Lagos: regresso aos produtos e às gentes da terra

A sul, Lagos fez história durante os Descobrimentos e ainda hoje conquista quem vem de fora pelo mar e pela praia. Há também quem se apaixone e fique, para fazer o caminho inverso: trazer os produtos da terra - e a gente - para a linha da frente.

A primeira imagem, quando se abre a porta do quarto, é esta: uma cama de rede na varanda, uma banheira oval a um canto peças de design aqui e ali e uma total ausência do ecrã do televisor. Apenas um branco imenso que nos afunda o olhar na cama e, numa mesa, a grossa revista que nos conta no artigo «Casa Mãe: A Viagem» como nasceu este lugar. Nessa reportagem, a parisiense Veronique Polaert conta como trocou o corre-corre de um emprego na banca, em Londres, pela calma algarvia depois de umas férias em Lagos. E de como, vinda de fora, quis olhar para dentro e descobrir artesãos e marcas portuguesas que trouxessem tradição ao seu boutique hotel.

Foi por isso que, quando a Casa Mãe abriu, em setembro do ano passado, os 22 quartos do edifício novo tinham já tapetes artesanais da Rug, de Viana do Castelo, ladrilhos de Santa Catarina no chão e potes de cerâmica no duche a guardar o champô. Aos 22 quartos juntaram-se, este ano, cinco suites na recuperada casa senhorial, encostada à antiga muralha da cidade, com vista para a piscina triangular e para o jardim. Aí chegaram também, há meses, três cabanas com terraço privativo, rodeadas pela horta.

Desde o início que, muito do que é servido no Orta – o restaurante do hotel – vem da terra, embora não só do jardim-quinta da Casa Mãe, que não era suficiente. Por isso, a jovem francesa vai a Algoz, a 50 quilómetros de Lagos, abastecer-se de legumes biológicos que depois o chef Bruno Senra leva aos pratos numa carta rotativa, que costuma incluir gaspacho de beterraba, amêijoas com batata doce, traduzindo a importância ali dada aos produtos regionais.

É assim mesmo, com os sabores algarvios na boca, que a viagem até ao centro histórico (e que se pode fazer de bicicleta ou mota alugadas) melhor sabe. Entre essas ruelas apertadas, passa-se pela Praça do Infante Dom Henrique, onde se encontra o núcleo museológico do Mercado dos Escravos, que terá sido o primeiro na Europa. Daí, segue-se caminho até um edifício antigo e recuperado, que já fio igreja e quartel, até à loja Mar d’Estórias. Célia Real e Luís Ledo transformaram a antiga igreja numa montra de produtos de várias regiões do Algarve e do país, podendo-se agora lá encontrar manteiga de amendoim da Alcagoita, uma reinterpretação dos capuzes das mulheres de Olhão pela Bioco Tradition, as bicicletas de madeira e malas da Mud e chocolate de alfarroba.

A arquitetura do edifício permitiu que a ideia inicial evoluísse e que, além de loja regional, o Mar d’Estórias passasse a ter livros e música, cerâmica , uma galeria de arte e um bar com petiscos, no antigo telhado, com vista para o casario e para o mar. Foi também criado um mezzanine para acolher um bistrô, onde a chef Megan Melling prepara diariamente pratos e menus de degustação com ingredientes algarvios.

«Há umas décadas perdeu-se muito a entidade culinária em algumas zonas do país. E agora estamos a testemunhar um revalorização da cozinha tradicional», explica a chef, nascida no Iowa, Estados Unidos, mas a viver em Portugal desde criança.

A alma portuguesa sente-se no respeito pelo que vem da terra e é difícil resistir a combinações como pão de alfarroba e figo ou pudim de alfarroba com creme de limão, gaspacho com ovas secas de polvo e atum à algarvia, com cebolada e chips de batata doce. Há outra cara para conhecer ali perto, na Praça Luís de Camões por detrás de um balcão de um edifício forrado a azulejos verdes. É o italiano Luca Boschetti, que prepara a abertura de um restaurante de massas biológicas. Chegou ao Algarve há quatro anos com a mulher e o filho e acabou por comprar a loja Obrigado a outro conterrâneo. Manteve, por isso, os brinquedos italianos feitos à mão, como os peões e carrinhos de madeira. Mas reforçou o artesanato português, enchendo as prateleiras de cerâmica. E em Lagos, há um curioso regresso às origens portuguesas a ser feito pelo encantamento destes estrangeiros.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo. Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo. Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo. Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

Leia também:

Aqui está o Top 10 dos hotéis de praia em Portugal
Castro Marim: passeio pelo Algarve profundo e genuíno
Ilha Deserta: paraíso no Algarve com um único habitante




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend