou-se determinante não só para delimitar as fronteiras portuguesas como também para o desenvolvimento daqueles estados. À distância, enviou dinheiro e instruções específicas para que a Casa da Ínsua fosse erguida com todos os luxos e comodidades possíveis na época – foi, inclusive, a primeira casa das Beiras a ter telefone, cujo uso era permitido aos habitantes da vila, e eletricidade.

Os espanhóis são a esmagadora maioria, mas, aos poucos, os portugueses aderem aos jantares de gala e à possibilidade de realizarem aqui os seus casamentos. Mesmo assim, é pena que não se demorem mais.

No restaurante da Casa da Ínsua, aberto ao público, a cozinha tenta usar ao máximo os produtos da região e seguir uma confeção típica – foram, no entanto, obrigados a reduzir as doses, demasiado grandes, para os hóspedes estrangeiros que escolhem sobretudo jantar. Para usufruir do resto, das instalações às atividades propostas, é necessário permanecer mais do que um par de horas. Na ala antiga ficam as suites júnior mais modernas e todas em branco, mas também suites de charme histórico como a 101, com detalhes preciosos como a flor-de-lis nos azulejos da casa da banho ou um relógio de sol na varanda, digna de filme e virada para o jardim francês. Não estará ao alcance de todos, é certo, felizmente existem três salões principais, com outros dois intermédios, para não deixar ninguém mal. Melhor do que num museu, é um prazer deambular por eles sem pressas e sem um par de olhos nas nossas costas – a não ser dos antigos proprietários e pessoas importantes representados no Salão dos Retratos. Em cada um, há, pelo menos, um pormenor a reter como seja o teto em tela do Salão dos Retratos, a decoração da Sala Chinesa, a acústica do Salão Nobre ou o brasão inclinado na lareira da Sala de Jantar (uma referência à origem bastarda da família, descendente de D. Dinis).

No restaurante da Casa da Ínsua a cozinha tenta usar ao máximo os produtos da região

Todas as lareiras, aliás, continuam operacionais e, por falar em bastardos, esta casa estava sujeita à lei do morgadio, o que quer dizer que a herança se fazia de tio para sobrinho, já que ao herdeiro, além da obrigação de não vender e de aumentar a riqueza, era exigido que não se casasse – o resultado foram alguns filhos bastardos entre a criadagem da Casa da Ínsua. Talvez por isso, outro facto curioso é que aqui desde muito cedo os trabalhadores tiveram determinadas regalias – como engenhos mecânicos que permitiram aligeirar o fardo das mulheres – e ainda hoje existem funcionários nascidos na propriedade, como é o caso do pastor. Ou que estão cá desde meninos, como os dois jardineiros que mantêm num brinco os jardins.

Autossuficiente – diz-se que só não produziam bacalhau e arroz –, a Casa da Ínsua quer hoje proporcionar uma série de experiências aos hóspedes, que vão desde passeios pelos trilhos na quinta — há lagos e até painéis de azulejos dedicados a Santo António a descobrir entre os arvoredos – à possibilidade de acordarem mais cedo para participar na ordenha, fazer queijo (que lhes é depois enviado para a casa após os quarenta dias de cura), confecionar compotas ou vindimar com direito a bucha a meio da manhã, almoço e pisa a pé.

Por outro lado, são os primeiros a incentivar que se saia dos limites da propriedade. Seja para passear em Penalva do Castelo, uma vila muito dinâmica habituado a promover festas como aquela que elege a janela florida mais bonita, mas que nem sempre cresceu ordeira e formosa. Existem, contudo, inúmeras rotas pedestres e por estrada que permitem explorar o seu património natural, como a Mata da Senhora de Lurdes (uma capela e gruta junto à orla do rio Côja, além de uma antiga barragem); o rio Dão, onde fica o açude dos Cantos; além de ribeiras e penedos. O segredo, se podemos chamá-lo assim, responde pelo nome de Fagilde, uma aldeia a 12 quilómetros de Viseu e a sete de Mangualde, conhecida pela sua barragem e por ter tanto uma praia fluvial como um barzinho de rio muito agradáveis. Nas redondezas, dificilmente se achará melhor para distrair as vistas.

Os três trunfos de Penalva

1. MAÇÃ. A maçã bravo de Esmolfe terá aparecido na aldeia de Esmolfe , no concelho de Penalva do Castelo, há cerca de 200 anos.

2. VINHO. Penalva do Castelo faz parte da sub-região do Dão e, além de vários produtores, tem a Adega Cooperativa de Penalva do Castelo e organiza anualmente a Feira do Vinho Dão de Penalva.

3. QUEIJO. Para se produzir um queijo da Serra da Estrela de um quilo são precisos cinco litros de leite, mais 0,2 gramas de cardo e 14 de sal por litro, mais a mão-de-obra, mais o tempo de cura mínimo (40 dias) e mais uma série de outras coisas que levam a que, no final, o preço do quilo não possa ser inferior aos 20 euros.

 

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