Passeio e descanso nos encantos do sotavento algarvio

Passeio e descanso nos encantos do sotavento algarvio
Dos passeios de barco amigos do ambiente na Ria Formosa ao peixe fresco que se põe na mesa o ano todo, ser vizinha de uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal traz claras vantagens. O bom proveito que Tavira faz do que está em seu redor também se traduz em noites tranquilas no meio de laranjais a perder de vista.

Um conhecido provérbio deixa um claro conselho na luta contra as adversidades: «quando a vida te dá limões, faz limonada». No caso de Pedro Estrela, o futuro vestia-se em tons de laranja. Com apenas 36 anos, gere há seis o agroturismo Quinta dos Perfumes, inserido na herdade que o seu avô adquiriu na década de 1970, onde já funcionou, em tempos, uma fábrica de perfumes.

«Um dia, lembro-me de estar parado no trânsito infernal no eixo Norte-Sul e de ter gritado com alguém que seguia num carro. Percebi que tinha que mudar de vida», recorda o proprietário, que trocou a capital pelo sotavento algarvio. É aqui que se encontra este pedaço de sossego, em Conceição de Tavira e a 10 minutos a pé da praia de Cabanas de Tavira.

Um dos quartos da Quinta dos Perfumes. (Fotografias: Paulo Spranger/GI)

A piscina exterior fica rodeada de laranjais.

Ao todo, há nove quartos duplos e seis estúdios com capacidade para duas a cinco pessoas e cozinha equipada. A vista da cama de alguns dos quartos é direta para o mar e os estúdios, a dois passos da piscina exterior, têm terraço com mesa e cadeiras. A decoração foi renovada há pouco tempo, e está agora mais moderna e simples, em tons claros. As noites tranquilas são passadas no meio de um laranjal com 36 hectares. Destas mais de 20 mil árvores são apanhadas à mão e vendidas a fornecedores cerca de mil toneladas por ano. «Produzimos quatro espécies de laranjas, o que significa que as temos durante todo o ano», conta o dono. Nos últimos tempos, investiu numa horta biológica junto ao jardim onde estão camas almofadadas para usufruir dos dias soalheiros. Aqui, cultiva morango, melancia, menta, pepino, beterraba ou pimento, usados nos pequenos-almoços e refeições rápidas que confecionam.

Durante o dia, para além das inevitáveis brincadeiras com as cadelas da casa, a Poppy e a Margarida, podem alugar-se bicicletas a custo zero para um passeio pelo laranjal ou ir até ao centro de Tavira num tuk-tuk, por entre as salinas da Ria Formosa e com paragem em pontos de interesse como o Museu do Atum. Ou não se tivesse esta região do Algarve um forte passado ligado à pesca de atum-rabilho – no pico da atividade, em 1881, pescaram-se 43 mil unidades.

A zona de descanso da Quinta dos Perfumes, com camas de dia almofadadas e junto a um sossegado jardim.

Pedro e Telma são os responsáveis por agroturismo junto a Cabanas de Tavira.

 

Comer e beber em duas casas com história
Os clientes vão entrando e Miguel Mártires trata-os pelo nome. A fidelização do público é inegável ao jantar de um dia normal de semana na pequena vila de Cabanas de Tavira: a sala está quase cheia. É assim há mais de quatro décadas, desde que abriu portas o restaurante familiar Ideal, uma referência na zona. «Já lá vai tanto tempo que nem sei bem de onde vem o nome. Provavelmente, porque era o local ideal. Ou a altura ideal para o abrir», explica Miguel, entre risos.

Da cozinha liderada pelos pais, Fernando e Lurdes, sai algum do peixe mais fresco desta vila piscatória e arredores, com recusa ao uso de espécies em viveiro. Os grelhados imperam neste espaço com 70 lugares, da corvina ao robalo, barriga de atum, peixe-agulha e sargo, espécies fáceis de encontrar na costa, mas importa também provar os pastéis de polvo, uma espécie de pataniscas, com arroz de tomate. Antes disso, vale a pena provar a Sopa do Mar, com peixe e marisco e servida dentro de um pão inteiro, cozido em Tavira, e o lingueirão à Bulhão Pato. Para saborear na sala interior ou no pátio, a olhar para um dos vários quadros que nos levam até às praias desta parte do sotavento algarvio.

Peixe e marisco local compõem a carta do restaurante Ideal, em Cabanas de Tavira.

Cenários que Marcelino Nascimento, tavirense, conhece como a palma da mão. Tinha 12 anos quando começou a trabalhar na mercearia onde funciona hoje a Garrafeira Soares, a mais recente faceta desta casa centenária. No início, as frutas, as especiarias, a banha e o café dominavam o negócio. Marcelino, 65 anos, ainda se recorda do primeiro dia de trabalho. «Estava muito tímido, andava aqui meio perdido», ri-se. Começou como aprendiz de balcão e é hoje coordenador de loja nesta garrafeira nascida há seis anos. Entre as mais de quatro mil referências que ocupam as prateleiras estão vinhos, licorosos e destilados de todas as partes do mundo. Os preços das garrafas não poderiam ser mais democráticos, oscilando entre os dois euros e os dois mil euros.

Há quatro mil referências na garrafeira Soares, no centro de Tavira, com preços democráticos e para todas as carteiras.

 

Tradição e inovação nas duas cozinhas do mesmo chef
«Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo». O nome da casa é explícito o suficiente, mas a frase escrita numa das paredes e os retratos que ilustram uma outra não deixam margem para dúvidas. No Álvaro de Campos Restaurante, nascido há cinco anos, homenageia-se o heterónimo de Fernando Pessoa nascido em Tavira, mas também o catálogo tradicional da cozinha portuguesa. O poeta dos tachos é Luís Brito, o chef que acumula atualmente três restaurantes na cidade. Aqui, está há dois meses.

Polvo salteado com ameijoas e batata-doce, no Álvaro de Campos Restaurante.

O chef Luís Brito assume a liderança de três cozinhas em Tavira.

Nesta casa situada na movimentada Rua da Liberdade, a poucos metros da Ponte Velha e da margem do Rio Gilão, vale a pena começar por um pastel de bacalhau e um croquete de pato, ambos fofos. O primeiro acompanha com arroz de feijão e o segundo com salada de quinoa e aiolli. Polvo salteado com ameijoas e batata-doce, bacalhau lascado com ovo, couve, batata e azeite de coentros e o lombinho de robalo com arroz de berbigão são três dos pratos que importam provar.

O A Ver Tavira está a menos de cinco minutos a pé dali, mas neste restaurante, as propostas de Luís Brito são diferentes, mais ligada à cozinha contemporânea, criativa e de autor. Abriu há dois anos, junto ao castelo tavirense e tem uma varanda onde apetece estar a noite inteira, com vista panorâmica para o centro. Ouve-se jazz entre garfadas, em ambiente intimista, e espreita-se a grande garrafeira situada a um dos cantos, com mais de 180 referências nacionais.

O jogo de texturas impera nas vieiras com puré de ervilhas, crocante de tapioca, rodelas de maçã verde, cogumelos Portobello, chouriço e espuma de alvarinho. Já no atum-rabilho selado com puré de batata e molho de yuzu, oscila-se entre o doce e o cítrico. A laranja do Algarve que acompanha o peito de pato com couve, milho frito e abóbora traduz a aposta no produto local, que é, de resto, o ingrediente-chave que une as duas cozinhas distintas de Luís Brito. Tinha 11 anos quando veio viver para Tavira e desde aí já passou por cozinhas no Brasil, Espanha e Angola. Tem 52 anos, 32 ligados à restauração. «Esta é a minha bandeira», explica o chef sobre este A Ver Tavira, onde tem mais margem para arriscar. Começou nesta área por acaso, gostou e foi ficando. «A primeira feijoada que fiz em casa, para cinco amigos, ninguém a comeu», ri-se o chef. Décadas depois, custa a acreditar.

A varanda do A Ver Tavira – não fosse o nome já ter denunciado – tem vista para o centro tavirense.

Neste A Ver Tavira, as propostas de Luís Brito seguem as linhas de uma cozinha de autor, mais sofisticada, criativa e cuidada.

 

Passeios de barco amigos do ambiente
Há um ano que se navega pela Ria Formosa com a sustentabilidade ambiental em mente. Há várias empresas a fazer passeios por esta que é uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal, mas a Solar Moves é a primeira e única em Tavira no uso de energia solar para os seus barcos, que levam até 12 pessoas. Os percursos rondam as duas horas de duração, com várias combinações de percursos e paragens entre o espetro onde operam – entre Santa Luzia e Cabanas de Tavira.

Uma sugestão atrativa para quem gosta de estimar a Terra onde vivemos. «Estes barcos não produzem ruído, nem vibrações na água, nem polui», conta Rudi Silva, biólogo marinho, antes de avisar o avistamento de um grupo de flamingos ali ao lado. A bordo do passeio, aliás, há sempre alguém a explicar a biodiversidade da ria, alertando também para as suas regras de navegação e desafios ambientais que enfrenta. A observação de aves, mergulhos no mar e festas de aniversário a bordo são outras atividades da Solar Moves, que dá as boas vindas a todos com frutos secos e vinho a bordo, sem qualquer custo.

A Solar Moves nasceu há cerca de um ano e proporciona viagens de barco amigas do ambiente pela Ria Formosa.

Todos os barcos movem-se a energia solar, em percursos de duas horas pela ria, sem ruído.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

Leia também:

Tavira: um roteiro para viver ao sabor da maré
Algarve: roteiro pela cidade pombalina onde o atum é rei
Uma «fazenda» para dormir, comer e mergulhar no Algarve




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend