Lisboa, Vila Franca de Xira e Seixal: conhecer, caminhar e navegar no Tejo

O Parque Ribeirinho Moinhos da Póvoa percorre quase dois quilómetros ao longo do Tejo. (Fotografia de Leonardo Negrão/GI)
Antes uma separação natural, hoje o rio Tejo é encarado como uma grande porta de entrada na Área Metropolitana de Lisboa, composta por 18 municípios. Lisboa, Vila Franca de Xira e Seixal são exemplos de como o rio está a mudar a face das cidades.

LISBOA, porta de entrada na região

“Do ponto de vista do turismo, consideramos o Tejo uma avenida, uma ligação em vez de uma separação, e o centro de uma região no território da AML”, diz Vítor Costa, diretor-geral da Associação de Turismo de Lisboa e presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa, enquanto olha para o interior da ESTAÇÃO SUL E SUESTE, perto da Praça do Comércio. Desenhado pelo arquiteto Cottinelli Telmo e aberto em 1932, foi à época pioneiro na arquitetura modernista no país. Volvidos 90 anos, a arquiteta Ana Costa, neta de Cottinelli, liderou uma profunda intervenção (a nível da infraestrutura) e o resultado foi tão sublime e subtil, que dir-se-ia não terem mexido em nada.

Este novo centro da atividade marítimo-turística em Lisboa tem bilheteiras e ancoradouros para passeios turísticos, táxi-barcos e viagens “hop on hop off”. No interior, grandes painéis de azulejos lembram para que destinos seguiam as carreiras fluviais que dali partiam para o Barreiro (muito antes da construção da ponte, claro está); e no lugar da sala de espera da 1.ª classe vai nascer uma cafetaria com esplanada. Em frente, estará atracada a caravela Vera Cruz, para visitas públicas.

Das obras nasceu também o CENTRO TEJO, um espaço interpretativo que aborda o ecossistema estuarino, as embarcações tradicionais e profissões ligadas ao rio. Já na sala da maqueta é possível ver o efeito das marés através de uma simulação com água, e noutra sala, seis faróis passam vídeos sobre a oferta turística de Lisboa, Almada/Cacilhas, Moita/Barreiro, Montijo/Alcochete, Seixal e Vila Franca de Xira/Loures.

Outra das novidades é a DOCA DA MARINHA, uma antiga marina de utilização militar transformada pelo arquiteto Carrilho da Graça e que coloca os peões no centro da equação. Está equipada com uma ciclovia (que vem desde o Cais do Sodré e vai até ao Parque das Nações), quiosques e esplanadas, zonas de estadia e relvado. No rio, podem atracar até 25 embarcações tradicionais. A ideia é criar uma rede de 13 cais que facilite o turismo ligado ao rio entre Lisboa, Ginjal, Trafaria, Porto Brandão, Seixal e Barreiro.

 

+ Muro das Namoradeiras
A reconstrução deste muro, que ladeia o CAIS DAS COLUNAS, partiu da inventariação de mais de 400 pedras que haviam sido retiradas do local em 1997, aquando da construção da estação de metro do Terreiro do Paço. Agora estão montadas de acordo com o traçado original pombalino, pós-terramoto, assim como oito candeeiros restaurados. No rio, foi limpo o aterro deixado pelas obras.

(Fotografia André Luís Alves/GI)


Póvoa de Santa Iria
Uma varanda sobre o rio

A apenas 20 minutos de carro de Lisboa surge a cidade de Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira. Densamente povoada, tal como as irmãs Alhandra e a sede do concelho, a verdade é que consegue casar, naturalmente, o horizonte urbanizado e marcadamente fabril e logístico com as belezas naturais do Tejo. Esse trabalho de devolução da frente ribeirinha às populações está em curso há 21 anos e registou a sua evolução mais recente há três, com a abertura do PARQUE RIBEIRINHO MOINHOS DA PÓVOA E CICLOVIA DO TEJO.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

Este caminho pedonal ribeirinho com quase dois quilómetros de extensão (do total de 12 já requalificados em todo o concelho) começa na Póvoa e termina, para já, no limite com o concelho de Loures. É muito procurado para caminhadas, corridas e voltas de bicicleta, e a paisagem explica porquê: além do monchão (uma ilha agrícola abandonada), permite avistar aves limícolas, bateiras antigas comidas pelo lodo, pescadores nos seus afazeres, tanques de maré e antigas salinas.

Em direção ao PARQUE LINEAR RIBEIRINHO DO TEJO surgem o NÚCLEO MUSEOLÓGICO DA PÓVOA E DO RIO (com a exposição “A Póvoa da D. Martinho” patente até julho de 2022), uma casa avieira, uma marina para os pescadores guardarem as artes de pesca, uma cafetaria e um parque urbano com sombras e um anfiteatro. O parque em si, localmente conhecido como Praia dos Pescadores, é uma boa surpresa: à falta de areal, tem uma zona verde com plataformas sobre o rio, parque de merendas e condições para a prática de atividade física.


Seixal
A baía no coração do Tejo

Na margem sul do Tejo, a par de outras cidades, o Seixal investiu também na requalificação da sua frente ribeirinhas e hoje oferece 14 quilómetros para caminhar, pedalar, correr e conhecer, sempre ao lado de uma Reserva Ecológica Natural inserida no estuário do Tejo. As heranças deixadas pelo rio veem-se, por exemplo, na QUINTA DA FIDALGA – antigo estaleiro de onde partiram as caravelas de Vasco da Gama em direção a Belém e, depois, à Índia -; e no NÚCLEO NAVAL DA ARRENTELA, museu dedicado à outrora pujante indústria naval.

Muitas das embarcações que navegavam no Tejo sucumbiram a séculos de abandono, mas algumas foram recuperadas pelos municípios. Foi o caso do colorido BOTE DE FRAGATA “BAÍA DO SEIXAL”, construído em 1914, e equipado para levar confortavelmente 35 pessoas durante passeios de duas horas e meia. O motor faz as vezes das velas quando é necessário, mas nem por isso o passeio perde o encanto, permitindo ver a ponte e o Cristo Rei ao longe, assim como algumas aves.

+ Dois novos parques urbanos frente ao rio
Ainda antes da pandemia, Lisboa viu nascer o novo PARQUE RIBEIRINHO ORIENTE, entre o Braço de Prata e o Parque das Nações. Ao todo são 650 metros de frente de rio e quatro hectares com sombras, parque infantil, cafetarias e biblioteca. Na Praça 25 de Abril encontra-se uma escultura de José Guimarães. Do outro lado do Tejo, o novo PARQUE URBANO DO SEIXAL, no Alto Dona Ana, tem 5,3 hectares, enormes painéis de cortiça a enquadrar a paisagem e trilhos assinalados entre sobreiros e carvalhos.

(Fotografia de João Silva/GI)




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