Um roteiro pela cidade minhota que viu nascer a nação

Guimarães é uma cidade de muralhas cujos clássicos históricos continuam em boa forma, mas há algumas novidades que honram o passado com uma frescura contemporânea.

Corria o ano de 2001 quando o centro histórico da cidade vimaranense foi considerado Património Mundial da UNESCO. O turismo disparou, assim como a abertura de novos espaços na Cidade-Berço. Volvidos quinze anos, surge um hotel que conjuga a tradição e a modernidade que caraterizam a cidade, um lugar de hambúrgueres, uma mercearia moderna e ainda um espaço para se interpretar Guimarães.

Fomos descobri- los sempre acompanhados da simpatia dos vimaranenses com que nos cruzamos.
Não falamos em simpatia por acaso – foi essa qualidade que emanava do povo que levou a rainha D.Maria II a dar a Guimarães o título de cidade, depois da sua visita, em 1852, impressionada pela afável receção. É provável que o voltasse a fazer caso fosse hoje almoçar ao Dan’s Finger Food & Drinks, um restaurante de hambúrgueres que abriu no ano passado, por iniciativa de Daniel, o cozinheiro que dá nome ao espaço, e mais quatro sócios – e que já se tornou um pequeno fenómeno.

As especialidades são procurados por portugueses e «espanhóis que vêm de propósito cá», conta Hugo Remédio, o gerente.

A popularidade deve-se aos hambúrgueres de carne de picanha, ao pão de receita exclusiva e à decoração cosmopolita e industrial que remete para Londres ou Barcelona. Das entradas às sobremesas, é um percurso saboroso que pode depois ser digerido durante uma visitas à Casa da Memória, na Avenida Conde Margaride, que fica a uns curtos cinco minutos a pé do D à Can’s.

É outra das novidades de Guimarães, que funciona, desde abril passado, no espaço da antiga fábrica de
plásticos Pátria, da qual restam os dois edifícios de pedra. Ali conta-se a história da cidade e suas gentes em duas naves, sendo conveniente começar pela que se chama Território, para um melhor entendimento. A exposição está organizada por ordem cronológica, a partir de uma digitalização da mais antiga planta de Guimarães – a original está guardada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro –, filmes antigos da Cinemateca Portuguesa sobre a cidade e ainda outros recentes, produzidos no âmbito da Capital Europeia da Cultura (cargo que Guimarães desempenhou em 2012).

Já na nave Comunidade, a visita começa com a leitura de expressões idiomáticas típicas de Guimarães – entre elas, vai ficar a saber que se alguém lhe disser «Vou ali afiar a espada», está apenas a dizer que volta já… ou então a fugir de um assunto. Segue-se uma descoberta de todo o universo vimaranense, desde a doçaria ao futebol, passando pela indústria e pela cultura.

No final, a exposição Flor na Pele descreve o ciclo do linho, através de obras de arte para ouvir, tocar e ver dos artistas Sara Franqueira, Carlos Lobo e Filipe Silva. E destas memórias para o presente desta cidade vibrante também vai um curto passeio a pé, de dez minutos, parando, no caminho, na Plataforma das Artes e da Criatividade, visitando a sua exposição permanente com obras de José
Guimarães e outras mostras.

O Largo do Toural, emblema da cidade, marca a chegada ao centro, onde não faltam opções para petiscar. Destacamos duas, uma já antiga e outra bem recente. Na Casa Costinhas, na Rua de Santa Maria, é onde se encontram as afamadas tortas de Guimarães – doce conventual de massa folhada recheado de chila, ovos e amêndoa –, feitas segundo a receita original das freiras do Convento de Santa Clara.

O nome, reza a lenda, tem que ver com comportamento pouco «monástico» das monjas que as faziam – e dizia-se que os doces vinham das «tortas do mosteiro»…

Não tem antiguidade, apenas meio ano, mas muitos produtos regionais saem de uma das novas casas do centro histórico – a mercearia fina Almofariz, um projeto de Ana Vieira, situado na Rua Dr. António Mota Prego, que vende fumeiro, vinhos do Douro, cerveja artesanal e azeite, entre outras delícias. Apesar de se assumir mercearia, pode-se abancar nas mesas do fundo e pedir vinho a copo, alheira grelhada, tábuas de queijos, presunto e salpicão, junto a uma pedra que está tapada por um vidro no chão – presume-se que faça parte da muralha.

Bem perto dali, estão a reclamar uma passagem do visitante a Praça de Santiago e o Largo da Oliveira, ambos com traça medieval, casas coloridas e muitas esplanadas. À noite, os dois lugares são quase paragem obrigatória para notívagos. Felizmente, em Guimarães, tudo é perto e o descanso fica a uns escassos dez minutos a pé, num hotel que também ainda cheira a novo.

O Santa Luzia Art Hotel inaugurou em dezembro depois de ter sido, durante muitos anos, uma casa senhorial, descreve Nuno Fernandes, administrador e neto de Domingos Mendes Fernandes, o homem que adquiriu a casa instalada numa rua estreita, considerada antigamente uma das principais entradas
da cidade. As memórias da vida ali ainda estão presentes nos cinco sócios, todos familiares, que fizeram questão de que a «ideia de família continuasse a perdurar» na unidade hoteleira, explica Nuno.

Conceito refletido no uso da madeira, que dá um ambiente acolhedor, na intacta fachada oitocentista e no atendimento afável por parte dos funcionários. Ao casario foi adicionada uma ala nova, o que permitiu construir 99 quartos, um spa, piscina exterior no topo e um restaurante com uma carta muito recomendável, que pede para se aliar à pernoita uma reserva para jantar. E este é, em sintonia com a história de Guimarães, um lugar de onde uma rainha sairia satisfeita.

Onde Ficar

Santa Luzia Art Hotel
Rua Francisco Agra, 100
Tel.: 253071800
Web: santaluziaarthotel.com
Preço: quarto duplo a partir de 75 euros por noite (inclui pequeno-almoço)

Onde Comer

Dan’s Finger Food & Drinks
Avenida São Gonçalo, 171
Web: facebook.com/dansfingerfood
Preço médio: 8 euros

Casa Costinhas
Rua de Santa Maria, 68
Tel.: 253516248
Web: facebook.com/casa.costinhas
Preço: 1,80 euros cada torta

Onde Comprar

Almofariz
Rua Doutor António Mota Prego, 13
Tel.: 919453913
De terça a sábado das 10h30 às 19h00

O que ver

Casa da Memória
Avenida Conde Margaride
Tel.: 253421282
Entrada: 3 euros




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