Dormir numa aldeia com vista para a Serra d’Arga

Nem só a vila medieval, nem só as Lagoas, nem só o sarrabulho e os imponentes solares. Ponte de Lima também é serrana, menina pastora e poetisa inspirada nas alturas das montanhas. Fomos conhecer o lado montanhês do território limiano, onde bastaria pouco para nos encantarmos e, todavia, se recebe tanto. Como os primeiros raios de sol daquela terra.

É bem conhecido o postal de Ponte de Lima. A vila de cara alegre, recortada de torres medievais, à sua frente o largo rio azul e os arcos da ponte de pedra. Mas a meia hora dali há outro postal para descobrir, e esse tem o poder de nos colar a ele, hipnotizados, seduzidos por aquelas alturas da Serra D´Arga de onde se vê aquilo que algum poeta diria melhor. É que a aldeia do Cerquido é uma varanda sobre o vale do Lima, que nos entra pelos olhos dentro em solavancos de verde a receber beijos do sol e afagos das nuvens. Nesta encosta da montanha, é possível que até Miguel Torga descobrisse outro reino maravilhoso.

A paisagem, a cada hora transformada pelas cambiantes de sol e nuvens, arrebata-nos no primeiro minuto. Não poderíamos pedir mais, mas é-nos dado mais: poder observá-la no útero de uma piscina ou de um jacuzzi morno e borbulhante, instalados num deck coberto com grandes janelas panorâmicas. Aquilo que num qualquer hotel urbano seria vulgar – uma pequena piscina aquecida, um jacuzzi com vista – parece aqui um presente caído dos céus.

«Quis um projeto que ajudasse também a dar vida à aldeia do Cerquido, à Serra D´Arga e que fosse um exemplo para outros projetos», diz Filipe.

Foi o que pensou Filipe Pimenta quando projectou o Cerquido Village & Spa, primeiro reconstruindo uma casa de pedra da aldeia que agora acolhe seis pessoas. Depois, encastrando na encosta um pouco abaixo dois bungalows para quatro pessoas e, junto a eles, este anexo aquático.

Abriu a primeira casa em 2015 e os bungalows foram construídos depois. Também restaurou, no alto da serra, o antigo quartel de Santa Justa, de acesso mais agreste e muito procurado por praticantes de caminhada, de BTT. Ali no Cerquido, porém, as bicicletas também contam, e muito: estamos em zona badalada de pedaladas, a dois passos do Bike Park de Ponte de Lima. E cada casa tem um par delas para uso livre dos hóspedes.

Filipe já tinha outros negócios com a família, nomeadamente o Centro Equestre, e aliciava-o criar alguma coisa ali, que é ao mesmo tempo perto de tudo (meia hora de carro da vila) e suficientemente longe para se sentir a pulsação da montanha. «Apaixonei-me pelo sítio e pela ruralidade, pela dimensão da paisagem, que tem contacto visual com a vila. Quis um projecto que ajudasse também a dar vida à aldeia do Cerquido, à Serra D´Arga e que fosse um exemplo para outros projectos», diz Filipe.

Vida não tem faltado, com as reservas a fazerem-se bem até fora do verão. Boa parte delas de «pessoas da cidade que querem sentir coisas diferentes», assinala. E muitos estrangeiros. Depois de alguns passeios pelas redondezas, o lugar do Cerquido Village & Spa parece estar no centro do mundo, pelo menos daquele bocado do mundo. Descendo pela estrada alcança-se rapidamente o centro da aldeia de Estorãos, onde se pode tomar banho no rio junto à ponte romana. E, no outro lado do arco de pedra, comer no café Beira Rio, onde Vítor Vila Verde e a mulher exercem há 22 anos a arte de preparar caracóis que aprenderam em anos de trabalho em Lisboa.

Todo o dia (e todos os dias, no verão) a cozinha serve pratos do dia ao almoço e, mais para a tarde, a nacional petiscada do costume, das moelas ao picapau, com este extra dos caracóis à moda do sul, afamados nas redondezas e mais além. «Tenho clientes que vêm todos os fins de semana do Porto», assegura Vítor que, dando-lhe o serviço alguma folga, é óptima companhia de conversa. E aquela esplanada junto ao rio Estorãos é o único e, felizmente, o essencial lugar para se comer nos arredores.
A partir de Estorãos, também se chega em três tempos à zona das lagoas de Bertiandos. E quem quiser subir em vez de descer, também o Cerquido está bem central, naquele ponto em que se começa a dissolver o verde na aridez do planalto das aldeias de pastoreio. A serra de Arga não se conta, percorre-se. É um lugar para ir indo e vendo, parando e apreciando.

«Isto é um parque da Peneda Gerês em ponto pequeno», sublinha Ventura Gonçalves.

Fica entre as aldeias serranas, as Argas, o Centro de Interpretação da Serra D´Arga, numa casa que parece o abrigo de pastores e que o é, de alguma forma: Ventura Gonçalves trabalha ali há 10 anos e, tirando as visitas de estudo e os turistas, passa muitas horas sozinho entre a exposição de trajes, alfaias agrícolas e domésticas do povo serrano, artesanato, e ainda informação sobre fauna, flora e as pedras.
A riqueza de pedras que ali há, nas entranhas e à superfície da serra. E tantas espécies de bichos, por terra, água e nos rios, que mais vale resumir a lista aos nomes mais poéticos: borboleta-limão, bufo-real, águia de asa redonda, rã-de-focinho-pontiagudo e o nosso (mal) amado lobo ibérico. «Isto é um parque da Peneda Gerês em ponto pequeno», sublinha Ventura Gonçalves. Além da sua própria sabedoria sobre a serra, tem ali disponíveis vários guias para os visitantes que queiram circular melhor por aquele território onde há quatro percursos pedestres sinalizados e em cujas aldeias (e já estamos no concelho de Caminha sem dar conta), vivem ainda 260 pessoas, trabalhando na agricultura e pastorícia.

«Gostava muito que os filhos e os netos dos idosos que aqui vivem pensassem em restaurar as casas e fazer alguma coisa como isto. Há muita gente daqui a viver em Lisboa ou no estrangeiro e era bom que pudessem voltar», diz-nos Filipe Pimenta. É certo, ninguém devia nunca era de ali ter que sair. Aquele bocado de reino maravilhoso (Torga que nos perdoe a usurpação) é o lugar onde o sol bate primeiro em Ponte de Lima. E só desce à vila depois de estarem dados os bons dias ao Cerquido.

 

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