Descobrir o paraíso de campo e praia no sudoeste de Portugal

No cimo de um monte, com muito Alentejo à vista, há um refúgio campestre que se autointitula de paraíso. De onde é preciso força de vontade para sair à descoberta de uma linha costeira que se sabe lindíssima. Portanto, damos um empurrãozinho: Um roteiro de praias para quem pensa com o estômago. Com partida e chegada no paraíso.

Barranco do Inferno. Na beira da estrada que vem de São Teotónio, corridos uns cinco quilómetros, surge esta placa de letras negras sobre fundo branco, é difícil não reparar nela, de tão sugestivo o nome. Refere-se a um lugar no sopé do monte, meia dúzia de casas e pouco mais. Por baixo dessa placa, uma tabuleta colorida, que, apesar de apontar na mesma direção, dá uma indicação oposta: Paraíso Escondido.

Inferno e paraíso são vizinhos, afinal, num monte esquecido do Sudoeste alentejano. E se o primeiro fica logo ali, a dois passos, ao longo de um trilho de terra, o Paraíso é preciso merecê-lo. Cruzados os portões, resta ainda uma subida ladeira acima, que em coisa de meio quilómetro vence 60 metros de desnível. Daí que, quando deram com o sítio, Berny Serrão e Glenn Cullen, com esta imensa panorâmica de serra alentejana diante dos olhos, decidiram chamar-lhe «paraíso».

O Paraíso Escondido nasceu como casa de férias do casal, ela portuguesa nascida em Moçambique, ele australiano de ascendência inglesa. Na altura, andavam pelo mundo, viveram em vários sítios, de África do Sul a Londres, de Moscovo a Singapura. Entretanto, cansaram-se, quiseram assentar, e o refúgio de férias virou projeto de vida. Em 2014, abriram as portas da sua casa a que o mundo viesse ter com eles. Começaram com quatro quartos e uma suite na casa principal, de traço alentejano. Entretanto, construíram um segundo edifício, de linhas modernas, embutido na encosta, onde fizeram a sua residência e o spa, bem como duas novas suites que estão em vias de finalização. Novidades já estreadas, também as há: a suite independente Amarula, de inspiração africana, com cama de dossel, ventoinha de teto e um convidativo alpendre para admirar o pôr do sol, e, um pouco afastados da casa, dois bungalows sobre estacas, um rodeado de árvores, com feeling de casa no bosque, o outro destacado da encosta, quase como uma torre de vigia sobre a várzea que se estende a nordeste da propriedade. Em todos eles, o mesmo silêncio. Tal como à sombra do alpendre da casa ou à beira da piscina. Aqui vem-se para encontrar paz.

É normal que não apeteça arredar pé, em especial quando se sabe que este verão a casa estreou também um restaurante (só para hóspedes) de cozinha de autor. Mas Berny é a primeira a encorajar a exploração do território. E tem pronto um guia de bolso, uma folha A4 com os seus restaurantes favoritos dali até ao Cabo de São Vicente.

Mergulhos e petiscada

O mar fica a 12 quilómetros em linha reta. Por linhas tortas, num raio de 15 a 30 quilómetros tem-se uma dúzia de praias à disposição, metade delas com bandeira azul. E todas, sem exceção, bonitas de se admirar. Pergunta armadilhada: há prazer maior do que um mergulho de mar quando o calor aperta? Claro que sim. O prazer de saber que, logo de seguida, sem necessidade de mudar de roupa ou sequer de tirar o sal do corpo, há petiscada à espera. Portanto, ninguém levará a mal que na escolha da praia pese o fator estômago.

Quem se faz à estrada rumo a Odeceixe, por exemplo, pode saber que vai encontrar um areal estreito e longo, propenso à formação de poças que fazem as delícias das crianças, no colo de um vale em U, entre penhascos de postal e a ribeira de Seixe a desaguar ali, dando a possibilidade de banhos em águas de temperos diferentes. Mas fará o caminho com outro ânimo sabendo também que, à volta, tem na aldeia o conforto da Taberna do Gabão. Nesta casa de paredes brancas e faixa azul, pratica-se cozinha de confluência, entre pratos de matriz alentejana, a matéria-prima da costa trabalhada sem grandes artifícios além da grelha, e especialidades que juntam os dois mundos, entre elas arroz de tamboril e feijoada de búzios.

A Zambujeira do Mar é outro desses paraísos – este muito pouco escondido – onde se pode conjugar mergulhos e petiscadas sem demora nem formalismos. O Barca Tranquitanas é um dos notáveis, para quem vem com o sentido no peixe fresco. Fica fora da aldeia, na Entrada das Barcas. Em não havendo vontade de pegar no carro, basta seguir a rua pedonal até ao fim, para encontrar uma petiscaria de espírito mais contemporâneo. No Vicentino, mandam os hambúrgueres, cervejas artesanais, mas também os «frutos» do Atlântico, trabalhados em técnicas importadas. Além de um tártaro de peixe do dia, servem de exemplo o tataki de sarrajão, o cebiche de mexilhão, o carpaccio de polvo.

