O barlavento algarvio é um roteiro para todo o ano

Albufeira começa a soltar amarras do turismo de sol e praia e é um lugar a visitar durante todo o ano, com lugares para passear entre os sons da natureza e, claro, espaços para apreciar a gastronomia em todas as estações. Apanhemos então estes ventos que continuam a soprar para sul.

Ao caminhar pelo passadiço de madeira com quase um quilómetro, na Lagoa dos Salgados, ouve-se o sibilar do vento entre os juncos e observam-se os caniços debruçados sobre o espelho de água. Não muito longe, recorta-se a silhueta de um pisco-de-peito-azul, de uma pernilonga ou de um garçote. Ver flamingos-rosados também é provável, porque eles são outra das muitas espécies que se avistam durante o outono e inverno precisamente nesta zona húmida rodeada de pastagens e campos agrícolas.

É uma lagoa separada do mar por um cordão de dunas, a poucos passos dos campos de golfe e dos hotéis. A zona está incluída na lista nacional de Zonas Importantes para Aves e é apontada como um dos melhores locais do Algarve para a prática de birdwatching, pelo que são muitos os que a procuram de máquina e binóculos em punho, durante todo o ano. Do outro lado das dunas estende-se o areal da Praia dos Salgados, sempre boa para banhos, assim o sol de outono convide a ficar. E basta percorrer cem metros sobre outro passadiço para ir a banhos – também de água salgada – numa das piscinas do resort VidaMar.

A piscina oval (com 74 metros de comprimento e 25 de largura) está ladeada por centenas de frondosas palmeiras de um verde luxuriante. Ao lado, outras duas, mais pequenas e aquecidas, proporcionam bem-estar às famílias. E enquanto os pais bebem um cocktail e comem um petisco no Sunset Restaurant & Bar, os filhos podem brincar no clube infantil. Não admira os elogios que os hóspedes têm feito à piscina, neste hotel de 260 quartos, o único da zona com vista direta para o mar e o único cinco estrelas da Herdade dos Salgados. Os serviços integram um spa, vários bares e quatro restaurantes empenhados em utilizar produtos locais na confeção dos pratos, seja uma piza do Mamma Mia, uma combinação de sushi do AJI Oriental Flavours ou o sumo de laranja fresco servido no pequeno-almoço do Ocean Buffet.

 

Peixe no prato

Quem quiser sair para almoçar, pode fazê-lo a dez minutos dali (viagem de carro) num lugar onde o pescado é escolhido no mercado municipal de Albufeira por José Encarnação, com 68 anos e sempre a mesma energia a receber os clientes no restaurante do Clube de Pesca e Náutica Desportiva. O conceito é, aliás, semelhante ao do mercado, com a possibilidade de se escolher o peixe que se vai comer num balcão de pedra. Enquanto o prato não chega, impõem-se escolher o marisco. «Temos santola, sapateira, percebes, amêijoas, lapas… A oferta varia consoante a época do defeso», explica Sónia Pescada, filha de José. Certo é que os clientes, nacionais e estrangeiros encaminhados pelos hotéis, se for preciso até fazem fila para comer no restaurante, aberto há 22 anos quando aquela sala servia apenas sócios do clube e pescadores de Albufeira.

A pesca continua a ser uma das atividades económicas mais importantes do concelho e representa ainda hoje uma fonte de sustento para centenas de famílias albufeirenses. A partir do Bairro dos Pescadores, pode seguir-se a pé em direção ao centro histórico e aí admirar-se as casas brancas e ruas estreitas que relembram a herança árabe do concelho – patente no seu nome Albufeira. Foram também os árabes os responsáveis por uma era de prosperidade baseada na agricultura e no comércio com o Norte de África, de que até hoje resistiram partes das muralhas de defesa reconstruídas na época e um arco que permitia transpor a rua pelos telhados. Bem conservadas pelo tempo, surgem também quatro igrejas do século XVIII, a Ermida de Nossa Senhora da Orada, como objeto de devoção dos pescadores, e uma icónica torre do relógio.

 

Cocktails na falésia

Por estas ruas, já não é só durante a época alta que circulam turistas europeus. A sazonalidade do turismo, muito orientada para a época de verão, tem vindo a atenuar-se, refere Joana Cortez, à porta do seu bar Sal Rosa: «Toda a gente quer vir aqui um dia». Por isso, mantém a casa aberta durante todo o ano, muito graças ao sucesso de um «conceito vintage que ainda não existia nos bares de Albufeira», explica a empresária de 30 anos, com nove de experiência na área. Assim que conseguiu aquele espaço sobre a falésia da Praia do Peneco, concretizou o sonho de abrir o seu próprio bar, com o apoio do irmão Tiago.

