10 aldeias da Beira Interior recheadas de histórias

Uma viagem pelas Aldeias Históricas de Portugal, na Beira Interior, tanto pode demorar um fim de semana como uma semana inteira. Para muitos que por lá passaram, está a durar uma vida. Visitámos dez das doze aldeias que integram esta rede no interior do país.

Foram cenário de lutas entre cristãos e muçulmanos, assistiram à fundação da nacionalidade e a batalhas contra castelhanos e foram polos de refúgio de comunidades judaicas. Hoje, as doze Aldeias Históricas de Portugal são pontos de referências e se algumas se assumiram como grandes pontos turísticos da Beira Interior, outras ainda lutam contra a desertificação. Todas elas, porém, merecem visita.

A rede das Aldeias Históricas, projeto pioneiro de desenvolvimento local e de interesse patrimonial, foi criada em 1995 para agrupar aldeias (algumas delas com estatuto de cidade ou de vila, mas todas com sentimento de aldeia) que contribuíram para a fundação de Portugal. Exceto Piódão, que, com Belmonte, só entrou na rede em 2003, todas elas têm muralhas e castelos.

Mas não são só as pedras do passado que contam histórias. São as pessoas que as preservam, que lutam contra o esquecimento, que souberam ganhar o seu espaço e as que não resistiram ao seu fascínio e lá decidiram construir vida.

Aldeias em mudança

Da medieval aldeia de MARIALVA avista-se o rio Côa e o início da Meseta Ibérica. A sua localização, tal como as de outras aldeias, ajudou-lhe a definir a história. Foi povoada por lusitanos, romanos, muçulmanos, e, no século XII, integrou a Coroa portuguesa. Hoje, a sua zona histórica está despovoada mas não vazia. Há 17 anos, Paulo Romão, empresário têxtil, e Carmen, sua mulher, reconstruíram uma ruína na aldeia, ao lado do castelo. Foi o primeiro núcleo das Casas do Côro, projeto de turismo rural que conta hoje com treze casas, restaurante, spa, piscina e vinhas. «O que me inspirou foram as pedras», conta Paulo, cuja única ligação à aldeia era o facto de a família da mulher ser de lá. Em 1996, os pais dela quiseram construir casa. O casal foi lá passar uns dias e acabou por se apaixonar pelo sítio.

Foi durante a renovação das Aldeias Históricas, nos anos 1990, que Ana Berliner e António Monteiro, dois biólogos da capital, se instalaram em CASTELO RODRIGO, uma das aldeias mais visitadas.

«No início, era só um passatempo para mudar de vida aos fins de semana. Não sabíamos que ia modificar as nossas vidas», admite. Hoje, é uma entrega diária que se sente nos pormenores. Sejam os canteiros de flores bem tratados, o cuidado com que foi pensado o spa ou a camioneta de caixa aberta que leva os hóspedes para festas sunset no meio da vinhas, ao som de uma canção original de Kátia Guerreiro, o Fado da camionete. A fadista não é a única hóspede famosa que acabou por contribuir para o projeto. O produtor de vinhos Dirk Niepoort instigou o casal a comprar vinhas – já vão em 14 hectares – e hoje produz o premiado Casas do Côro.

Foi durante a renovação das Aldeias Históricas, nos anos 1990, que Ana Berliner e António Monteiro, dois biólogos da capital, se instalaram em CASTELO RODRIGO, uma das aldeias mais visitadas. Recuperaram uma casa e lá instalaram a Casa da Cisterna, de turismo rural. Na varanda que sai da sala de estar, que também funciona como espaço de refeições, vê-se a elegante piscina, a vila e, ao fundo, o vale do Côa. Surpreende o ambiente caseiro bem como a simplicidade e o bom gosto dos quartos, com entradas de luz inesperadas e objetos únicos.

 

Negócios originais

Originalidade e simplicidade são os traços que unem os projetos e os negócios que dão vida à terra, como é o caso da loja Sabores do Castelo. As amêndoas e a tarte especial foram concebidas pelo francês André Carnet, antigo engenheiro agrónomo, de 78 anos, que ali decidiu passar a sua reforma. Há várias décadas que passava férias em Portugal, porque vinha visitar, lembra, uma «menina portuguesa», natural de lá, até que casou com ela. Castelo Rodrigo, há 30 anos, ainda estava ainda em ruínas, o que não os impediu de comprar uma casa. Quando se reformou, quis abrir lá um negócio. A ideia para as amêndoas surgiu-lhe de uma memória de infância: «Em Paris, logo após a II Guerra, um homem vestido de fraque conduzia uma pequena carrinha até à Praça da Ópera, onde fazia praliné». André nunca o tinha feito, mas decidiu aprender o ofício. A amêndoa é da região, o que faz diferença nas onze variedades disponíveis. Flor de sal, canela, mel, lavanda, sésamo, picante e gengibre são algumas delas. Castelo Rodrigo tem mais surpresas: um café dedicado à cerveja artesanal.

«A crise de 2008 foi dura. Em 2012, as cervejas artesanais vieram dar fôlego ao negócio», explica.

«No início foi difícil. As pessoas desconfiam das novidades», diz Helena Sousa, que com o marido João gere o Cantinho Café. «Quando o João leu uma reportagem sobre a Sovina foi como se se abrisse um novo mundo», conta. Mas a história começa antes. Nascida em Moçambique, Helena chegou a Castelo Rodrigo, terra da sua família, ainda criança. Conheceu o João – rapaz de Almada que ambicionava viver numa aldeia – em Vilamoura, onde trabalhavam. Quando tiveram o filho decidiram fazer malas e rumar para a Beira, tomando conta do café da família de Helena. «A crise de 2008 foi dura. Em 2012, as cervejas artesanais vieram dar fôlego ao negócio», explica. Hoje, têm mais de cinquenta referências e estão integrados no mundo das artesanais. Muitos cervejeiros passam por lá e um deles até fez uma cerveja em parceria com o Cantinho Café. João Oliveira, da portuense Colossus, produziu uma blonde ale Castelo Rodrigo, só disponível lá. Para relembrar a terra onde nasceu, vende também as moçambicanas Laurentina e 2M.

