Ponha aqui o seu pezinho, devagar, devagarinho se vai à Ribeira Grande» cantava a música popular açoriana referindo a segunda cidade de São Miguel. Se no passado se ia devagarinho até à Ribeira Grande, hoje chega-se num instante. A partir de Ponta Delgada, na costa sul, são cerca de 15 quilómetros em autoestrada. Uns 15 minutos de carro.
Antes de chegar ao centro, ainda perto da entrada na cidade, há que procurar pelo Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas. Com um ano e meio, este espaço cultural marcou definitivamente a ilha. Independentemente da exposição que esteja no momento – e agora está uma mostra internacional de trabalhos académicos -, o Arquipélago vale sobretudo pela intervenção arquitetónica dos edifícios, tanto os já existentes como os que foram construídos.
Uns fizeram parte de uma fábrica de álcool e depois de tabaco, outros nasceram de raiz para compor o conjunto do centro de artes. Mas, apesar de se distinguirem uns dos outros, há evidente harmonia entre o antigo e o novo. À chegada pode parecer confuso seguir um roteiro, mas faz parte da experiência uma certa desorientação. Passar de uns edifícios para outros, que variam entre o negro da pedra vulcânica e o branco da tinta ainda pouco martirizada pelo tempo, e de umas salas para as outras, de várias larguras e alturas. Pode parecer injusto, mas a força e a beleza do espaço é tal que as exposições parecem mero pretexto para a visita.
Seja como for, o Arquipélago deve fazer parte dos planos do viajante de São Miguel. E imprescindível quando se vai à Ribeira Grande, já que além da beleza arquitetónica tem uma loja e livraria, oficinas, centro de exposições, centro documental e centro de produção audiovisual.
Saindo do Arquipélago, é virar à esquerda em direção ao centro, pela Rua de São Francisco, que mais à frente muda de nome para Rua de Nossa Senhora da Conceição. Dez minutos a pé são suficientes para chegar à parte central da cidade. Aí encontram-se alguns edifícios importantes, como duas belas igrejas, mas também prédios residenciais com comércio no piso térreo, de beleza simples como é comum nos Açores.
Ribeira Grande não é exceção a esta arquitetura portuguesa que se encontra espalhada tanto no continente como um pouco por todo o mundo que foi português, mas aqui ganhou caraterísticas próprias com a pedra escura e vulcânica.
Já não da época das primeiras casas da povoação original, que seriam de finais do século xv, mas dos últimos dois ou três séculos, até porque algumas catástrofes assolaram a antiga vila, elevada a cidade em 1981.
Mesmo antes de nos aparecer a ribeira que dá nome à cidade, com a sua bela queda de água por baixo da ponte e o elegante edifício da câmara municipal, está o Teatro Ribeira grandense, de 1933, de dimensões generosas para uma localidade com cerca de 13 mil habitantes.
Entre o centro de artes e a câmara são uns 15 minutos, que podem ser mais demorados caso se pare para entrar nas igrejas de São Francisco e de Nossa Senhora da Conceição. A demora pode ter ainda uma outra razão: entrar num dos vários cafés e tasquinhas e ficar à conversa com as pessoas da terra, boa gente com boas histórias. A simpatia é uma garantia.
Caso aperte o apetite e, pedindo-se a alguém uma recomendação de restaurante, a resposta será invariavelmente uma: a Associação Agrícola de São Miguel, em Rabo de Peixe. É aqui que se come o bife mais famoso da ilha. Não tem muitos temperos, e nem precisa, pois a carne é daquelas que se desfazem de tão macia que é. Atenção que as doses são grandes, tal como o espaço, que é amplo. Decoração entre o branco, as madeiras que forram parte das paredes e os candeeiros de verga. Moderno e agradável. É aconselhável reservar ou ir antes da hora tradicional das refeições.
No município de Ribeira Grande há vários pontos que parecem saídos de uma história de encantar. Aliás, é assim um pouco por toda a ilha e por todo o arquipélago. Mas há um famoso que não pode deixar de ser mencionado, e um outro ilustre desconhecido para forasteiros. O primeiro é a Lagoa do Fogo. À medida que se vai subindo a montanha avistamos o mar da costa norte que fica para trás. E lá ao fundo são bem visíveis Ribeira Grande e Rabo de Peixe. E a paisagem aos poucos muda… Um pouco como o tempo nestas ilhas, que varia rapidamente de sol para chuva para a seguir voltar o sol.
Chegados ao miradouro de estrada para admirar a Lagoa do Fogo, é impossível não ficar emocionado. Parece que se chegou a um local sagrado. Até falar alto ali parece mal. Contempla-se e respeita-se tal beleza. É a segunda maior lagoa da ilha e daquela cratera vulcânica feita lagoa houve uma última erupção em 1563.
Voltando para trás na estrada que leva à lagoa, há que procurar pela cascata do Salto do Cabrito. O caminho a determinada altura começa a descer e passa a terra batida. Mas o cenário que se vai encontrar depois compensa o esforço. Trata-se de uma cascata de 40 metros, que no fundo são duas, uma mais interior, menos visível, e uma mais exterior que cai num pequeno lago de águas cristalinas. Se a temperatura e o clima deixarem, há que tomar um banho.
Caso contrário, ficar uns largos minutos a olhar para aquelas íngremes rochas e ouvir a água a cair é suficiente para dar a visita como muito bem empregada. Sem nunca sair do território de Ribeira Grande, uma última paragem. Ou melhor, a base de exploração, uma das propostas de alojamento mais recentes de São Miguel: o Santa Barbara Lodge. Inaugurado neste verão, pouco mais de um ano após Rodrigo Herédia e João Reis terem aberto o «primogénito» Santa Barbara Eco-Beach Resort. Os conceitos são diferentes, distam 12 quilómetros entre si, mas complementam-se.
O Lodge faz-se de pequenos apartamentos, com kitchenette, para casais, famílias ou amigos estarem mais independentes do que estariam num hotel ou num resort mais convencional. Os quartos/apartamentos estão muito do perto do mar e parte deles tem vista para esse azul imenso. O branco, as madeiras e alguns apontamentos de cor proporcionam o ambiente de paz em comunhão com a natureza. Afinal não é isso que tão bem define os Açores?
Visitar
Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas
Rua Adolfo Coutinho de Medeiros. Tel.: 296470130.
Web: arquipelagocentrodeartes.azores.gov.pt.
Das 10h00 às 18h00. Encerra à segunda.
Lagoa do Fogo. GPS: 37.7657, -25.4953
Comer
Restaurante Associação Agrícola de São Miguel
Campo de Santana, Recinto da Feira, Rabo de Peixe Tel.: 296490001
Web: aasm-cua.com.ptDas 12h00 às 23h00.
Não encerra.Preço médio: 20 euros
Restaurante Areais
Santa Barbara Eco-Beach ResortEstrada Regional 1, 1º Morro de Baixo
Tel.: 296470360 santabarbaraazores.comDas 12h30 às 14h30 e as 19h30 às 22h30. Não encerra.
Preço médio: 35 euros
Ficar
Santa Barbara Lodge
Canada da Tapada, 14, São Vicente FerreiraTel.: 296470360 Web: facebook.com/santabarbaraecobeach
Quartos duplos a partir de 80 euros por noite