Chama-se Sal pela proximidade do mar; Rosa, em homenagem à avó Rosa Maria que todos os dias torra as amêndoas com que a neta serve o Rosa Algarvia. Este cocktail – feito com xarope de tangerina, lima, bitter de laranja, gin, clara de ovo, laranja desidratada e rosa seca em cima – é um dos dez da autoria de Joana, que só utiliza ingredientes frescos e métodos artesanais na preparação. Além dos clássicos, serve vinho a copo e tapas de queijos e conservas para trincar, sempre com música e o horizonte azul em pano de fundo.

Nesta história, há coincidências a contar. Manuel Melo, o avô, foi quem transmitiu à neta Joana a veia de empresária, ou não tivesse sido ele o fundador de uma das primeiras e mais conhecidas tabernas de Albufeira, dando sustento a várias pessoas. Uma delas foi Fernando Antunes, hoje proprietário da Churrasqueira Beirã, em Areias de São João. Está no Algarve desde 1966, tinha 12 anos. «Vim para o Algarve com os meus pais porque na altura havia um senhor que tinha uma taberna em frente à Praia dos Pescadores e precisavam de uma pessoa para o balcão», relata. Volvidos anos a trabalhar em restaurantes, abriu por fim o seu próprio, em 1985. «Temos clientes com 30 anos de casa, já vêm os filhos e com os netos».

A todos dá a provar um pouco da cozinha típica de várias regiões, com uma carta de comida de tacho e de conforto em que as cataplanas de carne e peixe se destacam ao lado de lulinhas fritas à algarvia, cozido à portuguesa, peixe grelhado e arroz de marisco. Para acompanhar há sempre uma sugestão de vinho algarvio, mas a garrafeira é profusa, com outras 150 entradas de tintos e brancos. A cereja no topo do bolo – leiam-se sobremesas caseiras deliciosas – pertence à mulher de Fernando, Lucília Feitas, que recebe os clientes sempre com um sorriso.

 

Do barrocal à montanha

Maria Hortense também sorri quando vê gente oriunda de toda a parte chegar à aldeia de Tenoca. «Quando os jipes vêm, às 10 horas estou aqui», conta, de face rosada, enquanto manuseia com a ponta dos dedos parte daquilo que será mais um cesto feito com folha de palma. A venda do seu pequeno artesanato e as conversas com os turistas são «uma distração» para enfrentar a quietude dos dias. E é Pedro Oliveira, proprietário e gestor da Extremo Ambiente, que faz questão de lhe dizer bom dia, levando até ali os turistas em jipes todo-o-terreno com capacidade para oito pessoas ou em motas Polaris 4×4.

Há 22 anos que organiza safaris, gerindo uma das poucas empresas a operar todo o ano. Por isso, conhece cada trilho e aldeia como a palma da mão, e tem orgulho em revelar o «mundo completamente diferente» que existe no barrocal algarvio para lá da fronteira da EN125. As amendoeiras, alfarrobeiras, figueiras, oliveiras e laranjais povoam grande parte do percurso. Durante a viagem, conhecem-se pessoas como João Rafael, que se dedica à produção de medronho e aguardente biológica na zona de Alte, concelho de Loulé. À frente da pequena destilaria estendem-se 100 hectares de medronhal, onde a apanha é feita entre outubro e novembro. Por ano, produz até 2040 litros de aguardente, que os visitantes podem provar e comprar no local, durante o safari.

Assim que se sobe aos cumes da Serra do Caldeirão, é tempo de sentir a escala da paisagem à nossa volta. Vale sempre a pena regressar a sul, seja qual for a altura do ano. Do litoral à serra, do urbano ao rural, com a certeza de encontrar gente acolhedora lá dentro.

 

Carnes maturadas em Olhos de Água

Na hora de escolher o nome do seu novo restaurante, André Reis, 35 anos, não teve dúvidas: Manzo, «carne» em italiano, por inspiração do Frateli que os pais gerem ali bem perto. Há um Rib-Eye e um lombo de 300 gramas, mas a estrela da carta é o T-bone de 1kg, cujos 45 dias de maturação em San Sebastian, Espanha, garantem um «paladar capaz de agradar à maioria». Vinhos de edição limitada e cocktails disponíveis num bar mais recatado fazem deste um ponto de passagem obrigatório.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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