São Pedro do Sul: um roteiro de ar puro, termas e natureza

Serras, aldeias com casas de xisto, gado nos montes, gente que amanha a terra, cabrito e vitela no prato, vouginhas para adoçar a boca. Nesta mão-cheia de motivos para conhecer uma parte de Lafões, cabe também uma estância termal na margem do Vouga.

Estamos mesmo no alto dos 1052 metros da serra de São Macário. São Pedro do Sul também é isto: sossego, ar fresco que purifica pulmões, paisagens que preenchem corações, vales, cabras e ovelhas, aldeias isoladas. Terra de vitela e cabrito, de compotas e doces. Terra que alimenta o gado e que aos sábados de manhã vende os seus produtos no mercado de agricultura familiar e tradicional nos claustros da câmara municipal.

Lá em baixo, a cidade com igrejas e palácios. Um pouco mais a norte, uma das mais importantes estâncias termais da península Ibérica, outrora visitada por reis e rainhas, na margem do rio Vouga. O coração de Lafões bate aos nossos pés. Desce-se São Macário e começa a descoberta.

Esta terra orgulha-se da sua ruralidade, mostra-a nos folhetos disponíveis no posto de turismo. Fujaco, Covas do Monte, Covas do Rio são algumas das aldeias que guardam traços genuínos. Como a aldeia da Pena, que parece um postal encantado com casas de xisto aninhadas num vale. Moram ali seis pessoas. Ana e Alfredo Brito, as duas filhas nascidas ali, e um casal de reformados. Há 17 anos, Ana e Alfredo deixaram Lisboa, ligaram-se às raízes dos avós dela. Têm vacas, porcos, galinhas, cabras, ovelhas, cavalos. «É um mini zoo», brinca Ana. Fazem mel de urze, licores de pêssego e castanhas, enchidos quando matam os animais. «E ainda temos a agricultura, semeamos couves, batatas, tomates, tudo o que a terra dá.» Gerem a ADEGA TÍPICA DA PENA, com esplanada e fogão para grelhar carne cá fora.

Animais nos pastos e terras férteis são geralmente sinónimos de boa gastronomia. São Pedro do Sul confirma a regra

Lá dentro, um menu caseiro com chouriças, salpicão, presunto, cabrito, entremeada e costeletas de porco. Carnes grelhadas acompanhadas com arroz de feijão. Uma adega decorada com velharias, chocalhos e utensílios do amanho da terra, notas estrangeiras deixadas pelos clientes. Ana e Alfredo não se arrependem da decisão de viver numa aldeia isolada, a 22 quilómetros de curvas e contracurvas da cidade. Tomam conta do gado, servem quem procura boa comida, esperam que as filhas regressem da escola.

Animais nos pastos e terras férteis são geralmente sinónimos de boa gastronomia. São Pedro do Sul confirma a regra. Filomena Simões tomou conta do restaurante O CAMPONÊS há 12 anos. Comida típica numa casa de pedra. É dia de rojões com grelos, de aletria acabada de fazer, de fatia de bolo com calda de laranja, de pera bêbeda. Aos domingos e feriados, há vitela e bacalhau à Lafões, por encomenda sai cabidela de galinha ou galo, cabrito de água assado no forno, açorda de bacalhau. Arroz de vinha-d’alhos, cabrito grelhado, polvo à lagareiro ou a entrada mista com chouriça, morcela, farinheira e broa frita estão na carta. «A comida é boa e o ambiente calmo», diz Filomena que não descura a qualidade do serviço e gosta de ir ao monte colher flores para decorar o seu restaurante.

Mosteiros, igrejas, palácios, casas senhoriais. O património é um livro aberto. O Palácio de Reriz, do século XVIII, de estilo barroco, convertido em paço real, e que albergou a rainha D. Amélia, pode ser visto por dentro. As casas antigas não passam despercebidas e algumas foram reaproveitadas. O ESPAÇO GRÉMIO é um bar instalado no primeiro piso de um solar antigo. Três salas, esplanada encaixada em claustros de pedra, pinturas antigas intocáveis nos tetos de madeira e uma grande lareira. «É uma lareira que não serve apenas para decorar», garante Maria Marques, informando que lenha não falta sempre que faz frio. Discos de vinil transformados em relógios afixados nas paredes, sofás antigos e modernos, bancos de madeira, salão de jogos. O bar tem concertos, festas temáticas. É ponto de encontro para os miúdos do liceu e não tem dias de folga.

Nas margens do Vouga
O comboio já não passa por ali e a antiga estação tornou-se a casa da Associação de Artesãos de São Pedro do Sul, que serve refeições, faz doces, trabalhos manuais de tecelagem, artesanato com vários materiais. A ciclovia que passa à porta deverá entrar em funcionamento ainda este ano. Maria de Fátima, Maria de Lurdes e Natália Osório estão de serviço e explicam como nascem os doces típicos da região e que são vendidos na ESTAÇÃO DE ARTES E SABORES. Os caçoilinhos levam massa de bolacha e são recheados com calda de açúcar, ovos e feijão. O pão-de-ló regional leva açúcar, farinha, ovos, calda de açúcar e cobertura de glacê. A delícia de amêndoa tem massa folhada, doce de ovos e, claro, amêndoa. E as compotas são feitas com frutas da região. Há mais um doce típico que não se faz em mais lado algum. Na LOJINHA DOS DOCES, a dois passos das termas, há vouguinhas, feitos ali bem perto por mãos que percebem da arte. Carlos Pinto revela os ingredientes: amêndoa, açúcar, ovos, farinha e massa folhada. Na montra, há também broinhas de cenoura, queijadinhas de limão, especialidades da casa. Carlos lembra por que vale a pena visitar esta terra: «Pelas paisagens, pela gastronomia, pela natureza, pelas termas.»

Há mais de dois mil anos que as águas termais desta zona não passam despercebidas. Segredos medicinais concentrados numa água sulfurosa que emerge à superfície a 68 graus

As termas, sim as termas. São Pedro do Sul também é isto. As TERMAS espreguiçam-se à beira do Vouga. Os tratamentos abrangem terapêuticas ligadas às doenças reumáticas, das vias respiratórias, pelas áreas da medicina física e de reabilitação. Há mais de dois mil anos que as águas termais desta zona não passam despercebidas. Segredos medicinais concentrados numa água sulfurosa, mineralizada, que emerge à superfície a 68 graus. É água doce com reação alcalina. Uma composição única. D. Afonso Henriques, D. Manuel I e a rainha D. Amélia estiveram nestas termas e deixaram rasto em nomes de balneários.

Do outro lado do rio, está o BON D’JAU, como quem diz «bom dia» em crioulo. É um bar, café, salão de chá, com lareira e janelas que desaparecem quando faz calor. Tem imensas máquinas de café antigas, manuais, num móvel à entrada. Mesa de bilhar ao centro, cadeiras de madeira e sofás vermelhos à volta, grafonola antiga no balcão, grãos de café em tampos de mesa, música ambiente, e uma soberba paisagem a toda a volta. Além do serviço típico cafetaria, há café à Bon d’Jau, com um monte de natas, e uma esplanada com plantas no teto à disposição.

São Pedro do Sul pode não ser uma evasão óbvia. Mas tem diversidade suficiente para percursos que podem começar na serra e acabar na cidade, começar numa aldeia isolada e acabar com o corpo mergulhado numa piscina termal. Motivos não faltam quando a alma pede descanso e os pulmões reclamam outros ares para retemperar energias. Sem retoques.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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