Último mergulho

Há vários pretextos válidos para uma passagem por Milfontes: a parelha de praias que guardam a foz do Mira, os passeios de barco que dão a descobrir todo um outro Alentejo rio acima, a própria vila, agradável de se passear. Mas nenhum, porventura, tão mobilizador como a Tasca do Celso. De tão incontornável já praticamente não constitui segredo, daí que seja boa altura para alargar a base de apostas. Sem risco de qualquer espécie, toma-se antes lugar numa das mesas da esplanada do Tasco do Largo e regala-se o estômago com um desfile de petiscos preparados com mão certeira por Maria de Lurdes Ferreira: amêijoas à Bulhão Pato, polvo à Largo (à galega), carapaus alimados, caracóis, tudo coisas que rimam com o verão e com partilha. Mas os «egoístas» estão também acautelados, com uma boa lista de pratos mais compostos.

Caso a vista para o mar seja fator determinante na escolha de mesa, então o melhor é rumar ao Porto das Barcas, um pequeno desvio, imediatamente compensado mal se sai do carro. Fica no cimo da falésia, sobre o porto de pesca que lhe dá o nome, com vistas desafogadas sobre o Atlântico – e várias espreguiçadeiras perfiladas, como lugares de camarote para o espetáculo que o pôr do sol ali dá diariamente. À mesa, sem surpresa, serve-se o mar, pratos tradicionais com toques autorais (sem elaborações excessivas) e alguns de cozinha internacional. Um expositor à entrada exibe a safra do dia e a lista dos «especiais», que pode muito bem incluir uma rica raia alhada a não perder de vista. Na lista dos fixos, gambas à Brás, polvo na frigideira com batata-doce, arroz de limão com robalo e amêijoas, e uma considerável ementa de entradinhas de mar e terra. E, sublinhe-se, uma boa carta de vinhos, com o Alentejo em primeiro plano.

Depois da caminhada, o descanso

É natural que o almoço peça um passeio digestivo. Para bons males, prazenteiros remédios: junto ao Porto das Barcas passa um dos trilhos da Rota Vicentina, a ligar Milfontes a Almograve. A etapa completa leva 15 quilómetros e o percurso é de respeitável dificuldade, mas o bom das caminhadas é poder-se voltar atrás quando se achar que já chega. A seis quilómetros fica a praia do Malhão e, de caminho, sempre pela orla costeira, há diversas praias selvagens para admirar à distância. O cenário merece que se lhe dedique algumas horas. O problema é quando se começa a pensar no resto de paraíso que aguarda no topo de um monte, a cinco quilómetros de São Teotónio. E aí, há que fazer escolhas.

Por vezes, ganha a zona de conforto. Os tratamentos de spa de massagem tailandesa e ayurveda indiana. A espreguiçadeira à beira da piscina com vista para as serras em redor. Os sofás do alpendre, ótimos para dar bom uso ao silêncio com um livro por companhia – sabendo-se de antemão que todas as tardes Berny e Glenn têm um bolo caseiro a sair do forno. E o restaurante da casa, experiência que apetece repetir todos os dias, um projeto com a assinatura do chef Pedro Mendes (do Maria Pia, em Cascais, e da Quinta do Quetzal, na Vidigueira), assegurado no dia-a-dia por dois promissores cozinheiros, Rodrigo Bonacho e Nuno Marcão.

«Cozinha de mercado, relacionada com o local mas sem ser necessariamente cozinha alentejana», traduz Pedro Mendes, sublinhando que se privilegia o abastecimento num raio de 50 quilómetros. «Aqui temos de tudo.» No mercado de Aljezur, servem-se de peixe, mas também de frutas, de legumes, de ervas aromáticas. É uma viagem que Nuno e Rodrigo fazem diariamente e, querendo, o hóspede mais curioso acerca daquilo que terá no prato nessa noite pode acompanhá-los.

Na ida ao mercado, trazem uma raia, que dará um muito estival escabeche. Um robalo, depois levado ao forno com algas, coentros e hortelã-pimenta e servido num prato cheio de ligações à terra – cebola chapeada, beterraba, pimento e cogumelos enoki salteados, tudo isto comprado nessa mesma manhã. E ervilhas, hortelã, manjericão, que alimentam uma sopa irresistível servida de amuse-bouche. Menu impresso não existe. Há um receituário criado por Pedro – e com algumas receitas de Berny, cozinheira de mão-cheia – que os anfitriões vão selecionando em função do perfil de hóspedes que têm reserva para essa noite. O preço por tudo isto é fixo: 35 euros por pessoa (vinhos à parte). Um preço em conta, se notarmos que há uma cozinha quase à nossa inteira disposição, feita de pratos de autor e num espírito muito boutique, focado em bons produtos, comprados a preço justo e trabalhados com uma atenção personalizada. E isto, para um amante de boa mesa, o que é senão o paraíso?

 

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