Parques urbanos de Gondomar: uma rota verde pelo concelho

Parque da Ribeira da Ancheira, Gondomar. (Fotografia de Pedro Correia/GI)
O Parque Urbano de Gondomar, no centro da cidade, é o espaço verde mais recente da cidade. Junta-se a outros, também recentes ou por inaugurar, que querem tornar o concelho antes conhecido como dormitório do Porto numa rede de pontos de contacto com a natureza. Uma aposta na qualidade de vida.

O Dia da Cidade, que este ano se assinalou a 3 de outubro, foi simbolicamente escolhido para a inauguração do PARQUE URBANO DE GONDOMAR. “Estamos no coração da cidade, no terreno que era o mais apetecível para especulação imobiliária”, conta Cristiana Viana, da autarquia, em visita ao parque com a “Evasões”, alguns dias depois da abertura oficial.

O espaço, que antes estava destinado a edifícios, foi expropriado pela câmara, que ali decidiu construir o parque, com projeto do jovem arquiteto gondomarense Paulo Merlini. Isto porque não havia ainda no centro da cidade um espaço público “onde as pessoas se pudessem juntar”. Com comércio local, a biblioteca, o auditório, a Junta de S. Cosme e a igreja matriz como vizinhos, o parque tem diversas valências. Além dos espaços relvados que convidam a estender uma manta, há um bar com esplanada, um restaurante de comida tradicional – que também serve pequenos-almoços e lanches – um pequeno parque para cães, uma zona de convívio, outra de fitness, um espaço infantil e um anfiteatro.

Parque Urbano de Gondomar, São Cosme.
(Fotografia de Pedro Correia/GI)

Para ser apreciado no seu máximo esplendor ainda será preciso esperar algum tempo. “Como o arquiteto diz, ‘o parque ainda é uma criança. Só daqui a alguns anos, com as árvores já crescidas, se vai ter a perspetiva da dimensão”, explica Cristiana.

Este parque é o mais recente ponto da rede de espaços verdes que o concelho tem vindo a criar. Porque a ideia da autarquia é desenvolver vários núcleos interligados. “Nós nunca fazemos um projeto isolado, pensamos sempre no todo e no que é que um projeto pode acrescentar aos restantes. Tudo numa óptica de integração de território”, diz a responsável.

Alguns metros à frente, já depois da rotunda, ao lado do Pavilhão Multiusos, chega-se ao PARQUE DA RIBEIRA DA ARCHEIRA, que liga o centro de Gondomar à Casa Branca de Gramido, onde começa o Passadiço da Polis, na margem do Douro, até ao Freixo. Ali, entra-se pelo percurso do intercetor do Rio Tinto. Esse, obra conjunta das câmaras de Gondomar e do Porto, liga o Parque Oriental do Porto ao Parque Urbano de Rio Tinto, inaugurado há quatro anos.

Gondomar urbana e rural
Apesar do troço do Parque da Ribeira da Archeira que liga o Pavilhão Multiusos à Escola Básica 2/3 Marques Leitão ainda não ter sido oficialmente inaugurado, já é utilizado por ciclistas e pedestres. Não é de admirar, pois este caminho marginal da ribeira não é de todo desconhecido dos gondomarenses.

“Este percurso rural era utilizado pelos lavradores e pela população em geral para cortar caminho até ao centro de Gondomar e para se aceder à escola ou aos campos de cultivo”, lembra Cristiana Viana. Por isso, o trajeto, que tem cerca de três quilómetros (do Multiusos à Quinta do Passal e Casa Branca de Gramido), “tem um grande valor sentimental” para quem lá mora. “Vem reativar memórias antigas vividas junto à ribeira”, diz, onde as crianças iam brincar e as mulheres lavar a roupa.

Com as obras de reabilitação, hoje o caminho faz-se “com mais segurança e outra beleza”. Durante este troço, percebe-se a hibridez do concelho, que integra zonas rurais e um ambiente mais urbano. Para se abrir este caminho teve de se desbravar: “Principalmente tirar lixo e limpar a ribeira, que é um afluente do Douro”. O troço ainda não inaugurou mas está praticamente pronto. Já estão instaladas as zonas de descanso, com mesas e bancos, casas de banho e bebedouros.

Basta andar alguns metros para o barulho dos automóveis do centro da cidade e da estrada de acesso começar a ficar para trás. Ao lado da ETAR e das piscinas municipais já se passa por hortas e pequenas propriedades. Quase a chegar à escola, onde tem início o troço do percurso inaugurado em abril passado, tem de se fazer um pequeno desvio. Dá-se a volta a um quarteirão de prédios para, uns metros à frente, se encontrar outra zona de descanso, com máquinas para exercícios e uma vista sobranceira à Archeira.

Uma espécie de janela criada com grandes pedras de granito enquadra a paisagem. Cristiana Viana: “Isto não estava no projeto inicial. Foi uma brincadeira que se fez com o engenheiro e o empreiteiro. É uma espécie de janela onde colocamos a placa de inauguração.”

Este é o caminho mais imerso na natureza. Nunca se deixa de ouvir o ribeiro a correr e podem apreciar-se alguns elementos pitorescos, como um lavadouro, já não utilizado, que aparece grafitado e quase engolido pela paisagem. Ou dois pequenos edifícios em ruínas, um deles em cima do ribeiro, um moinho, e outro mais acima, que se pensa ser também um antigo moinho. “Muitos destes elementos só foram identificados quando se andou a limpar”, conta Cristiana.

Parque da Ribeira da Archeira. (Pedro Correia/GI)

Ao longo do percurso aparecem ainda pequenas pontes improvisadas, feitas pela população, que ligam as duas margens da ribeira. “Não recomendamos que sejam usadas porque não podemos assegurar condições de segurança”, diz. Seja como for, são testemunho de como as pessoas habitam e usam aquele território.

De resto, é apreciar com atenção a vida vegetal e animal desta zona ribeirinha. Consegue-se identificar muita flora autóctone, como salgueiros, amieiros, freixos ou sabugueiros. Mas também o exótico eucalipto marca presença na paisagem, nos montes acima da ribeira. Quanto aos animais, não falta o guarda-rios, o rato-d’água e o lagarto d’água, entre outros. Com o tempo, espera-se que mais animais regressem a este ribeiro, como a lontra.

Chegando à Quinta do Passal (ver caixa), sabe-se que já se está no fim do percurso. Focada na educação ambiental, a quinta tem várias espécies identificadas: há medronheiros, pilriteiros ou choupos, figueiras e castanheiros. A ribeira da Archeira, mais à frente, desagua no Douro, e é pela margem deste que se pode continuar o caminho.

Do Gramido ao Freixo, do Freixo a Rio Tinto
Foi através do programa Polis que a zona ribeirinha de Gondomar – desde a Casa Branca do Gramido até ao Freixo, já no Porto – foi recuperada. O passadiço na marginal (Polis Valbom) proporciona uma vista panorâmica sobre o Douro e a encosta do outro lado – Avintes e Oliveira do Douro (Vila Nova de Gaia).

Pensada para se fazer a pé ou de bicicleta, tem vários pontos de interesse. Logo a começar, a Casa Branca de Gramido, edifício histórico que remonta ao século XVIII e que durante o século XIX foi armazém de cereais. Foi ali que, em 1847, se assinou a Convenção de Gramido, que pôs fim à Patuleia, guerra civil entre Cartistas e Setembristas, iniciada com a insurreição da Maria da Fonte. A Câmara Municipal adquiriu-a em 1989 e reabilitou-a. Hoje, funciona ali o Museu da Filigrana. Passa-se, depois, pelo Clube Naval Infante D. Henrique, fundado em 1925 e focado no remo, onde é possível agendar uma aula experimental gratuita daquela modalidade.

Passadiço de Rio Tinto (DR)

Mais à frente, homenageia-se Júlio Resende, um dos maiores artistas plásticos portugueses. No Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende preserva-se o seu acervo. Tem portas abertas ao público com exposições e vários eventos culturais.

Quando se chega ao Freixo, pode tomar-se outro percurso, o INTERCETOR DE RIO TINTO, que une o Parque Oriental da Cidade do Porto ao PARQUE URBANO DE RIO TINTO. O passeio começa na entrada sul do parque, junto à Rotunda do Freixo e faz-se entre arvoredo e campos agrícolas, sempre ao lado do rio Tinto. Na fronteira entre Porto e Gondomar, a paisagem altera-se ligeiramente, tornando-se mais urbana. Já próximo do fim, num dos troços mais bonitos, observam-se hortas caseiras e alguns patos a banharem-se no rio. Alguns metros depois, alcança-se o Parque Urbano. Inaugurado em 2018, este espaço tem equipamentos desportivos, de lazer, um anfiteatro, uma esplanada, um skate park, WC para cães e lugares de estacionamento, além da estação metro da Levada, que passa mesmo em frente.




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