 

Hidromel, marafonas e lendas

Também em MONSANTO, que ostenta o título de Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, entregue em 1938, estão a entrar ideias novas. No centro da pequena vila, onde a arquitetura é uma simbiose entre rochas e casas, encontra-se a Taberna Lusitana. Depois de um passeio a pé pelas ruas encavalitadas, sabe bem entrar na taberna e ser recebido com um fresco hidromel de pressão ou cerveja artesanal da casa. O projeto é de Helena Agnelo e João Roque, de Sacavém, que se fartaram de trabalhos precários e decidiram cumprir o sonho de viver neste sossego. «Gostamos desta rusticidade», afirma João. Apaixonaram-se pelo lugar ao mesmo tempo que se estavam a apaixonar um pelo outro. «O nosso primeiro fim de semana juntos foi aqui», lembram. Agora, já se consideram da terra.

Durante o verão, Monsanto enche-se de turistas e pessoas que regressam à terra para passar férias. Como é o caso de D. Graça, que vive em Queluz, e que se entretém a construir marafonas. Ligadas a rituais ancestrais de fertilidade, estas tradicionais bonecas de trapos sem olhos, boca, nariz nem ouvidos são motivo para várias lendas. Uma delas conta a construção de marafonas gigantes que foram postas a dançar durante um cerco ao castelo, o que acabou por afastar as tropas invasoras. Esta é uma das muitas lendas que fazem parte do património imaterial de todas as aldeias da rede.

Pegar nesse património e transformá-lo em produto com impacto nas comunidades foi o que fez Ana Almeida, professora universitária na Covilhã, com o projeto Histórias Criativas, na «aldeia» de CASTELO NOVO, serra da Gardunha. Há uma década que Ana andava à procura de casa com o marido nas aldeias históricas. Optaram pela «vida, a alegria, a vivacidade e a cor da Gardunha». Ali abriu uma loja de mobiliário com objetos de artistas e designers portugueses e começou a fazer bonecos que são personagens das lendas. A ideia surgiu quando ouviu falar do projeto das Histórias Criativas, da Associação das Aldeias Históricas de Portugal, cujo objetivo era pôr as crianças a escrever as suas versões das lendas. As histórias serviram de inspiração para a criação de doze personagens. Em parceria com a Associação Aldeias Históricas, Ana Almeida abriu um ateliê na aldeia onde se pode aprender a fazer os bonecos e conhecer melhor a sua história. Os bonecos estão à venda aí e nos postos de turismo das aldeias históricas. Uma boa recordação par levar na bagagem.

 

À espera da mudança

Se a criação da rede serviu para reabilitar o património arquitetónico das aldeias e promover o seu desenvolvimento, nem todas andam à mesma «velocidade». A falta de habitantes e de investimento contribuem para isso. Mesmo assim, não faltam motivos para visitar aldeias como Sortelha ou Castelo Mendo. Porque quem lá está tem muitas histórias para contar e gosta de receber. É o caso de Arminda Esteves, que na praça da antiga escola primária da medieval SORTELHA se senta a fazer cestinhos em bracejo, ajudada pelo marido Manuel Fernandes. Ali está metade dos habitantes da aldeia. Número muito distante das 78 famílias que a habitavam no século XVI. «A minha mãe já fazia bracejo, mas eu nunca quis. Só comecei quando o meu marido adoeceu», conta Arminda, que gosta de falar com quem passa enquanto vai entrelaçando esta planta silvestre que cresce na região. «Eu não gramava nada disto, mas agora descarrego no bracejo quando estou stressada», diz. O que lhe sai das mãos – cestas, caixas, chapéus – é para vender aos turistas que passam na loja que abriu na antiga escola primária.

Impregnada de uma certa aura enigmática – com berrões proto-históricos à porta e gárgulas, que saem das paredes de alguns edifícios, o castelo e a igreja em ruínas – Castelo Mendo deixa uma impressão forte por quem lá passa.

Muitos turistas passam também por CASTELO MENDO, aldeia onde se realizou a primeira feira franca – 1229 – em que vendedores e compradores estavam isentos de imposto de portagem e não corriam risco de serem presos por dívidas antigas. A aldeia não tem mais do que 50 habitantes. O exemplo do sucesso de outras aldeias dá ânimo a quem quer ver a terra dinamizada. Maria Teresa é uma dessas pessoas. Gosta de ver os turistas chegar e, à porta do número 8 da Rua Direita, oferece-lhes um copo de ginjinha que a própria faz.

Numa aldeia onde falta muita coisa – as mercearias chegam uma ou duas vezes por semana – sabe bem ouvir histórias. Como a de Rosa Ramos que, aos 40 anos, tem esperança de ver a aldeia onde sempre viveu desenvolver-se. «Para mim, todas estas pedras têm história. Aquela», diz apontando para um penedo junto ao castelo em ruínas, «era o meu cavalo quando era criança». Impregnada de uma certa aura enigmática – com berrões proto-históricos à porta e gárgulas, que saem das paredes de alguns edifícios, o castelo e a igreja em ruínas – Castelo Mendo deixa uma impressão forte por quem lá passa. Mas isso parece não ser o suficiente. Os habitantes querem lá um posto de turismo, querem chamar gente, porque, como diz Rosa, «sozinhos e isolados não somos ninguém». Não são vontades difíceis de cumprir. Basta vontade.

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