Lordelo do Ouro: Um arraial de São João a caminho da Foz

«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», dizia já Camões. E foi pelo correr do tempo e por vontade, das gentes e da Câmara, que os festejos de São João deixaram de se limitar à Ribeira e Fontainhas, para se estender por esse Porto fora. Em dias de festa e fora deles, a Rua do Ouro tem muito para oferecer aos passantes, que ficam pela bela sardinha, pelo arraial ou pelo encanto do rio, que aqui se alarga ao chegar à foz.

Caminhando pela marginal do Porto, à boa tradição são joanina, para lá da ponte da Arrábida os olhos já não alcançam o bulício do centro da cidade, mas na direção oposta atraem as luzes e cores vibrantes dos carrosséis, carrinhos de choque, trampolins e demais divertimentos instalados no Largo do Calém.

Estão aqui para as festividades do São João e vão ficar até ao dia 1 de julho, lado a lado com as rulotes e barraquinhas de farturas, churros, cachorros, bifanas e cerveja, muita cerveja. Quando se forem fica o fresco jardim, e a vista desimpedida para o Estuário do Douro e as várias espécies de aves que por ali se encontra. Garças brancas, gaivotas, guarda-rios, corvos-marinhos e muitos outros que vêm também pousar na ilhota deste lado do rio, onde não é por acaso que se situa um Observatório de Aves.

Entre caminhadas, diversões e ornitologia é provável que o apetite comece a dar sinais de inquietação, o que não constitui problema algum, já que ali ao lado, na Travessa da Boa Morte, juntam-se algumas das melhores cozinhas da zona, e onde na noite de São João é garantido o arraial sair à rua. N’O Antigo Carteiro, por exemplo, onde o mote é «comida dos pés à cabeça», já é costume que ao lado do bucho, bochecha de vitela, rabo de boi ou do arroz de enchidos à moda antiga, esteja também a sardinha, normalmente em escabeche e servida em cima de uma tosta. Mas em véspera de São João o jantar faz-se na esplanada ou no Largo do Ouro, e a rainha é a sardinha assada, acompanhada na brasa pelos tradicionais pimentos.

Sardinha em escabeche do restaurante O Antigo Carteiro. (Fotografia: Fábio Poço/GI)

Mais abaixo, na Tia Aninhas também já está tudo preparado para a festa que se prolonga pela noite dentro. A ementa para o dia não é difícil de adivinhar, mas na carta desta casa de pasto aberta em 1971 estão também outras especialidades da cozinha tradicional portuguesa, como o cabrito assado no forno, o arroz de feijão e os rojões à moda do Porto.

Em 1998 virou restaurante de ambiente rústico pelas mãos do atual proprietário, Paulo Tavares, que sempre viveu de perto o São João do Porto. «Isto agora está diferente de há uns anos atrás. No meu tempo a festa era mais ali na zona das Fontainhas, Ribeira, agora é que se foi estendendo pela marginal», lembra o proprietário. E se a tradição começou por trazer para estes lados os resistentes que caminhavam até à Foz do Douro, para terminar a noite na praia, agora há mais do que razões para fazer paragens mais demoradas ao longo do percurso.

A acompanhar os petiscos que se adivinham com fartura, há também por estes dias muita música popular com concertos a decorrer todas as noites até ao fim do mês no palco montado no Largo Calém. Música é também já tradição na Adega Rio Douro, ou Tasca da Dona Piedade, como é conhecida desde a sua abertura em 1974. E apesar de estar fechada no fim de semana de São João, às terças-feiras continuam as tardes de fado vadio, onde toda a gente pode participar. Foi também aqui que em 2014 aconteceu um dueto improvisado entre a fadista Gisela João e a cantora britânica Joss Stone.

Petiscos e bela vista

Bem mais recente é o MXM Art Center, que além de centro de arte é ainda produtora de eventos, escola de dança e lounge, com uma bela esplanada com vista para o rio Douro. Quem aqui chega pode petiscar algo leve, apreciar obras de arte e, por estes dias, assistir aos jogos do Mundial de Futebol e festejar o São João com um arraial bem animado, onde não vão faltar os grelhados. Se nesta margem já se sente a festa pelas ruas, não falta muito até que o outro lado do rio se junte à folia, e na noite de São Pedro quem aqui para tem vista privilegiada para o fogo da Afurada.

Fogo de São Pedro da Afurada, na ponte da Arrábida. (Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

Já que é de vistas que se fala, de passagem pela rua do Ouro vale sempre uma paragem na Casa D’Oro, o restaurante italiano debruçado sobre o rio que Maria Paola Porru decidiu abrir em 2005. Está situado no edifício que foi usado para monitorizar a construção da Ponte da Arrábida, hoje palco das atividades do projeto Porto Bridge Climb, que organiza subidas ao arco de betão da ponte, em tempos o maior do mundo, com 75 metros de altitude. As visitas acontecem todos os dias à tarde, mas também há escaladas noturnas, em noites de lua cheia, como é o caso dos próximos dias 27 e 28 de junho. Para terminar da melhor forma este passeio, o Miradouro de Santa Catarina oferece uma bela panorâmica sobre a marginal de Gaia, o casario de Lordelo e a foz do rio Douro, que encanta quem se deixar partir à descoberta.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

Leia também:

São João: arraiais e cascatas a não perder no Porto
Porto: 6 sugestões para um fim de semana de festa
Mais São João: 5 festas para celebrar o Santo Popular fora do Porto




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend