Alice Teixeira: «Os urbanos têm de se ligar ao mundo rural»

No Instituto Politécnico de Beja cultivam-se ideias com futuro que juntam a agricultura tradicional dos pequenos produtores à tecnologia, na Adelaide.farm – uma plataforma que transforma hortas virtuais em produtos reais para a mesa de todos, como conta uma das fundadoras do novo projeto da MyFarm.

Como se passa da horta na terra para a plataforma Adelaide.farm?
Com muitos testes, pilotos e muito trabalho (contínuo) de programação, conversas com produtores e consumidores e essencialmente muita paixão por estar a alterar a forma como nos relacionamos com o que comemos e com quem produz.

Que mais-valia traz o digital a um negócio tradicional?
Essencialmente abre um mercado à pequena produção/agricultura sustentável, que não consegue entrar nos mercados da grande distribuição, sendo sufocada com preços impostos por intermediários. Abre igualmente uma nova forma de consumir produtos de qualidade, onde os consumidores conhecem o que consomem, mas são também protagonistas na manutenção da pequena agricultura, e no parar do despovoamento rural.

O futuro dos pequenos produtores passa pela tecnologia?
A evolução dos mercados assim o dita. Temos de ir ao encontro dos consumidores e dar resposta às suas preocupações, mas ao mesmo tempo dar-lhes informações que também desconhecem e que lhes permitam valorizar o papel fundamental que a pequena agricultura desempenha no mundo rural. Um exemplo: a pequena agricultura é mais produtiva, por área, do que a agricultura intensiva.

De que região do país chegam mais pedidos?
Da Grande Lisboa e no geral dos grandes centros urbanos. É aí que também detetamos uma outra necessidade: a das pessoas urbanas de se ligarem ao mundo rural.

O que é uma horta virtual?
Através da horta virtual, os consumidores podem definir o que querem «plantar/semear» durante a época, desenhando a sua horta com os produtos que o agricultor disponibiliza, conhecendo sempre as intervenções que são feitas pelo agricultor, e recebendo regularmente os produtos da mesma. Trata-se de produção a pedido. E o consumidor pode visitar a sua horta real.

Todos podem ser clientes, mas quem pode ser produtor?
Quem pratica uma agricultura ambientalmente responsável, que tem paixão pela terra e pelos produtos que ela dá.

A flexibilidade – nas entregas, nos produtos, nos preços – é o segredo do negócio?
O «segredo» são os preços justos, definidos pelos produtores (e abaixo dos encontrados nas grandes superfícies), a qualidade dos produtos e a certeza de que se está a comprar mais do que produtos de qualidade: estamos a adquirir dinâmicas sociais, ambientais e económicas no meio rural que se encontra mesmo ao nosso lado e que necessita de ser valorizado.
O maior segredo, talvez, é que a empresa responsável pela plataforma Adelaide.Farm, a Myfarm.com, é uma empresa social. Uma empresa que maximiza o impacto social e não o lucro. Infelizmente, em Portugal não existe ainda legislação que enquadre este tipo de empresas, e este é um segredo penoso.

HORTAS VIRTUAIS
A plataforma Adelaide.farm foi lançada em final de 2016 pela MyFarm, uma empresa da incubadora do Instituto Politécnico de Beja, e está a usar as novas tecnologias para juntar o mundo rural dos pequenos produtores e o meio urbano dos consumidores.




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